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sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Salvador se destaca nas estatísticas de reencontros
Vidas separadas. Um dia, pessoas podem se reencontrar. Há esperança. O segredo é não desistir, nem se 30 anos estiverem entre você e o seu sonho.
"Antes eu dormia pensando que ela estava viva e acordava pensando que ela estava morta. Quem tem um ente querido desaparecido não sabe o que pensar. O desespero é inevitável", diz a mãe de desaparecida Josenilda Lima.
Durou cinco anos e meio o desespero de Josenilda. Em 2000, a única filha dela, Simone, viajou para passar as festas juninas na cidade de Lençóis, interior da Bahia. Nunca mais voltou. A menina, que sempre carregava um periquito no ombro, foi morta por um psicopata. O crime só foi descoberto graças à busca incansável da mãe.
“Não tem mais jeito. Minha filha está morta mesmo. Eu tenho que enterrar e seguir minha missão, que para mim isso é uma missão mesmo, ajudar as pessoas desaparecidas", afirma Josenilda.
Josenilda coordena um trabalho voluntário de buscas na Bahia. Antonio Carlos, Alana, Daniele, Ailton, Adriano são algumas das pessoas que tiveram a sorte de reencontrar suas famílias. Sabe quantas são no cadastro de Josenilda? 599 pessoas na Bahia. Isso é pouco? Claro que não. É o resultado do trabalho de apenas uma pessoa. Imaginem se tivesse mais gente interessada em resolver esse problema.
A recompensa é a alegria. Aquela alegria de quem recebe um presente precioso, diz Josenilda: "Parece que eu estou reencontrando a minha filha. É a coisa mais sublime que existe fazer um reencontro".
Reencontro. Uma palavra que, na Bahia, se pronuncia com certa frequência. A bela capital baiana tem se destacado nas estatísticas nacionais de pessoas reencontradas. De acordo com um levantamento da polícia, nos últimos nove anos, quase 70% dos casos de desaparecimento registrados nas delegacias foram resolvidos.
Praça da Piedade, Salvador, é o endereço mais procurado na Bahia por quem perdeu de vista um parente, um amigo, uma pessoa querida. Lá funciona uma espécie de central de buscas que utiliza uma forma simples mas eficiente de localizar desaparecidos: a divulgação.
Diante das câmeras, pais, filhos, tios - famílias aflitas fazem apelos comoventes. Virou quadro fixo de um dos telejornais da TV Bahia, afiliada da Rede Globo. Toda quarta-feira, os desaparecidos ganham espaço em todos os blocos do programa. Uma rede voluntária de informantes logo se forma e entra em ação.
“Quando aparece a imagem de uma pessoa desaparecida a população tem interesse em ligar dando informações, dando detalhes de onde a pessoa pode ser encontrada", comenta o delegado Joelson Reis.
Em alguns casos, o mistério do sumiço se desfaz ali mesmo na praça, com o programa ainda no ar. Bastou a dona de casa Ednalva dos Reis aparecer chorando e a filha que ela tanto procurava deu notícia: “Ela viu a reportagem, ligou, colocou para falar com o sobrinho, disse que está indo para casa. Estou alegre, estou feliz, obrigado Meu Deus."
Conceição do Jacuípe, Recôncavo Baiano: uma história surpreendente nos trouxe a esta cidade de 30 mil habitantes. Os personagens que viemos procurar não temos nem o endereço, mas estamos com sorte. Claudio e Dona Nilma são filho e mãe. Não se conheciam até o ano passado. E não foi por falta de empenho. Ela buscou pistas, informações. Tudo em vão. Chegou a desistir.
“Cheguei a perder a esperança. Não sabia nem se ele estava vivo", conta Dona Nilma.
Filho de pais separados, Claudio ainda era um recém-nascido quando perdeu o contato com a mãe: “Eu queria conhecê-la, queria saber se eu tinha irmãos. Queria saber qual era a vida que eu tinha antes de nascer".
Claudio não tirava da cabeça o seu desejo e quando se viu chegando aos 30 anos sem nenhuma notícia da mãe, foi à Praça da Piedade e fez um apelo na TV: “Por favor, Nilma, minha mãe, eu faço 30 anos como você sabe, nesta sexta-feira, e gostaria muito que você estivesse presente neste dia especial para mim", pediu.
Não foi apenas o melhor presente de aniversário. Depois do reencontro, mãe e filho ganharam uma nova família.
Mais do que um reencontro, a história de Claudio e Dona Nilma é também um exemplo de persistência, diz Josenilda. Com a experiência de quem enfrentou a dor do desaparecimento e morte de sua única filha, ela recomenda: “Nunca desista dos seus sonhos, corra atrás, mesmo que você encontre as portas fechadas, insista. A persistência é a chave. Pode ter certeza que você terá um resultado".
Fonte: Jornal Floripa
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