domingo, 20 de dezembro de 2009

Levantamento mostra incidência de doenças sexualmente transmissíveis no DF


As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são as campeãs de notificação no Distrito Federal. No primeiro semestre deste ano, foram 1.977 novos casos. Quase metade deles, 890, são de pacientes infectados pelo vírus HPV, que provoca verrugas e está associado ao câncer do colo do útero. A cervicite (irritação no colo do útero) fica em segundo lugar, com 307 notificações.
O Boletim Epidemiológico de DST/Aids divulgado pela Secretaria de Saúde mostra a distribuição de casos entre as regiões administrativas do DF. As ocorrências de sífilis, por exemplo, estão concentradas em Ceilândia, Planaltina e Samambaia. O HPV foi amplamente diagnosticado em Ceilândia, Taguatinga, Planaltina e São Sebastião. Jovens de 20 a 29 anos estão mais suscetíveis às DSTs: 861 pacientes nessa faixa etária receberam o diagnóstico neste ano. Os números são preliminares, relativos às notificações recebidas pela secretaria de janeiro a 25 de junho.
As estatísticas não significam que certas cidades tenham maior incidência de DST. Nem todos os diagnósticos entram no banco de dados da secretaria. “Alguns lugares notificam mais que outros. Temos mais casos de HPV porque a ginecologia tem essa preocupação com a doença”, explicou a chefe da Gerência de DST/Aids da secretaria, a médica Diva Castelo Branco. Segundo ela, os números reais de DST no DF devem ser duas ou três vezes maiores que os dados oficiais. Os índices de regiões com predominância de moradores de classes média e alta também devem ser diferentes dos apontados no levantamento — poucas clínicas particulares notificam a secretaria.
Todos os centros de saúde do DF estão preparados para atender pacientes com suspeita de DST. Caso alguma doença seja detectada, a pessoa é orientada a convidar o parceiro a fazer os exames, que incluem teste de HIV. Os centros distribuem preservativos de graça — são cerca de 100 mil por mês. Ainda assim, o sexo seguro não é unanimidade. “Mudar hábitos é muito difícil. Informação não é igual a conscientização”, reforçou Diva.
Há 11 anos, Josué (nome fictício) percebeu as primeiras bolhas na pele e fez um exame. O resultado apontou a presença de dois invasores: a bactéria causadora da sífilis e o vírus HIV. Josué já desconfiava que poderia ser portador do HIV, mas não havia feito o exame. “Sempre tive pé no chão e sabia que poderia acontecer”, comentou. O tratamento da sífilis foi dolorido. Ele tomou cerca de 30 injeções — no início, eram duas por dia —, mas não pensava em desistir. “Você tem que encarar a doença de frente e fazer o tratamento até o final. Se tomar uma injeção, achar que dói e parar, não adianta”, disse.
Josué vive no Paranoá, onde foram registrados quatro casos da doença até junho deste ano. Em 2008, foram 19 pacientes. São 3,9 moradores infectados para cada 10 mil habitantes, o segundo maior número do ano passado. A incidência de sífilis no Paranoá só ficou atrás da Estrutural, com proporção de 6,8 casos a cada 10 mil moradores. Josué acredita que não se trata de falta de informação da comunidade. “O povo ainda é muito fechado para falar sobre isso e continua se arriscando. Hoje em dia, você só se contamina se quiser”, disse. Para ele, o trabalho de prevenção passa por conversas sinceras no consultório médico e exames periódicos.

Classes vulneráveis
A incidência de DSTs no DF apresenta níveis parecidos em cidades com predominância tanto de classes altas quanto baixas. Um exemplo: até junho deste ano, foram registrados mais casos do vírus HPV na Asa Sul (21) e no Guará (73) do que no Riacho Fundo (2) ou no Varjão (3). “As classes sociais baixas são bem mais vulneráveis, mas o uso de preservativo é uma questão de cultura. Às vezes não é falta de informação, mas falta de cuidado. Na hora da euforia, a pessoa não pensa e não se protege”, explicou a assistente social Magda Maria Cardoso, integrante do grupo Arco-Íris, que oferece oficinas para portadores do vírus HIV.
De janeiro a junho deste ano, 77 novos casos de HIV foram registrados no DF. A maior parte deles está concentrada em Taguatinga e Ceilândia — com 17 e 15 notificações, respectivamente. A Aids faz parte da vida do morador de Ceilândia Lucier, 42 anos, desde 1995. Ele reparou em uma bolha na cintura que provocava ardência na região. O sintoma da herpes levantou suspeita e o aposentado fez um exame de HIV, que confirmou a presença do vírus. “Na época era um tabu, ainda não existia o coquetel. A doença era conhecida, mas eu procurei me informar mais”, lembrou.
Lucier tomou medicamentos para a herpes por um mês e as feridas sumiram. A doença, no entanto, não desaparece. “Quando minha imunidade baixa demais, ela volta”, afirmou. O aposentado recorre ao médico sempre que nota algum sinal da doença. “Tem pessoas que preferem ir à farmácia e comprar o remédio que o balconista passa. Elas têm medo de se expor para o médico. O preconceito também está na pessoa que tem a doença”, comentou.

Elisa Tecles
Fonte: Correio Braziliense

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