sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Comunidade árabe se organiza para superar preconceito


Após o 11 de setembro, a discriminação a muçulmanos perde só para a sofrida por gays, diz pesquisa

NOVA YORK - Os árabes começaram a desembarcar em Nova York no fim do século 19. Eram cristãos vindos do Império Otomano, do qual surgiriam, anos depois, Síria e Líbano. Por décadas, foram apenas mais uma comunidade estrangeira nos EUA. Após o 11 de Setembro, porém, se organizaram para vencer o preconceito e para fortalecer a imagem de uma comunidade coesa, como judeus, italianos e irlandeses.
Livros e filmes de sucesso lançados recentemente mostram um grupo de imigrantes ignorado até bem pouco tempo. Reunindo uma série de comediantes e professores universitários, o grupo já ganha mais dinheiro do que a média dos americanos - um caso raro entre as minorias - e é mais integrado à vida local do que na Europa.
Entre as principais figuras estão o ex-senador John Edward Sununu e seu pai, John Henry Sununu, chefe de gabinete de George H. Bush; Philip Habib, enviado de Ronald Reagan ao Oriente Médio; George Mitchell, enviado de Barack Obama à mesma região; John Abizaid, que comandou as tropas do país no Iraque; e Ralph Nader, ex-candidato presidencial.
Além de os muçulmanos americanos serem minoria, muitos vieram de países não árabes, como Paquistão, Bangladesh e Quênia, como o pai de Obama. A vida desses árabes e muçulmanos se transformou com os atentados de 11 de Setembro. Os 19 responsáveis pelos ataques pertenciam à Al-Qaeda e eram de países árabes, especialmente a Arábia Saudita, que não tem uma comunidade nos EUA. Os americanos árabes, cristãos e muçulmanos, se depararam então com a necessidade de "pedir desculpas por um ato que não cometeram", como escreveu Moustafa Bayoumi, autor do livro How Does it Fell to Be a Problem? ("Como é se sentir um problema?"), sobre como é ser jovem e árabe nos EUA.
Segundo pesquisa do Instituto Pew publicada esta semana, 58% dos americanos afirmam que os muçulmanos sofrem preconceito nos EUA - índice que supera o de todas religiões e perde apenas para gays e lésbicas. Histórias de problemas em aeroportos são conhecidas: pessoas com sobrenome árabe são detidas e submetidas a longos interrogatórios.
Ainda existem, contudo, outras dificuldades. Nuray Inal, muçulmana de origem turca (não árabe), diz que teve problemas até em relacionamentos amorosos. "A família de um namorado não me aceitava porque eu era muçulmana", diz a jovem, que já trabalhou para o governo.
Jihan Abdallah, palestina que estudou nos EUA e hoje vive em Jerusalém, diz que muitos americanos ficam surpresos quando ela lhes contava sua origem. "Eles não conseguem entender que eu posso ser árabe e cristã ao mesmo tempo."
A experiência dos árabes nos EUA chegou ao cinema. Neste mês, foi lançado o filme Amreeka, que conta a epopeia de uma família palestina cristã que vive perto de Chicago. O cotidiano da comunidade também tem sido escancarado por comediantes, que organizam festivais e contam piadas sobre como é ser árabe nos EUA.
Livros sobre o islamismo também se tornaram comuns. O árabe virou uma das línguas mais procuradas em universidades do país. A ofensiva cultural vem dando resultados. Segundo pesquisas, mais da metade dos americanos sabe hoje que o livro sagrados dos muçulmanos é o Alcorão e Alá significa Deus em árabe, um índice bem superior ao registrado antes do 11 de Setembro.
Para James Zogby, presidente do Instituto Árabe-Americano, os problemas da comunidade são anteriores ao 11 de Setembro e estão relacionados à questão palestina. Cristão, filho de libaneses, Zogby afirma que os árabes têm sido erroneamente ligados ao terrorismo.
"O conflito árabe-israelense criou esse estereótipo", explicou Zogby em entrevista ao Estado. "Após o 11 de Setembro, houve um crescimento dos ataques contra árabes. Três pessoas foram presas por me ameaçarem. A maioria dos americanos, contudo, se levantou para nos defender."

Fonte: Estadão.com.br

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