Na América Latina as crianças e os adolescentes somam quase a metade da população total. A metade dessa metade sobrevive na miséria. Na America Latina morrem cem crianças a cada hora pela fome, contudo existem cada vez mais crianças pobres nas ruas e campos desta região que fabrica pobres. Em sua maioria as crianças são reféns do sistema. A sociedade as oprime, as vigia, as castiga e às vezes as mata; quase nunca as escuta, jamais as compreende.
Essas crianças de gente que trabalha assaltando ou que não têm trabalho ou lugar no mundo estão obrigadas desde muito cedo a viver ao serviço de qualquer atividade paga-pão desolando-se em troca de comida ou algo mais. Depois de aprender a andar aprendem quais são as recompensas que se outorgam aos pobres que suportam bem isso.
- São a mão de obra gratuita das oficinas, das lojas, cozinhas caseiras. São a mão de obra a preço de pechincha das indústrias de exportação que fabricam roupa desportiva para as grandes empresas multinacionais. Trabalham nas fainas agrícolas, nos transportes urbanos ou trabalham em sua casa a serviço de quem os mantêm, são escravinhos da economia familiar ou do setor informal de economia globalizada donde ocupam o escalão mais baixo da população ativa a serviço da economia mundial.
- Nos lixeiros da Cidade do México, Manila ou Lagos juntam vidros, latas, papéis e reviram os restos de comida como os abutres. Submergem-se no Mar de Java, buscam pérolas nas minas do Peru imprescindíveis por suas baixas estaturas e quando os pulmões não dão mais vão parar nos centros clandestinos.
- Colhem café na Colômbia e na Tanzânia. Envenenam-se com os pesticidas;
- Envenenam-se com os pesticidas nas plantações de algodão da Guatemala e nas bananeiras de Honduras;
- Em Malásia recolhem leite das seringueiras em jornadas de trabalho que se estendem de estrela a estrela;
- Estendem vias de trem na Birmânia;
- No norte da Índia se derretem nos fornos de vidro, e no sul nos fornos de tijolos;
- Em Bangladesh desempenham mais de trezentas ocupações diferentes com salários que oscilam entre o nada e o quase nada por dias que não acabam;
- Correm carreiras de camelos para os emires árabes e são cavaleiros pastores nas estâncias do rio da Prata;
- Em Port-au-Prince, Colombo, Jakarta ou Recife servem a mesa do amo em troca do direito de comer o que da mesa cai;
- Vendem frutas nos mercados de Bogotá e chicletes nos ônibus de São Paulo;
- Limpam pára-brisas nas esquinas de Lima, Quito ou São Salvador;
- Lustram sapatos nas ruas de Caracas ou Guanajuato;
- Costuram roupas na Tailândia e sapatos de futebol no Vietnam;
- Costuram bolas de futebol no Paquistão e bolas de beisebol em Honduras e Haiti;
- Para pagar as dívidas de seus pais recolhem chá ou tabaco nas plantações do Sri Lanka e colhem jasmins no Egito com destino às perfumarias francesas;
- Alugados pelos pais tecem alfombras no Irã, Nepal e na Índia, desde antes do amanhecer até depois da meia-noite, e quando alguém chega para resgatá-los perguntam: Você é meu novo dono?;
- Vendidos a cem dólares pelos pais se oferecem no Sudão para trabalhos sexuais e outros trabalhos;
Essas crianças de gente que trabalha assaltando ou que não têm trabalho ou lugar no mundo estão obrigadas desde muito cedo a viver ao serviço de qualquer atividade paga-pão desolando-se em troca de comida ou algo mais. Depois de aprender a andar aprendem quais são as recompensas que se outorgam aos pobres que suportam bem isso.
- São a mão de obra gratuita das oficinas, das lojas, cozinhas caseiras. São a mão de obra a preço de pechincha das indústrias de exportação que fabricam roupa desportiva para as grandes empresas multinacionais. Trabalham nas fainas agrícolas, nos transportes urbanos ou trabalham em sua casa a serviço de quem os mantêm, são escravinhos da economia familiar ou do setor informal de economia globalizada donde ocupam o escalão mais baixo da população ativa a serviço da economia mundial.
- Nos lixeiros da Cidade do México, Manila ou Lagos juntam vidros, latas, papéis e reviram os restos de comida como os abutres. Submergem-se no Mar de Java, buscam pérolas nas minas do Peru imprescindíveis por suas baixas estaturas e quando os pulmões não dão mais vão parar nos centros clandestinos.
- Colhem café na Colômbia e na Tanzânia. Envenenam-se com os pesticidas;
- Envenenam-se com os pesticidas nas plantações de algodão da Guatemala e nas bananeiras de Honduras;
- Em Malásia recolhem leite das seringueiras em jornadas de trabalho que se estendem de estrela a estrela;
- Estendem vias de trem na Birmânia;
- No norte da Índia se derretem nos fornos de vidro, e no sul nos fornos de tijolos;
- Em Bangladesh desempenham mais de trezentas ocupações diferentes com salários que oscilam entre o nada e o quase nada por dias que não acabam;
- Correm carreiras de camelos para os emires árabes e são cavaleiros pastores nas estâncias do rio da Prata;
- Em Port-au-Prince, Colombo, Jakarta ou Recife servem a mesa do amo em troca do direito de comer o que da mesa cai;
- Vendem frutas nos mercados de Bogotá e chicletes nos ônibus de São Paulo;
- Limpam pára-brisas nas esquinas de Lima, Quito ou São Salvador;
- Lustram sapatos nas ruas de Caracas ou Guanajuato;
- Costuram roupas na Tailândia e sapatos de futebol no Vietnam;
- Costuram bolas de futebol no Paquistão e bolas de beisebol em Honduras e Haiti;
- Para pagar as dívidas de seus pais recolhem chá ou tabaco nas plantações do Sri Lanka e colhem jasmins no Egito com destino às perfumarias francesas;
- Alugados pelos pais tecem alfombras no Irã, Nepal e na Índia, desde antes do amanhecer até depois da meia-noite, e quando alguém chega para resgatá-los perguntam: Você é meu novo dono?;
- Vendidos a cem dólares pelos pais se oferecem no Sudão para trabalhos sexuais e outros trabalhos;
Pela força recrutam crianças os exércitos, em alguns lugares da África, Oriente Médio e América Latina. Nas guerras os soldadinhos trabalham matando e sobretudo morrendo; eles somam a metade das vítimas nas guerras africanas recentes. Com exceção da guerra, que é coisa de macho segundo conta a tradição e ensina a realidade, em quase todas as demais tarefas os braços das meninas resultam tão úteis como os braços dos meninos. Mas o mercado laboral reproduz nas meninas a discriminação que normalmente pratica contra as mulheres: elas, as meninas, sempre ganham menos que o pouquíssimo que eles, os meninos, ganham, quando algo ganha.
A prostituição é o cedo destino de muitas meninas e, em menor medida, também de uns quantos meninos, no mundo inteiro. Por mais assombroso que pareça se calcula que há pelo menos cem mil prostitutas infantis nos Estados Unidos, segundo o informe da UNICEF de 1997. Mas é nos bordeis e nas ruas do sul do mundo aonde trabalha a imensa maioria das vítimas infantis do comércio sexual.
Esta multimilionária indústria, vasta rede de traficantes, intermediários, agentes turísticos e cafetões, se maneja com escandalosa impunidade. Na América Latina, não tem nada de novo: a prostituição infantil existe desde que em 1536 se inaugurou a primeira casa de tolerância em Porto Rico.
Atualmente, meio milhão de meninas brasileiras trabalham vendendo o corpo, em benefício dos adultos que as exploram: tantas como em Tailândia, não tantas como na Índia.
Em algumas praias do mar do Caribe, a próspera industria do turismo sexual oferece meninas virgens a quem possa pagar. Cada ano aumenta a quantidade de meninas lançadas ao mercado de consumo: segundo lãs estimativas dos organismos internacionais, pelo menos um milhão de meninas incorporam a cada ano a oferta mundial de corpos.
(Do livro: “Pernas para o ar: A escola do mundo ao avesso”, de Eduardo Galeano)
(Do livro: “Pernas para o ar: A escola do mundo ao avesso”, de Eduardo Galeano)
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