quarta-feira, 10 de junho de 2009

Carli Filho depõe, diz não lembrar de nada e é indicado por homicídio


CURITIBA - O ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho, apontado como o responsável por um acidente que matou dois jovens no mês passado em Curitiba, prestou depoimento nesta terça-feira à Polícia Civil. Carli Filho teria dito à polícia que não lembra de nada referente ao dia do acidente. Com o depoimento, o ex-parlamentar foi indiciado no inquérito por homicídio com dolo eventual (quando a pessoa assume um risco que pode resultar em perigo para uma outra pessoa).
Ainda aparentando ter dificuldade em falar, ele se recupera em um apart hotel em São Paulo após ter recebido alta no último sábado do Hospital Albert Einstein. O depoimento foi acompanhado do advogado dele, Roberto Brzezinski Neto. A família de Carli Filho também está no apart hotel, mas não presenciou o depoimento, tomado pelo delegado Armando Braga de Moraes Neto, titular da Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran).
O ex-parlamentar alegou no depoimento que a primeira memória que tem após o acidente é de uma enfermeira informando-o que estava internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Afirmou também não lembrar de ter ido a um restaurante onde consumiu bebida alcoólica com amigos.
- A perda da memória, segundo os médicos, é decorrente do acidente e da forte lesão na cabeça. Mas ele garantiu que assim que melhorar seu estado poderá prestar outras informações à polícia - disse Braga à Agência Estadual de Notícias, órgão de notícias oficiais do governo estadual do Paraná. Segundo a polícia, o então deputado estava bêbado, com quantidade de álcool no sangue quatro vezes acima do permitido para dirigir.
Para o advogado Elias Mattar Assad, que representa a família de Gilmar Yared, uma das vítimas fatais do acidente, dizer que não lembra é uma outra forma de ficar calado.
- Se ele disse isso, ele nada mais fez do que exercitar o direito de ficar em silêncio por via oblíqua, de maneira inusitada - comentou o advogado.
Carli Filho a partir desta data passa a ser considerado indiciado por homicídio com dolo eventual, quando a pessoa assume os riscos de sua conduta perigosa, segundo a AEN. O indiciamento significa que para a polícia há pistas que indicam a culpa do investigado. O indiciamento não significa necessariamente que o suspeito será preso.
O então deputado não poderia estar dirigindo no momento do acidente. A Gazeta do Povo revelou que a carteira de Carli Filho estava suspensa em razão de 130 pontos acumulados em diversas infrações - a maioria delas por excesso de velocidade. Sobre esse assunto, o deputado disse que dirigia mesmo com a carteira suspensa porque sua "agenda parlamentar é muito preenchida" e que outros assessores também usavam o carro. O deputado conduzia um carro da empresa do pai no momento do acidente.
Independente da memória do deputado, a Polícia Civil deve realizar uma reconstituição do acidente nos próximos dias para concluir o inquérito. Ainda não há previsão de data para isso.

Do acidente à renúncia
O que poderia ser apenas mais um acidente trágico com mortes a entrar para as estatísticas de trânsito acabou provocando a primeira renúncia de um deputado estadual na história do Paraná. Além disso, expôs um histórico de multas não só de políticos, mas de 68 mil cidadãos que continuam dirigindo com a carteira de habilitação suspensa.
Depois da morte dos jovens Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo de Almeida, o governo do estado decidiu "caçar" os motoristas que ignoram as leis de trânsito. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) determinou a entrega das habilitações suspensas em 48 horas, sob ameaça de prender os desobedientes. O resultado foi um crescimento de 568% na devolução de carteiras no primeiro dia medida, 28 de maio. Foram 695 devoluções só nesta data. A média de 2009, até então, era de 104 devoluções por dia.
Nesse universo em situação irregular, 26 deputados estaduais já receberam notificação de suspensão de carteira. A descoberta também veio na esteira do caso Carli.
A população também participou protestando contra a impunidade no trânsito, cobrando respostas da polícia, do Judiciário e da Assembleia Legislativa. Saiu às ruas em passeatas e fez campanha com adesivos nos carros - "190 km/h é crime".



O Globo On Line

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