segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Hospital gaúcho vai investigar todas as mortes de bebês dos últimos 2 anos

PORTO ALEGRE - O titular da 1ª Delegacia de Polícia (DP) de Canoas, Guilherme Pacífico da Silva, vai investigar todas as mortes de bebês ocorridas nos últimos dois anos no Hospital Universitário da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), onde uma técnica de enfermagem de 25 anos foi presa e acusada de envenenar 11 recém-nascidos com morfina e diazepan. Os 11 bebês estão internados na UTI e não correm mais risco de morrer.
O delegado pedirá a exumação de corpos de bebês mortos desde o início deste ano para verificar se têm alguma relação com o crime atribuído à técnica de enfermagem Vanessa Pedroso Cordeiro.
Num primeiro momento, serão analisados os prontuários de todas as mortes de recém-nascidos ocorridas desde o início do ano. Bebês que tenham nascido saudáveis, adoecido e morrido sem uma causa aparente terão a morte investigada.
- Ela trabalha há dois anos lá. Pode ser que não tenha nenhum caso, mas também pode haver vários. Queremos esgotar qualquer possibilidade de que tenha ocorrido algo semelhante no passado - diz o chefe de investigações da 1ª DP, Sérgio Zolin.
Além do Hospital da Ulbra, Vanessa trabalha no Hospital Regina, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Na noite de sexta-feira, ao ser detida no hospital, Vanessa admitiu ser a responsável pelas doses de morfina e diazepan dadas à recém-nascidos. A medicação, sem acompanhamento médico, pode ser fatal. Depois, com a presença de seu advogado, negou o crime. Ela foi presa em flagrante e indiciada por tentativa de homicídio qualificado, por envenenamento.
Segundo a diretora-geral do hospital, Eleonora Walcher, a droga, que deixava bebês com seis horas de vida fracos, desfalecidos e com parada respiratória, só não resultou em morte porque o hospital é equipado com Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Nenhum dos 11 bebês corre risco de vida.
Vanessa teria admitido o crime após ver uma seringa com vestígios de morfina apreendida pela polícia em sua pochete. Para justificar o crime, falou que enfrentava problemas psicológicos. Foi levada para a Penitenciaria Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre.

Como se chegou ao nome da suspeita
Os 11 casos de uso indevido de sedativos em bebês no Hospital Universitário da Ulbra, em Canoas, ocorreram no setor de Internação Obstétrica, onde ficam mães e recém-nascidos.
A primeira ação de Vanessa teria ocorrido na quinta-feira, 5 de novembro. Nos dias seguintes, quando ela estava de folga, nada de anormal foi percebido na maternidade. Na segunda-feira, 9, com Vanessa de voltou ao trabalho e surgiram três novos casos, assustando a direção do hospital. Começaram a se tomar a primeiras providências para tentar descobrir as origens do problema.
Na quarta-feira, 11, mais cinco recém-nascidos, sadios, prestes a ir para casa, foram levados com urgência para a UTI neonatal devido a súbitas paradas respiratórias.
- Nesse dia, decidimos acionar os órgãos de saúde. Foi composta uma comissão especial para investigar ao extremo a situação. Foram mais de 60 profissionais, entre médicos, psicólogos, engenheiros, ambientalistas - explicou o diretor-executivo do hospital, Luciano Melo.
Havia suspeita de contaminação ou infecção hospitalar. Foram adotadas várias medidas de precaução e realizadas análises de água, do ar, todas com resultados negativos. Ao mesmo tempo, amostras de sangue e urina dos bebês seguiram para exames no Centro de Informação Toxicológica do Estado. Os resultados ficaram prontos na sexta-feira, 13.
Bebês que só se alimentavam de leite materno haviam ingerido indevidamente calmantes. Nesse mesmo dia, entre 15h30m e 16h, mais dois recém-nascidos apresentaram os mesmos sintomas. Vanessa tinha iniciado o turno de plantão às 14h.
- Os indicativos convergiam para uma ação criminosa - lembrou a diretora-geral do hospital, Heleonora Walcher.
O delegado Guilherme Pacífico e sua equipe chegaram ao local às 18h. E já havia uma suspeita sobre Vanessa. Todos os casos ocorreram nos horários de trabalho dela, que seria sempre a primeira a perceber a enfermidade das crianças. Vanessa estaria preocupada em se livrar de uma pochete e acabou detida. Apreendida pela polícia, a bolsa tinha objetos pessoais de Vanessa e uma seringa com líquido incolor semelhante à morfina.

Pai bombeiro quer acreditar que não é verdade
Habituado a salvar vidas, o pai de Vanessa, um tenente do Corpo de Bombeiros vive um drama,
- Eu quero acreditar que não é verdade. Se ela fez qualquer coisa, ela jamais quis matar crianças - diz o bombeiro de 46 anos, que pediu para não ter seu nome divulgado.
Em entrevista ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, ele lembrou que a filha ajudou a cuidar do irmão pequeno e foi professora do curso primário na igreja.
Para ele, Vanessa confessou o crime em função da pressão psicológica.
- Antes de bombeiro, sou policial. Eu sei o que significam quatro, cinco policiais em cima de uma pessoa perguntando e pressionando. Muitas coisas que ela falou foram em função da pressão.
O bombeiro afirmou que a filha, quando era bebê, teve convulsões e depois passou a tomar um anticonvulsivo. O medicamento foi dado até os seis anos. Depois, acrescentou, ele e a mãe de Vanessa se separaram e Vanessa chegou a fazer tratamento psicológico. Porém, afirmou, ela não toma medicamentos pesados.
- Houve a separação minha e da mãe dela, que teve muita influência nela. Ela inclusive chegou a se tratar com uma psicóloga. Quando ela tinha quatro ou cinco anos, eu e a mãe dela nos separamos. Ela sofreu muito, até pela religiosidade, que incentivava estar sempre com a família. Depois reatamos e vivemos por muito tempo juntos - explicou.
Perguntado se Vanessa tomava algum tipo de medicação, ele disse que não:
- Medicação pesada, não.
Para ele, Vanessa e o irmão tiveram uma infância boa na cidade gaúcha de Cruz Alta e a filha, ao contrário do que disse à polícia, não queria ser médica, mas veterinária.
- Ela queria ser veterinária. Depois, quando já era técnica em enfermagem, como eu sou bombeiro, ela fez cursos para retirar as pessoas acidentadas das ferragens. Mas para mim ela nunca disse: "pai, quero ser médica". Se tivesse, nós lutaríamos para isso.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Verbratec© Desktop.