Em São Paulo, novas denúncias surgiram depois da prisão do médico. Mais 14 mulheres prestaram depoimento à policia se dizendo vítimas dele.
Roger Abdelmassih está preso, denunciado pelo estupro de pacientes. O especialista em reprodução humana, um dos mais famosos do país, levava uma vida de alto luxo e, agora, vai passar o primeiro Natal na cadeia.
Um fim de ano atrás das grades, sem luxo e cheio de dívidas. Roger Abdelmassih está preso em uma delegacia na Zona Norte de São Paulo. O comando da Polícia Civil diz que o médico, de 66 anos, deixou o Presídio de Tremembé, no interior, para ficar mais perto do Fórum, na capital, onde acontecem as audiências.
A carceragem, onde ele está, tem dez detentos com curso superior, que dividem cinco celas. Em cada uma, há duas camas de concreto, chuveiro e vaso sanitário. O Fantástico apurou que a festa de Natal dos detentos será nesta segunda-feira (21). Os parentes vão se encontrar com os presos. Podem entregar presentes e levar pratos para montar uma ceia e entregar presentes. Já nos dias 24 e 25 de dezembro, não haverá nada especial. Policiais dizem que o cardápio deve ser igual ao de sempre: arroz, feijão, carne, salada e sobremesa.
Em liberdade, Roger Abdelmassih levava uma vida de luxo. Tinha muitos clientes e costumava cobrar, em média, R$ 30 mil por um pacote de três tentativas de gravidez. Com a prisão dele, em agosto passado, a fonte de riquezas secou.
A clínica funciona há sete anos em um dos endereços mais valorizados de São Paulo. O aluguel custa mais de R$ 70 mil e está atrasado há três meses.
Em Avaré, interior de São Paulo, o médico tinha um patrimônio estimado em R$ 18 milhões. Perdeu quase tudo. O repórter Maurício Ferraz foi até lá.
Roger Abdelmassih era um dos principais fazendeiros da região. Segundo o cartório da cidade, das 17 propriedades rurais em nome da empresa agropecuária da qual ele é sócio, duas foram vendidas e 14, repassadas para grandes bancos. É que a empresa do médico pegou dinheiro emprestado e não pagou as dívidas. O Fantástico foi à procura dessas terras.
A fazenda para onde Roger Abdelmassih ia com frequência foi vendida no inicio do mês. A cinco quilômetros da propriedade, fica a maior área tomada por um dos bancos.
A propriedade vale cerca de R$ 12 milhões. A fazenda está abandonada há oito meses. São 600 mil pés de laranja, todos tomados pela mata.
Andando pela região, chega-se a um pequeno sítio. É a única área na região de Avaré que ainda pertence à agropecuária de que Roger Abdelmassih é sócio. Dos R$ 18 milhões em terras do médico, sobrou só uma propriedade avaliada em R$ 500 mil. Pouco, para quem já foi conhecido como um dos grandes produtores de laranja do interior de São Paulo.
Na capital, novas denúncias surgiram depois da prisão de Roger Abdelmassih. Mais 14 mulheres prestaram depoimento à policia se dizendo vítimas dele. E, além das acusações de abusos sexuais, o médico responde agora por crimes contra os direitos do consumidor.
A Justiça determinou no começo do mês o bloqueio das contas bancárias e de bens que estão em nome de Abdelmassih e do filho dele, o médico Vicente, que é sócio do pai. Os bens da clínica também foram bloqueados. O patrimônio que não pode ser vendido inclui nove tratores e três carros importados. Os veículos de luxo valem cerca de R$ 700 mil. Só um custaria R$ 500 mil, se fosse novo.
"O objetivo principal é garantir que não haverá dilapidação do patrimônio, para que os consumidores vitimados possam ser ressarcidos por danos morais e patrimoniais sofridos", explica o promotor de Justiça Roberto Senise Lisboa.
"Eu tinha uma grande preocupação em ter uma criança que não tivesse saúde", conta uma das pacientes que tinha 44 anos que foi ouvida pela Promotoria do Consumidor. Segundo ela, o médico deu garantias. "Ele me tranquilizou absolutamente, dizendo que crianças com síndromes eram detectadas nos embriões antes da implantação".
A criança nasceu com a Síndrome de Edwards, que provoca deformidades físicas e mentais. O menino ficou 86 dias na UTI. "O que mais me abalou foi quando eu soube que ele ia morrer", conta o pai do bebê.
O contrato assinado com a clínica diz que os clientes isentam os médicos de responsabilidade pelas características físicas e mentais de crianças nascidas com o tratamento. "Você vai realizar seu sonho, você assina e não lê nada", diz a mãe do bebê.
"Isso revela que a clínica estava atuando de forma absolutamente contraria à lei", conclui o promotor de Justiça Roberto Senise Lisboa.
O Ministério Público também apura outra denúncia contra o médico Roger Abdelmassih envolvendo manipulação genética. Há 15 anos, um casal que mora no Espírito Santo fez um tratamento na clínica do médico. A mulher engravidou e teve gêmeos. O homem garante que não autorizou o uso de outro sêmen, mas, geneticamente, os filhos não são dele.
Um exame de DNA revelou que os gêmeos, hoje adolescentes, são filhos biológicos apenas da mulher. Segundo o exame, eles são filhos de pai desconhecido.
Por telefone, o Fantástico procurou cinco vezes pelo filho de Roger Abdelmassih, que trabalha na clínica e também teve os bens bloqueados. Ele não foi localizado nem retornou as ligações. O Fantástico falou ainda quatro vezes com os dois advogados do médico, que preferiram não gravar entrevista. Até agora, foram negados os pedidos da defesa para que Roger Abdelmassih respondesse o processo em liberdade.
Preso e sem direito a regalias, doutor Roger Abdelmassih vai ter certamente o pior fim de ano da vida, mas não só ele.
"O dinheiro a gente recupera trabalhando. Mas os danos que ele causou na nossa vida nunca mais vamos ter retorno", lamenta a mãe.
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Fantástico desvenda a fortuna do médico Roger Abdelmassih
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caso abdelmassih
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