domingo, 30 de agosto de 2009

Ex-cirurgião plástico, que matou e esquartejou paciente, vive livre e faz faculdade em SP


SÃO PAULO - Ele acorda cedo todos os dias. Vai à cozinha e encontra apenas pedaços do pão que faz para o jantar. Talvez ache leite. Sai de casa, onde mora sozinho, sem visitas, e se equilibra na bengala até a esquina. Vai de ônibus para a faculdade. Mesmo tendo que conviver com as dores e doenças do avanço da idade, enfrenta o trajeto lento do trem para chegar à universidade, distante 20 quilômetros de onde mora. Esta rotina, semelhante a de muitos estudantes, pertence ao réu-confesso de um crime que chocou São Paulo.
Condenado a 13 anos de prisão por matar e esquartejar uma paciente em 2003, Farah Jorge Farah, de 60 anos, tenta levar uma vida normal enquanto a Justiça decide se ele deve voltar à cadeia. Além de cortar o corpo da mulher, o médico lavou os pedaços com formol e os dividiu em cinco sacos plásticos, jogados no porta-malas de um carro.
- A casa caiu feio - resume o ex-cirurgião plástico, cujo registro profissional foi cassado.
Ele até procura emprego, mas "ninguém quer dar trabalho a quem tem antecedentes". O médico ficou quatro anos e meio preso até conseguir um habeas corpus, em maio de 2007.
- Ainda estou catando meus cacos espalhados pelo chão, tentando me reerguer - disse Farah, em junho.
O DIÁRIO acompanhou o dia-a-dia de Farah nos últimos três meses. Entre aulas, cultos religiosos, exames e consultas médicas, o cirurgião mostrou-se um solitário.
- Ninguém sabe o que a cadeia faz. Eu tentei suicídio, principalmente quando minha mãe morreu. Chorei muito por ela. Era a coisa que eu mais amava na minha vida - afirmou.
Além de perder a mãe e o pai, Farah nunca mais encontrou boa parte dos amigos que tinha antes de cometer o crime. Estudar foi a saída para tentar se reintegrar à sociedade.
- Estudo para preencher meu tempo, pra não ficar preso em casa. Não sei se vou conseguir tocar a vida. Nem até quando - diz o médico que, desde agosto de 2007, cursa Direito da unidade Vergueiro da Unip, na Vila Mariana, zona sul da capital, onde mora.
Em fevereiro, começou Filosofia na Unifesp de Guarulhos, Grande São Paulo. No início do semestre, Farah pediu para trancar a matrícula na Unip.
- Fico muito cansado - argumenta o homem que, entre uma e outra escola, diz que comia apenas uma coxinha.
Do trabalho como ajudante de padeiro na adolescência, Farah tirou um hobby que o ajudou a passar o tempo na cadeia. Fazia pão para outros presos - o mesmo que cozinha para o seu jantar. Farah evita falar sobre o homicídio que confessou.
- Não justifico o que fiz. Mas ninguém estava na minha pele naquele momento, naquele dia - afirma.



O Globo

Um comentário:

  1. Como uma pessoa assim pode estar livre? É terrível!
    Ele nem deveria poder fazer nada como o resto das pessoas, nem pedir delivery em vila mariana de nada!

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