domingo, 30 de agosto de 2009

‘Acho que o dr. Roger é culpado, mas não consigo odiá-lo’


de uma paciente de Roger Abdelmassih

‘Inicialmente eu não acreditei em nada. Achei que fosse complô, inveja, misturado com coisas reais, como alguns erros médicos, algum assédio e quem sabe até casos amorosos que não terminaram bem. Para mim foi muito difícil ver tudo isso na TV, nos jornais, nas revistas, nos comentários no ambiente de trabalho e até de supostas amigas que me ligavam meio que para espezinhar minha escolha médica.

Cada vez mais acho que ele é culpado e acredito nas denúncias. Mas eu não consigo odiar o dr. Roger. Não consigo. Da mesma forma que vocês sentem esse ódio tão intenso, e deve ser terrível olhar para os seus filhos e se lembrar dele, ter os filhos associados a tanto ódio, comigo ocorre o contrário. Eu não consigo olhar meu filho sem sentir-me grata por ele ter me ajudado a ser mãe.
Um momento eu acredito que é inocente, no momento seguinte, que é culpado. Vocês têm que respeitar esse processo difícil também. E até se alguém o defende, acredite, não será por pagamento somente. Algumas pessoas acreditam nele, ponto. Não como reverter isso no grito. É a esfera de intimidade de cada um.
Escrevi algumas vezes neste blog, sou a pessoa que desconfia do engenheiro químico, e entrei em contato com algumas pAdicionar imagemessoas que não acreditam que o doutor Roger seja um monstro.
Penso que cada um tem o direito de achar o que quiser, culpado ou inocente, doente e monstro, ou ser humano cheio de falhas que cometeu crimes, mas que também fez coisas boas.
Para ser um benfeitor tem que ser benfeitor o tempo todo. Para ser criminoso, basta um crime, não são necessários nem 56, nem 70, nem 1000. Mas da mesma forma que se ele fez 5.000 atos corretos e de benfeitoria, não serve para que ele se exima de um crime apenas, da mesma forma que os 70 crimes dele não invalidam o bem que ele também já fez a muita gente que o percebe assim: benfeitor.
Na minha experiência de vida ele foi bom. Me trouxe felicidade. Isso não me dá certamente o direito de achar que ele fez o bem a todos, mas explica a dificuldade em aceitar e acreditar nas denúncias e a busca por explicações.
É difícil aceitar certos fatos. A negação é parte da psicologia de todos nós, sobretudo quando envolve sentimentos tão fortes, que envolvem amor, ódio, vida, violência e vivências que se percebem como bênçãos.
Agora estou pensando: e se eu fosse uma vítima: com certeza sentiria ódio, repulsa, etc. Como mera expectadora de um escândalo desse porte, eu não teria dúvidas: me alinharia automaticamente às vítimas. Mas como o escândalo respinga em mim de forma pessoal, e tenho minha própria história de vida entrelaçada eternamente a esse escândalo, estou sofrendo também, me solidarizo com as vítimas, mas sou capaz de entender quem não acredita em nada.
É muito difícil mesmo acreditar, quando a nossa própria experiência pessoal contraria o que está sendo mostrado. Minha experiência foi de respeito, profissionalismo, sucesso. Com certeza há milhares de histórias assim, e milhares de pessoas perplexas, certamente.
Minha decisão é a seguinte: me reservo o direito de condenar qualquer crime, de me solidarizar com as vítimas, de me colocar no lugar delas e de pensar que se tivesse acontecido comigo ...teria sido o inferno.
Também me reservo o direito de continuar percebendo a minha história como uma boa e bela história. E os atores da minha história são quem são. Na minha história de vida um criminoso que me fez um bem. Isso não dá para apagar. Não se apagará o fato de que é um criminoso (se bem que não foi condenado ainda). E não se apagará fato de que me fez um bem.
A partir de agora, vou parar de acompanhar o caso aqui e em outros blogs, e seguir minha vida. Meu marido e familiares estão reclamando. Me querem de volta para eles. Me querem fora da internet e do assunto. Então, desejo boa sorte a todos e que a justiça seja feita.
Como já está tudo nas mãos da Justiça, parece que está no lugar certo.’

Comentários de alguns leitores

Anônimo disse...
Seu comentário é sincero, verdadeiro e, portanto, irretocável. Entendo e respeito seus sentimentos.Eu estou do outro lado dessa fronteira!Esse criminoso, que lhe fez tão bem, quase destruiu a minha vida e a da minha família. Acho desnecessário detalhar o que passei. Já o fiz nos meus depoimentos na polícia e no Ministério Público.O ser humano realmente pode ser tudo: de anjo a demonio. No meu caso, infelizmente, ele não foi o anjo...Hoje realizada, com o filho que tanto desejei, e com minha vida recuperada, sobra ainda uma ferida aberta, que teima em queimar.Só a justiça será capaz de cicatrizá-la. Ela já está sendo feita, por sorte de todos nós que comhecemos o lado perverso e pouco luminoso desse médico.Não tenho nenhuma pena dele. Tenho ódio sim, nojo, repugnância, revolta.Ele receberá, como deve, o reconhecimento das pessoas que ajudou. Mas receberá também, a pá de cal de todas nós que tivemos a alma ferida e a dignidade humilhada, sem que ele pensasse nas consequências.Só quero justiça. Só quero viver para o bem, como sempre vivi, e contribuir para que o mundo se livre da perversão criminosa de loucos como o Roger.Eu sigo o meu caminho com a consciência tranquila. Tenho muito orgulho da atitude de denunciá-lo. Devia isso à mim mesma, à minha familia, às outras vítimas, e ao meu filho, que teve a sorte de nascer longe das mãos sujas desse bandido.
30/08/09 13:10

Roberto Santini disse...
O maior crime praticado contra o ser humano é o ultraje em sua dignidade, como o que foi praticado contra as mais de 60 mulheres, as quais foram ao encontro de um sonho e descobriram um pesadelo. A "Lei Divina", certamente virá ou já está vindo; mas a " Lei dos Homens " é extremamente necessária, sob pena de perdermos a confiança em uma profissão, de tão alta relevância Social , que é a Medicina. Os Conselhores Regionais de Medicina, de todo o País, devem ficar muito atentos a este e em muitos outros casos! Tenho a mais absoluta certeza de que, as mulheres que hoje, adentram em um consultário médico, Hospital ou uma Clínica, levam consigo uma grande dose de desconfiança! E confiança, na moral e competência, é fundamental em qualquer atividade Profissional, principalmente, nas que dizem respeito à Saúde.Tenho por índole, respeitar todas as opiniões , embora critique as que agridem a inteligência e o bom senso. É do Estado de Direito as manifestações de forma Democrática onde, todos nós, temos um "nome e um rosto". Por isso entendo um serviço "inestimável" dessas mulheres que, visando o bem comum , imbuídas de Cidadania e Coragem, denunciaram os abusos a que foram submetidas, pelo Doutor Roger Abdelmassih.Eu que tenho mãe e irmã, amigas, colegas de serviço, envio os meus sinceros respeito, solidariedade e admiração , às Senhoras Ivanilde Serebrenic e Vanuzia Leite Lopes, dentre tantas outras. Obrigado, pela coragem e persistência, de todas vocês, em busca de Justiça!

30/08/09 15:46


Paulopes Weblog

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