terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Retratos de um drama: a angustiante busca por desaparecidos


Novo Hamburgo - Darci Tormes e sua esposa estão há mais de cinco anos tentando saber o que aconteceu com a filha Andréia. Ela estava a alguns metros de casa e não foi mais vista. Walkiria Stolarski Oliveira não vê o filho Fernando há quase uma década. Mas espera por um contato dele. E faz cinco meses que familiares procuram desesperadamente notícias do aposentado Osvaldo Aquino de Souza. Todos sumiram sem deixar rastros. Desaparecimentos não são incomuns e, segundo a Polícia, a maior parte deles é solucionada rapidamente. Mas existe uma parcela crescente de casos que permanecem insolúveis, desafiando investigadores e dilacerando famílias.
Se, por um lado, o drama dos familiares de desaparecidos é real, a resposta do poder público – que nem sequer tem estatísticas precisas sobre esses casos – é insuficiente. Não existe no Estado uma delegacia específica para cuidar do assunto. O que está à mão é a de Investigação de Homicídios e Desaparecidos, que, como a maior parte das delegacias gaúchas, enfrenta uma estrutura precária e se vê obrigada a priorizar casos mais recentes. São comuns as queixas dessas famílias ao trabalho da Polícia que, na avaliação delas, trata o problema com descaso.

INVESTIGADORES
Descaso ou falta de estrutura, a verdade é que pessoas simples, como Darci, Walkiria e os parentes do seu Osvaldo, se veem obrigados a pagar detetive particular ou a assumir, eles mesmos, o papel de investigadores. Visitam necrotérios, fazem viagens por conta e risco, andam por lugares perigosos, são obrigados a aturar trotes, e, apesar de tudo, não perdem as esperanças.
Para ajudar essas pessoas, o jornal ABC Domingo apresentou na edição do dia 20 de dezembro, rostos de desaparecidos listados nos sites mantidos pela Secretaria da Segurança gaúcha e o Ministério da Justiça. No caso do Estado, o material é compilado pela Polícia Civil, mas o órgão alerta não ter condições de garantir que os dados estão atualizados. Mais um sintoma da precariedade de estrutura.

Andréia sumiu a duas quadras de sua casa

Na noite de 10 de abril de 2004, Andréia Salete Tormes, de 13 anos, foi aguardada em vão pelos pais. Mais de cinco anos depois, o borracheiro Darci Tormes e sua esposa, a dona de casa Loreni Salete Guimarães, 44, moradores do Loteamento Marisol, em Novo Hamburgo, ainda não conseguiram resolver o mistério. É uma ferida que não se fecha. "Eu não sei se ela está viva, se está sofrendo", exaspera-se Loreni.
Andréia frequentava uma igreja. No dia em que desapareceu, saiu cedo de casa para participar de uma excursão a Porto Alegre. Era sábado e a garota vestia uma calça jeans, blusa preta e calçava chinelos. A excursão foi cancelada, mas Andréia permaneceu com seus amigos fazendo orações. Depois, saiu com uma amiga, "alta e de cabelo preto". De acordo com Loreni, ninguém, no templo, sabia identificar essa suposta amiga. Pelo celular dessa mesma colega, Andréia ligou já à noite avisando aos pais que estava a duas quadras de casa. Foi a última vez que ouviram a voz dela.
Conforme Darci Tormes, houve até um suspeito que, segundo testemunhas, ofereceu carona a Andréia quando ela estava perto de casa. Na época, a 3a Delegacia de Polícia não o teria localizado. Depois disso, as investigações pouco avançaram. Tormes se queixa do trabalho da Polícia. Diz que se ofereceu para dar informações, mas não foi levado a sério. Quase seis anos depois, os pais e os quatro irmãos de Andréia tentam se adaptar a uma ausência inexplicável. A mãe até hoje toma medicamentos contra a depressão. E o pai implora: "Tem gente que sabe alguma coisa. Que fale, que informe...". Ele deixa o telefone: 9273-3159.

SAIBA MAIS
Causas - Por mais incrível que pareça, a maior parte dos casos de desaparecimento não se deve a sequestros ou assassinatos. O titular da Delegacia de Investigação de Homicídios e Desaparecidos, delegado Bolivar Llantada, lista quatro motivos:

Dissidência familiar - Filhos que não se afinam com os pais estão entre os principais exemplos.

Problemas conjugais - O marido ou a esposa desaparecem por insatisfação na vida conjugal.

Drogas e alcoolismo - O usuário de drogas ou alcoolista pode desaparecer de casa por uma série de razões, entre elas por ser impedido de consumir a droga ou a bebida.

Problemas psíquicos e psicológicos - Muitos desaparecimentos podem estar ligados a um problema psicológico ou psíquico.

Como divulgar e buscar informações - A internet é atualmente o meio mais utilizado para propagação e busca de informações de pessoas desaparecidas. Pelo País, há sites capacitados com banco de dados que armazenam características de uma pessoa e as circunstâncias de seu desaparecimento.

Como ajudar - A Polícia Civil gaúcha mantém o site www.desaparecidos.rs.gov.br, com mais de 300 registros de desaparecidos e 200 já localizados. Pelo País, há ainda o www.desaparecidos.mj.gov.br, especializado em crianças e menores sumidos. Também há organizações que mantêm bancos de dados independentes na web. É o caso do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, no site www.cnpd.org.br, mantido pelo autônomo de Jundiaí (SP) Eric Winandy e mais três pessoas. "O site tem gente de todas as idades cadastradas, mas sua criação quer suprir a lacuna dos adultos, que muitas vezes não são localizados pela Polícia por causa do direito de ir e vir livremente", explica. Também há o site www.desapareceu.org, para brasileiros sumidos no mundo.

Eduardo Andrejew e Gabriel Guedes
Fonte: Diário de Canoas

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