De alguém que não possui controle emocional se costuma dizer que é um “desequilibrado”. Mas qual a palavra para designar aqueles cujas posições mudam de acordo com os interesses em jogo? Como chamamos quem é contra a pena de morte, mas acha que em Cuba há razões para ela? Como compreender quem clama contra a impunidade, mas se opõe à punição dos delinquentes do seu grupo social? Bem, talvez sejamos todos desequilibrados no sentido de que estamos “posicionados” – vale dizer: falamos sempre de um lugar de onde vemos as coisas e as interpretamos. Não há um lugar por sobre nossas próprias condições e imaginar a “neutralidade” do sujeito é o mesmo que acreditar no personagem do folclore alemão, o Barão de Münchhausen, que afirmava ter se safado de um banco de areia movediça puxando-se pelos próprios cabelos. Também por isso, é preciso um esforço para um equilíbrio possível; algo que tem a ver com a consistência dos nossos princípios.
Não consigo entender, por exemplo, por que não há uma campanha no Brasil pela entrega do menino Sean ao seu pai americano David Goldman. A mãe do garoto, brasileira, morreu em 2008. Desde então, o pai tenta obter a guarda, com base na Convenção de Haia, mas o padrasto, pessoa rica e influente nos meios jurídicos, tem conseguido barrar o pleito. Agora, absurdamente, se pretende que o garoto, aos nove anos, decida com quem ficar. E se a situação fosse invertida? Se Sean tivesse sido levado aos EUA e estivesse com um padrasto americano? Não estaríamos ao lado do pai brasileiro?
Equilíbrio é matéria escassa na política brasileira. As oposições não conseguem reconhecer fatos positivos ou elogiar iniciativas meritórias tomadas pelos governos; e os governos são incapazes de se desculpar por erros cometidos e de reconhecer a importância de críticas que lhes tenham sido dirigidas pelas oposições. Não compreendo, a propósito, que alguém seja ético apenas acima do Mampituba, ou apenas abaixo dele, nem considero que a política precise ser um jogo de “soma zero”, orientado para a produção de derrotados e vitoriosos.
Ocorre que, quanto mais longe o debate público estiver do conteúdo das propostas em disputa, mais facilmente a política se aproximará de seu oposto: a guerra. Os termos do debate, então, passam a ser aqueles autorizados pelas estratégias do poder e o que construímos equivale ao deserto; um espaço onde nada germina e onde todos os princípios serão castigados. Um de nossos problemas é que quase não há debates sobre políticas públicas no Brasil. Ou tratamos de escândalos, ou de fofocas. Disto vive a maior parte da crônica política que, por decorrência, produz “filósofos” e “juristas” do tipo Merval Pereira e Bóris Casoy (mas isso já é outro assunto). O que eu queria dizer é que é preciso debater políticas públicas e dar mais atenção àqueles políticos que ainda lidam, equilibrada e seriamente, com elas. Eles existem, acreditem, mas é preciso salvá-los, porque estão ameaçados de extinção.
MARCOS ROLIM
Não consigo entender, por exemplo, por que não há uma campanha no Brasil pela entrega do menino Sean ao seu pai americano David Goldman. A mãe do garoto, brasileira, morreu em 2008. Desde então, o pai tenta obter a guarda, com base na Convenção de Haia, mas o padrasto, pessoa rica e influente nos meios jurídicos, tem conseguido barrar o pleito. Agora, absurdamente, se pretende que o garoto, aos nove anos, decida com quem ficar. E se a situação fosse invertida? Se Sean tivesse sido levado aos EUA e estivesse com um padrasto americano? Não estaríamos ao lado do pai brasileiro?
Equilíbrio é matéria escassa na política brasileira. As oposições não conseguem reconhecer fatos positivos ou elogiar iniciativas meritórias tomadas pelos governos; e os governos são incapazes de se desculpar por erros cometidos e de reconhecer a importância de críticas que lhes tenham sido dirigidas pelas oposições. Não compreendo, a propósito, que alguém seja ético apenas acima do Mampituba, ou apenas abaixo dele, nem considero que a política precise ser um jogo de “soma zero”, orientado para a produção de derrotados e vitoriosos.
Ocorre que, quanto mais longe o debate público estiver do conteúdo das propostas em disputa, mais facilmente a política se aproximará de seu oposto: a guerra. Os termos do debate, então, passam a ser aqueles autorizados pelas estratégias do poder e o que construímos equivale ao deserto; um espaço onde nada germina e onde todos os princípios serão castigados. Um de nossos problemas é que quase não há debates sobre políticas públicas no Brasil. Ou tratamos de escândalos, ou de fofocas. Disto vive a maior parte da crônica política que, por decorrência, produz “filósofos” e “juristas” do tipo Merval Pereira e Bóris Casoy (mas isso já é outro assunto). O que eu queria dizer é que é preciso debater políticas públicas e dar mais atenção àqueles políticos que ainda lidam, equilibrada e seriamente, com elas. Eles existem, acreditem, mas é preciso salvá-los, porque estão ameaçados de extinção.
MARCOS ROLIM
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