segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Caso Neda: lápide da iraniana é alvo de vândalos; médico que tentou salvá-la diz que a morte supera a repressão



RIO e LONDRES - Simpatizantes do governo iraniano vandalizaram a lápide do túmulo da Neda Soltan, a estudante que se tornou um símbolo da violência desencadeada em Teerã após a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, no dia 12 de junho. A mulher foi morta no dia 20 daquele mês durante um protesto na capital e o vídeo que mostra a sua morte rodou o mundo pela internet.
Segundo o "Times", o incidente foi confirmado por Caspian Makan, noivo de Neda. Ele fugiu do Irã depois de ser liberado sob fiança, após sua detenção de 65 dias. Makan, de 38 anos, revelou que o governo tentou forçar a família de Neda, além do próprio noivo, a afirmar que a jovem foi morta pela oposição e, não, por milicianos do governo em motocicletas, como testemunhas disseram que ocorreu. Um documentário que será exibido pela TV britânica BBC na próxima semana mostra uma imagem ainda não vista pelo público: manifestantes capturando um dos milicianos segundos após o tiroteio.
Em entrevista ao GLOBO, o médico e tradutor iraiano Arash Hejazi, que ganhou fama mundial ao tentar socorrer a mulher e se exilou no Reino Unido após a divulgação das imagens, confirmou a captura do miliciano que matou a iraniana. ( Relembre a história de Arash, revelada no site do GLOBO )
- Eu não vi o momento do tiroteio porque estava ajudando-a, mas depois vi os manifestantes segurando um homem e apreendendo a sua identidade. Escutei o homem gritando: "não era a minha intenção matá-la". Ele era um miliciano Basij - confirmou Arash.
Arash não mantém contato com a família de Neda, mas acompanha o noticiário sobre o episódio e leu a entrevista de Makan, que disse ter sido espancado durante os 65 dias em que esteve preso. O noivo da jovem também revelou que no dia 4 de novembro, os pais da iraniana foram atacados e detidos quando participavam de um protesto no Irã. Uma fonte contou ao "Times" que membros das forças de segurança ameaçaram o casal, afirmando que eles teriam o mesmo fim da filha.
Segundo o noivo de Neda, "a violação da lápide feriu o coração de milhões de pessoas que lutam pela liberdade no mundo. Os repressores, acreditando que poderiam conter os gritos de liberdade, atacaram, espancaram, ameaçaram e insultaram os pais de Neda. E isso ocorre ao mesmo tempo em que a República Islâmica do Irã nega o assassinato de Neda". ( Parentes de Neda teriam sido expulsos de casa )
- Esses episódios (espancamento e prisão dos pais e do noivo de Neda) mostram como o governo pode ir longe, mas ao mesmo tempo o quão frágil está. A força de Neda supera toda a nação e a fragilidade do governo - afirmou Arash.
Em um vídeo de Hajar Rostami, a mãe da jovem morta, limpa o túmulo da filha e lamenta: "Que desgraça! Onde está a lápide da minha filha? Minha filha não tem mais lápide...seus desgraçados! Por que não deixam a minha filha em paz?"
O governo vem pressionando os pais da menina a afirmar que ela não foi morta pela milícia Basij, mas sim pelos "inimigos do Irã". Segundo a família de Neda, se eles colocassem a culpa nos manifestantes da oposição Neda seria declarada mártir e os pais receberiam pensão.
Arash contou que chegou a ser acusado, informalmente, de responsável pela morte da iraniana. Segundo ele, Teerã o processa e tenta a sua extradição.
- Eles estão confusos. Às vezes dizem que querem a minha extradição, pois eu sou uma testemunha. Já afirmaram que eu era suspeito e até responsável por uma conspiração mundial. Na semana passada, um grupo de 20 milicianas protestou na Embaixada Britânica de Teerã, afirmando que eu havia matado Neda. Acho que não preciso provar nada, pois todos viram que eu estava tentando ajudá-la.


O Globo

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