sábado, 14 de novembro de 2009

As crianças estão cada vez mais altas

COMO OS SEUS PAIS
Quase olho no olho: Ronald, 9, a 3 centímetros de alcançar Milene; Malia, 11, quase igual a Michelle; e Sasha, 11, na orelha de Xuxa


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As crianças estão cada vez mais altas. E as baixinhas se sentem
mais deslocadas. A boa notícia é que há tratamento para o crescimento
abaixo da média
Onde é que essas crianças vão parar? Ao que tudo indica, muito acima da população adulta atual. O programa acelerado de crescimento que está transformando os baixinhos em altinhos é evidente em qualquer ambiente social, em especial os que reúnem crianças naquela fase de esticamento da pré-adolescência. Os números comprovam: de 1974 a 2003, ano da última grande contagem oficial de altura da população, constatou-se que as crianças e os jovens brasileiros ficaram de 5 a 12 centímetros mais altos. "Isso se deve a décadas de vacinação em massa, à melhoria das condições sanitárias, ao controle de doenças infecciosas que prejudicam o crescimento e também à inserção de um cardápio mais nutritivo desde a tenra infância, com alimentos como carne, leite e cereais", explica o nutrólogo Mauro Fisberg, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A consequência, segundo Fisberg, é que atualmente as crianças sadias crescem de 6 a 7 centímetros por ano entre os 2 e os 9 anos e de 8 a 10 centímetros entre os 9 e os 15 anos. Às vezes, bem mais que isso, como demonstram os filhos de pais excepcionalmente altos retratados nestas páginas.
Aos 11 anos completados em julho, Malia, a filha mais velha do presidente Barack Obama (1,88 metro), está batendo na orelha da mãe, Michelle (1,82 metro). Sasha, filha de Xuxa Meneghel (1,77 metro) e Luciano Szafir (1,90 metro), também tem 11 anos e parece que em algum momento vai olhá-los de cima. O menino escolhido para viver seu, por assim dizer, par romântico no filme infantil O Mistério de Feiurinha, Bernardo Mesquita, mede 1,82 metro.
Robusto desde bebê, Ronald, o filho do jogador Ronaldo (1,83 metro), olha diretamente nos olhos da mãe, Milene. Não seria muito impressionante, já que ela mede 1,60 metro, não tivesse Ronald apenas 9 anos. "O Ronald está com 1,57 metro. É o maior da classe dele e também do time de futebol. Está tão grande que compro camisetas para meninos de 14 anos e sapatos tamanho 40", descreve Milene. "Filhos de pais muito altos têm chances muito grandes de ser os mais altos da classe.
Mas essas crianças não necessariamente se tornarão adultos enormes. Pode ser que o Ronald, que não tem mãe muito alta, não cresça até a juventude na mesma velocidade que cresceu até agora", explica Fisberg.
Como tudo na vida em geral, e em especial no sensível período do fim da infância ao início da adolescência, sair do padrão, nem que seja por uma característica desejada como a altura, cria problemas. As crianças mais altas se queixam dos apelidos, da eterna posição no fundo das fotografias, da falta de jeito da pré-puberdade, quando ainda não se sentem à vontade com seu tamanho. Mais difícil ainda, nesse ambiente de estirados, é ser mais baixinho que a média.
A médica Leda Barone, 48, de São Paulo, lembra-se do dia em que o filho Michel, então com 6 anos, chegou mudo em casa. Com muito esforço, conseguiu arrancar que ele havia sido vetado pelos outros meninos no futebol da escola por ser pequeno. Michel tinha 1,09 metro e era mais baixo que o irmão de 4 anos. "Ele disse que não aguentava mais ser chamado de tampinha e que percebia que eu encurtava as calças dele, coisa que não fazia com meu outro filho", conta Leda. Sob orientação de um pediatra, Michel começou a tomar injeções do hormônio do crescimento, o GH. Durante dois anos e meio, enfrentou o tratamento feito com seis injeções por semana. Em julho, foi liberado: aos 9 anos e 8 meses, Michel mede 1,34 metro, 2 centímetros a menos que a média da idade aferida pela Organização Mundial de Saúde, mas o suficiente para mudar de faixa. "Sem o medicamento, ele tinha um prognóstico de chegar aos 18 anos com 1,60 metro. Agora, deve chegar a 1,70. Não será altíssimo, mas, pelo menos, vai alcançar o máximo de altura que seu corpo pode ter", diz Leda.
O tratamento com o hormônio GH sintético, indicado para crianças que não o produzem normalmente, é o mais frequente para meninos e meninas que crescem bem abaixo da média. Para casos específicos de meninas, existe um outro tipo de tratamento hormonal, destinado a postergar a puberdade precoce, quando surgem sinais de que a primeira menstruação está por vir antes do tempo. "A puberdade ‘fecha’ as áreas de crescimento dos ossos e interrompe seu desenvolvimento", diz Luis Eduardo Calliari, pediatra e endocrinologista do Hospital São Luiz e professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa. Os tratamentos são caros e demorados, mas cada centímetro soa como uma vitória. "Ser alto hoje em dia é quase fundamental para conquistar boas oportunidades profissionais e sociais. A questão é que nem todo mundo pode ser assim. Os novos tratamentos trazem esperança para muitas crianças", resume o nutrólogo Fisberg.

Juliana Linhares

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