segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Jovem fuma por alívio e para imitar adulto


Quando tinha 13 anos, o estudante Lucas (nome fictício) fumou o primeiro cigarro. Por influência de amigos mais velhos, o cigarro passou a ser um companheiro constante.
Pouco tempo depois, quando decidiu levar o vício para dentro de casa e abrir para a família que já fumava, a revelação foi seguida de muita discussão, insuficiente para que ele decidisse parar de fumar.
O perfil de jovens como Lucas, que começam a fumar cada vez mais cedo e buscam no vício o alívio para problemas, é cada vez mais comum, de acordo com estudo feita pela psicóloga Cassiana Moraes de Oliveira para o mestrado em psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto.
Para o estudo, a psicóloga acompanhou 80 estudantes de 15 a 18 anos, sendo 40 fumantes e 40 não fumantes. Ela detectou que a iniciação precoce ao fumo é cada vez mais frequente e que a maioria dos jovens recebeu convites para experimentar o cigarro de amigos.
Hoje, aos 16 anos, Lucas afirma que até já tentou deixar o vício. Parou por duas semanas, mas não conseguiu. Segundo ele, a maioria dos amigos fuma, o que dificulta a tentativa de se afastar das tragadas. "A vontade também é grande, é vício mesmo", afirmou.
Nos momentos de tensão, quando fica nervoso por causa de alguma briga ou em períodos de provas na escola, o vício aperta ainda mais. Nestes períodos, ele chega a fumar 12 cigarros por dia.
Já a estudante Luiza (nome fictício), hoje com 14 anos, começou a fumar ainda mais cedo, aos 11. A influência dos amigos que já fumavam também foi fator determinante para que ela tivesse contato com o cigarro. Luiza mora só com a mãe, que sabe do vício da filha, mas, segundo ela, não gosta. "Ela disse que eu ia trabalhar para sustentar o vício."
Luiza também afirma que a pressão e o estresse causados por problemas do dia a dia fazem aumentar o consumo de cigarro. "Se eu brigo com meu namorado, fumo ainda mais", disse, ao revelar que o namorado desaprova o vício.
Tanto Luiza como Lucas afirmam que, embora exista lei que proíba a venda de cigarros para menores, conseguem comprar com facilidade.
A pesquisa apontou ainda que há predomínio de motivações diferentes entre garotos e garotas para o início do tabagismo. Entre as meninas, há a justificativa de que o fumo é usado para o alívio de situações difíceis e compensação da solidão. Já entre os garotos, há dois fatores principais: a influência de modelos, como amigos e familiares fumantes, e a necessidade de autoafirmação.
A pesquisa também mostrou maior proporção de mães sem relacionamento estável no grupo de adolescentes fumantes, o que sugere que jovens que vivem com famílias estáveis estão mais protegidos e menos propensos ao fumo.
"É possível afirmar que ter uma estrutura familiar saudável é um fator de proteção para que o jovem não inicie o tabagismo", disse a pesquisadora.

Autor: LEANDRO MARTINS
Fonte: Folha de São Paulo

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