sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Suicídio afeta todas as culturas


Por Gustavo Capdevila

Genebra, 10/09/2009, (IPS) - Um problema frequentemente considerado tabu, o suicídio adquire relevância em todos os níveis da sociedade, desde quem o comete até os seres queridos que sofrem a perda, passando pelo Estado, que deve agir para enfrentar a questão.
Um enfoque ainda mais amplo, a ideia de que a morte pelas próprias mãos afeta todas as culturas, dominará hoje a celebração do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Quase um milhão de pessoas tiram a própria vida a cada ano.
A OMS afirmou que esse número equivale a 1,5% de todas as mortes, o que converte o suicídio na décima causa de morte no mundo e a terceira entre pessoas com idade entre 15 e 44 anos. As tentativas são de 10 a 20 vezes mais freqüentes, segundo a instituição. Nos últimos 45 anos, as taxas de suicídio cresceram 65% em todo o mundo. O número de homens que se matam supera de maneira marcante o de mulheres, embora estas executem uma quantidade maior de tentativas. O único país que registra mais suicídios femininos do que masculinos é a China, embora as cifras sobre esse país não estejam atualizadas.
Dados da OMS obtidos em áreas rurais e urbanas selecionadas da China, correspondentes a 1999, indicam que quase 15 em cada cem mil mulheres cometeram suicídio, em contra 13 em cada cem mil homens. Nesse informe da OMS, o país com maior porcentagem de suicídios para cada grupo de cem mil habitantes era a Lituânia, com 68/100 mil para os homens e 12/100 mil para as mulheres. Em seguida vinham Belorússia (com 63,3 e 10,3), Rússia (com 58 e 9,8), Cazaquistão (com 45 e 8) e Sri Lanka (com 44,6 e 11).
A especialista do departamento de saúde mental da OMS, Alexandra Fleischmann, observou que as distintas culturas mostram comportamentos diferentes diante do suicídio. Nos países europeus, as principais causas são as desordens mentais, como depressão e excesso de ingestão de álcool, afirmou. Já na Ásia, têm um papel mais importante os impulsos, o que significa que as pessoas chegam a esse ato movidas pelo desespero de um momento.
A OMS, em colaboração com o Fórum Permanente para as Questões Indígenas da Organização das Nações Unidas convocou uma reunião para 2010 a fim de examinar os dados que atribuem aos membros das comunidades aborígines uma taxa de suicídios superior ao resto da população. Essa tendência se observa entre os aborígines da Austrália, osmaores da Nova Zelândia e nas populações originarias dos territórios atualmente ocupados por Estados Unidos e Canadá.
Um fato significativo é que um terço dos suicídios registrados anualmente tem origem na ingestão intencional de pesticidas. Até há pouco tempo, o papel dessas substancias era praticamente ignorado, reconheceu a OMS. Fleischmann disse à IPS que ainda falta determinar quais são os pesticidas mais usados. “Temos de realizar estudos ara identificar quais desses tóxicos são os mais usados para esses fins”, afirmou. Na China, onde os suicídios femininos são mais abundantes nas áreas rurais, a organização valia a hipótese de essa tendência responder à maior disponibilidade e acesso a esses venenos. Com freqüência, esses tóxicos são armazenados nas casas dos camponeses, disse Fleischmann.
Tanto na China como no resto da Ásia e em outros continentes a instituição patrocina projetos sanitários para estabelecer condições mais seguras de armazenamento de pesticidas. A indústria agroquímica, responsável por colocar esses produtos no mercado, “responde de maneira positiva ao problema”, assegurou a especialista. “É uma questão deconvergência de interesses”, afirmou. “O interesse desse setor também coincide com a prevenção. Por isso apresentam uma reação positiva”, ressaltou Fleischmann. “Também vemos que na América Central e do Sul, como nos países do Caribe, o recurso do envenenamento com pesticidas para cometer suicídio adquire maior freqüência”, prosseguiu. Por exemplo, em El Salvador, Guiana, Trinidad e Tobago, e Suriname esse método pode cobrir até 60% dos casos.
A OMS também defende uma conduta responsável dos meios de comunicação quando informam sobre suicídios e suicidas. “Trata-se de tirar o que tem de atrativo nos artigos sobre o tema e de não lhes dar um espaço de destaque, nem tampouco descrever em detalhes os métodos usados”, disse Fleischmann. Essas precauções da OMS se relacionam com a tendência à identificação e à imitação que pode despertar a morte pelas próprias mãos, recordou a especialista. Esses efeitos são estudados há muito tempo, e um exemplo é a novela “As desventuras do jovem Werther”, ou simplesmente “Werther”, como é mais conhecida na versão em espanhol.
A obra de 1774, do famoso escritor Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) fala das infelicidades e do triste destino de Werther, presa de uma paixão proibida por Carlota (Lotte), que já estava comprometida com outro homem. Na época, após ler a novela de Goethe, alguns jovens se matavam e em certos casos o faziam segurando um exemplar do livro. Desde então, numerosos estudos científicos demonstram que a leitura ou o relato de casos de suicídios podem levar àidentificação e à imitação, disse Fleischmann. Por isso devemos agir com cautela ao nos ocuparmos dos suicídios, insistiu. IPS/Envolverde

(FIN/2009)

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