quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O que fazer quando um parente desaparece?



A procura por um parente é muitas vezes solitária e, quase sempre, marcada pela desilusão.

“Gabriel, se você estiver ouvindo, volta para casa. Seu pai está triste, está chateado. Seu pai não dorme direito, não come, não trabalha mais. Onde você estiver no mundo, se estiver vendo o pai, volta para casa”, pede um pai.
O desaparecimento deixa um rastro. Uma família inteira em pedaços. A dor insuportável da perda misturada com a tortura da esperança. É a lágrima que não seca, a lágrima sem resposta.
“O meu filho, sem eu saber onde está, se está com fome, se está passando frio, se está sendo judiado, maltratado, Eu quero uma resposta. Uma pessoa não pode sumir assim, no ar, como se fosse fumaça”, aponta a mãe de desaparecido.
Infelizmente, pode. Samantha desapareceu no dia 3 de abril deste ano. A mãe, Maria do Socorro, morava com as duas filhas em um casebre, na comunidade de Santa Margarida, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Ela conta que a menina, de 14 anos, todo dia atravessava o túnel por baixo da linha do trem para comprar copinhos. Neste dia, ela seguiu a mesma rotina. Atravessou o calçadão. Chegou até a loja. Comprou os copos, mas nunca voltou. Deixou uma mãe suplicando, implorando pelo fim dessa agonia.
“Samantha, volta, minha filha, volta, não estou mais aguentando, minha filha, volta, não estou mais aguentando de tanta solidão. Venha, minha filha, eu quero pegar você no meu braço, me dê esse presente. Onde você estiver, minha filha, volta logo”, pede a mãe da Samantha, Maria do Socorro.
Esses casos de desaparecimento são chamados pelos especialistas de enigmáticos. É quando uma pessoa some sem deixar qualquer vestígio. Ela pode ter sido levada, pode ter sido vítima de alguma violência, ou mesmo ter decidido fugir. Desaparecer tem várias causas. Sumir na multidão, por exemplo, em uma cidade como São Paulo, é muito fácil.
E o que fazer? Começa aí o choque de ver que no contato com as autoridades o que se encontra é muita indiferença. Por lei, logo que a família faz o registro do desaparecimento na delegacia, a polícia deve notificar rodoviárias, aeroportos e fazer uma busca. Mas ainda há muito preconceito e despreparo dentro da própria corporação na hora de investigar os casos.
Robson Fontenele trabalha na seção de descoberta de paradeiros da delegacia de homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Ele pede mais investimento no treinamento dos policiais.
“O trabalho de desaparecimento é um trabalho social. A Polícia Civil é tida como um trabalho operacional. Não existe só trabalho operacional. O atendimento a uma família de pessoa desaparecida precisa ter uma especialidade”, comenta o inspetor da delegacia de homicídios/RJ Robson Fontenele.
Porque nessa hora o policial tem que ser um ombro amigo, misturar compaixão e compreensão. O que, convenhamos, não é o perfil típico do policial que vive às voltas com outros tipos de crimes. Para a maioria dos policiais, o desaparecimento pode ser um problema de família e essa explicação varre para debaixo do tapete todas as outras.
“A pessoa desapareceu porque não foi mais vista. Essa pessoa está morta? Está hospitalizada? Foi lesionada? Isso a polícia tem que ir atrás. As pessoas, muitas vezes, para desonerar alguma outra pessoa, outra culpa, registram como que desaparecido”, afirma o secretário de segurança/RJ José Mariano Beltrame.
Enquanto a polícia procura, quando procura, a família vai desmoronando. O tempo passa. A dor não.
“Eu não estou conseguindo trabalhar mais. Em todo lugar, ando para procurar por ela. Se vejo uma menina parecida com ela, paro para olhar”, conta uma mãe, chorando.


Bom Dia Brasil

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