domingo, 20 de dezembro de 2009

Escola para crianças aos 6 anos causa polêmica entre os pais


Às vésperas de se tornar obrigatório, o Ensino Fundamental de nove anos - que exige o ingresso do aluno na escola aos 6 anos - causa polêmica entre os pais. Muitos acreditam que a mudança de um ciclo para outro é brusca, e a criança não tem maturidade para assimilar conteúdos e responsabilidade. Outros avaliam a oportunidade como positiva.
Só 8% das cidades brasileiras - onde se incluem São Bernardo e Rio Grande da Serra - ainda não expandiram o Ensino Fundamental para nove anos, segundo Censo da Educação Escolar. Estes devem garantir a matrícula das crianças nesta faixa etária (6 anos completos até 31 de março) no próximo ano letivo, como determina a Lei 11.274, de 2006.
Para a auxiliar de Educação Infantil Maria Carolina Fernandes Junta, 30 anos, moradora de São Caetano, as mães ficam inseguras no momento de matricular os filhos no Ensino Fundamental. "Aos 6 anos, a criança está na fase de brincar. É estranho para elas ter de ficar sentadas, não poder circular ou conversar com os amiguinhos." Apesar da difícil adaptação, Maria Carolina conta que foi positivo, pois o filho Ian, que faz 7 anos em fevereiro, já sabe ler e escrever.
A professora Natalia Reys Rodolfo, 35, de Diadema, aprova a nova modalidade. O filho Henrique, 7, vai para o 2º ano. "Toda mudança no início assusta, mas tudo depende da concepção pedagógica. Em Diadema, o ritmo da criança é respeitado, pois há um olhar individual."
A publicitária Silvia Dib, 45, revela que o filho Pedro, 6, tornou-se agressivo devido à pressão psicológica na escola. "Ele se sentia frustrado quando não conseguia ler. As crianças nesta idade não têm maturidade." A publicitária diz que muitos colegas do filho tiveram de apelar à terapia por causa da dificuldade de aprender. "Não sou contra ensinar a ler, mas é preciso adaptar o método para o aluno de 6 anos, não de 7. Tem de haver o equilíbrio, pois há quebra na rotina escolar já que a pré-escola é só brincadeira."
A opinião da publicitária é compartilhada pelo professor de Educação da USP (Universidade de São Paulo) Vitor Henrique Paro. Ele é favorável que as crianças entrem na escola mais cedo, desde que haja projeto pedagógico adequado. "Os professores e a própria escola acham que a instituição não é lugar para brincadeira. Isso é uma barbaridade. O desenvolvimento da criança precisa ser respeitado. Aplicar provas nesta faixa etária, por exemplo, é um atraso. Não é necessária uma prova para identificar se o aluno está aprendendo ou não."

LIÇÃO DE CASA - O maior desafio do País na visão do presidente da Câmara de Educação Básica do CNE (Conselho Nacional de Educação), Cesar Callegari, é adequar a proposta pedagógica dos primeiros anos. "A maioria dos municípios ainda não fez a lição de casa. A criança tem de ter o direito de se desenvolver brincando com procedimentos lúdicos. Elas não vão para a escola somente para serem alfabetizadas e, sim, para se relacionar com outras crianças e ter várias outras opções. Os pais têm de compreender isso e os educadores têm de fazer com que as famílias entendam."

Prefeituras garantem estar preparadas para novos alunos

A nova modalidade de ensino vai exigir que São Bernardo absorva aproximadamente 5.700 alunos no 1º ano do Ensino Fundamental. Em nota, a Prefeitura afirmou que estará preparada para recebê-los e que não haverá necessidade de contratar professores. Todo o primeiro ciclo do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) de São Bernardo é municipalizado.
Em Rio Grande da Serra, a previsão é de 590 crianças ingressem no 1º ano. A Prefeitura respondeu que o atendimento será garantido com apoio da rede estadual de ensino.
Nos demais municípios do Grande ABC, o novo modelo já foi adotado. Em São Caetano, todas as crianças de 6 anos estão na rede desde 2006. Para 2010, a expectativa é receber outras 1.100.
Santo André também se adequou entre os anos de 2006 e 2007. Recentemente, a administração iniciou processo de municipalização para criar novas salas, já que cerca de 5.380 crianças devem ser matriculadas no 1º ano.
Diadema também partiu para a municipalização de algumas unidades estaduais para abrigar a nova demanda. Em 2010, serão 4.700 novos alunos.
Ribeirão Pires respondeu que as escolas municipais foram adequadas neste ano, mas não informou qual a previsão de matrículas para 2010.
Em Mauá, a ampliação ocorreu em 2007, porém a maior parte da rede ainda é responsabilidade do Estado.

MEC vai permitir que criança de 5 anos vá para o Fundamental

O ministro da Educação, Fernando Haddad, deve homologar nos próximos dias resolução do CNE (Conselho Nacional de Educação) que permitirá que crianças de 5 anos sejam matriculadas no Ensino Fundamental. No entanto, segundo a resolução prestes a ser aprovada, a exceção ocorrerá somente se tais alunos tiverem cursado pelo menos dois anos de pré-escola.
O objetivo do conselho é evitar que se repitam casos de crianças que estão sendo obrigadas pelas escolas a cursar pela segunda vez o último ano na Educação Infantil por não terem 6 anos completos para entrar no Ensino Fundamental.
A resolução em vigor vai resolver a vida de pelo menos 197 crianças de Rio Grande da Serra que ficarão "retidas" no mesmo nível que estudaram neste ano, sob o argumento de que não terão atingido a idade exigida para a progressão. O problema está na mira do Ministério Público local, que ingressou com um inquérito civil pedindo explicações à Secretaria municipal da Educação e ao governo do Estado.
Para o comerciante Marco Aurélio Paixão Santos, 34 anos, ver a filha Isabela, 5, no Ensino Fundamental é questão de honra. "Ela está totalmente apta. É esperta, inteligente e não tem porque ser ‘reprovada''. Minha filha não vai fazer o pré novamente de jeito nenhum." Pela atual legislação, Isabela tem de se manter na pré-escola, pois completa 6 anos apenas no dia 23 de junho.
Também comerciante, João Quirino Cabral Junior, 36, revela que o filho Guilherme Enrico, 4, será o único "retido" do jardim 1 da Emeb (Escola Municipal de Educação Básica) Central de Rio Grande da Serra porque completa 5 anos somente no segundo semestre de 2010 (dia 2 de julho). "Não dá para fechar as portas para a criança que aprendeu. Ele é dedicado e já sabe escrever algumas coisas. Tenho medo que isto prejudique seu desenvolvimento e aprendizado." (com AE)

Vanessa Fajardo
Do Diário do Grande ABC
Foto: Luís Rodrigo Cerqueira de Souza - Olhares.com

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