O trabalho infantil migrou do setor formal para o informal em Mato Grosso. Uma das principais preocupações hoje são as meninas que realizam serviços domésticos em situação geralmente análoga à escravidão, sem receber salário, nem ter acesso a alimentação adequada ou escola e ainda expostas às situações de abuso e exploração sexual. Há uma estimava do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – utilizada como parâmetro pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalho (Cerest) – apontando que elas já representam 33,5% da força produtiva infantil entre cerca de 2 milhões de meninos e meninas que trabalham no país. Paralelamente, alguns setores continuam empregando de maneira irregular, como carvoarias, olarias, plantações agrícolas, oficinas mecânicas e venda de produtos na rua. Sabe-se hoje que em situação vulnerável são 17,6 mil crianças e adolescentes (até 14 anos) cadastrados ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), em 90 municípios do Estado, e há subnotificação de casos que continuam na invisibilidade.
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Como discussão antecipada ao dia 12 de junho, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, a médica do trabalho Marina Azem -do Cerest – explica que os agentes físicos, químicos, biológicos e ergonômicos a que essas crianças estão expostas têm consequências graves no desenvolvimento inclusive psicológico e da formação óssea, são bem mais impactantes que no adulto. Nas pequenas plantações, venenos e agrotóxicos são facilmente absorvidos pela pele desprotegida. Exposição ao sol, ao barulho excessivo e às fuligens, tudo isso pode antecipar quadros de leucemia, câncer de pele e surdez. “Temos muitas crianças em tratamento hoje no Hospital do Câncer e no Hemocentro por conta dos reflexos do trabalho precoce. Se entrar na esfera da exploração sexual há quadros de depressão e tentativa de suicídio”.
O perigo também mora dentro de casa. Elas praticamente não existem para a sociedade, mas estão lá, lavando, passando, cuidando de crianças menores, fazendo almoço, em jornadas que às vezes extrapolam 18h diárias, sem poder brincar, fazer atividades de lazer, nem ter uma infância. “É retirado delas o direito à convivência familiar, sem poder estudar. O ciclo da pobreza se perpetua e essa menina vai acabar a vida tendo acesso apenas aos subempregos, com baixa remuneração”, pontua a procuradora do Ministério Público do Trabalho da 23ª Região, Gabriela Maciel, que cobra mais políticas públicas de prevenção.
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