No mundo inteiro, a pornografia infantil eletrônica tornou-se uma nova modalidade de comunicação entre os usuários da Internet, atraindo adultos, jovens e crianças através dos enunciados sobre a pedofilia virtual. A dimensão eletrônica deste tipo de pornografia é reveladora de uma linguagem visual e imaginária, onde a expressão sexual do adulto é representada pela banalização da sexualidade infantil.
Isto significa que a tendência infantil da condição humana é freqüentemente convocada na pedofilia virtual, na medida em que a mensagem preconizada aponta para a idéia de que as crianças estão ao alcance das mãos (através dos olhos). A criança como objeto da libido corresponde a uma fantasia retroativa, que exprime "a pulsão sexual em seu estado nascente" (Anatrella 2001:199). Neste sentido, a imagem do pequeno corpo se assemelha com um brinquedo erótico apreciado pelos adultos que sentem atração sexual por crianças.
Além de registrar o abuso de crianças e bebês, a pornografia eletrônica é também uma forma rentável de exploração de meninas e meninos. Ela incentiva a prostituição infantil com fotos, DVDs e vídeos mostrando nus de adolescentes em poses eróticas. A atitude criminosa das pessoas que trabalham para as redes internacionais de pornografia infantil consiste, entre outras, em enganar e seduzir famílias que deixam os filhos posarem para fotos pseudo-artísticas.
É verdade que muitos internautas desavisados, quando se deparam com este material, ficam perplexos e horrorizados com as imagens de sexo explícito com a criança e procuram os canais competentes de denúncia. Entretanto, os que recorrem às imagens obscenas encontram um tipo de sensação e satisfação apenas auto-erótica, enquanto outros acreditam que podem - de fato - manter relações carnais com a criança. Ainda se sabe muito pouco sobre a influência da pornografia infantil no adulto; mesmo que possa reascender processos recalcados e mal resolvidos no indivíduo, dificilmente ficamos indiferente ao inusitado das cenas da pedofilia virtual, em particular porque elas registram o sofrimento real dos sobreviventes destas experiências.
Em razão disso, entidades sociais se mobilizaram e a produção de matérias nos jornais e TVs aumenta cada vez mais, oferecendo maior esclarecimento à opinião pública. Segundo uma pesquisa feita pela ANDI/IAS (2002), concernentes aos temas que envolvem a violência infantil, o noticiário nacional tem dado maior cobertura às modalidades da exploração e abuso sexual, com reportagens que se prendem mais à denúncias do que à busca de soluções. Quanto à pornografia infantil eletrônica, na avaliação da mídia e das entidades de defesa da infância, ela mereceu destaque porque expôs abertamente o traço sádico do adulto frente à criança.
Apesar do seu conteúdo ser bastante chocante para alguns, o que dizer das imagens de crianças sofrendo violências físicas que em geral, os jornais publicam na tentativa de denunciar as inúmeras modalidades de agressão.
Exemplo disso é a foto publicada na sessão Panorâmica do jornal Folha de S.Paulo (1/6/02), de uma criança de cinco ou seis anos de idade ameaçada por um homem com um furador de gelo. Ela chorava e demonstrava medo e desespero, enquanto ele, por sua vez, dominava a situação. A legenda da foto dizia: "criança tomada como refém chora após um homem ferir com um furador de gelo, em Manila (Filipinas); a criança morreu dos ferimentos e o seqüestrador foi morto pela polícia".
Do ponto de vista do olhar do leitor, ela é tão terrível quanto aquelas que registram cenas de bebês e crianças acorrentadas na cama, atestando o ato pedófilo.
Estes fenômenos, descontextualizados nos canais de comunicação, demonstram a confusão e a ambigüidade no modo como a "cultura das mídias" concebe o tema da infância (Santaella 1992). Quando o caráter sexual não comparece na fotografia, privilegia-se a mera exibição do horror pelo horror, deixando à margem a reflexão crítica do problema. Em síntese, a censura e a retirada de circulação da pornografia infantil é justificada em razão de haver não só o testemunho real da vítima, mas porque escancara uma versão do desejo perverso do pedófilo. Mas a aversão do olhar daquele que vê uma situação montada de sacanagem seria a mesma quando se trata da violência explícita.
Desta forma, cria-se uma atitude social de revolta diante da violência perpetrada à infância, onde a mobilização da opinião pública é baseada sob o ponto de vista da vingança desmedida e irracional. Com efeito, quanto à pedofilia virtual, a cidadania permanece desinformada no que tange às vicissitudes do desejo do pedófilo, seja pelo tabu do incesto e a vergonha social que inibem a investigação do tema, como pela dificuldade dos pais e educadores ao lidarem com as manifestações da sexualidade infantil.
É fato que a pornografia precoce deve ser combatida, porém, isto não resolve o problema, visto que a moral sexual civilizada tem a função de reprimir o caráter obsceno da fantasia sexual do pedófilo, deixando todos nós sem saber das causas das suas ações. O imaginário da pedofilia desvela, nua e cruamente, as vias perversas do desejo, exibindo um espetáculo infame, onde a criança é identificada como um objeto deflagrador do desejo do adulto.
A pedofilia ressurge na calada da vida cotidiana como uma perversão sexual, a ponto de interferir drasticamente no desenvolvimento infantil, provocando nas crianças traumas irreversíveis. A infância é convocada pelo adulto a assumir uma identidade sexual, visivelmente indicada nas imagens eletrônicas pornográficas. Este fenômeno, que é fruto da cultura moderna, se destaca como um sintoma do mal-estar da atualidade, ao mesmo tempo que é indicativo de uma patologia psíquica contemporânea.
Sua presença pretende legitimar a sexualidade perversa recriando na outra cena virtual a hegemonia da imagem com o intuito de produzir, no receptor, a fascinação e o supra-sumo do gozo. O que se vê é uma situação artificial encarregada de liberar a libido do cativeiro psíquico, "a fim de escapar da vida real, morna e impotente" do voyeur (Zizek: 2001). O "universo das delícias eróticas" (Birman: 2000) da pedofilia virtual desafia, pelo menos em tese, a ordem geracional da infância, da adolescência e da vida adulta. Conforme se pode ver, nas inúmeras reproduções de imagens de crianças bem pequenas aproximadas do órgão genital masculino, aquilo que jamais se havia visto deste jeito.
Para alguns, elas se tornam desejáveis porque - por definição - na estrutura edipiana o filho esta fora da cena do sexo dos pais, e justamente por isso as fantasias inconscientes da primeira infância servem para animar o imaginário da pedofilia virtual. Mas esta explicação psicanalítica não torna menos execrável tal prática, na medida em que não são as próprias crianças as que querem isso, e sim o adulto que ficou congelado na cena fantasiosa da relação sexual dos pais.
Bibliografia
Anatrella, Tony - A diferença interditada - sexualidade, educação, violência. São Paulo. Ed. Loyola, 2001.
Santaella, Lúcia - Cultura das Mídias. São Paulo. Ed. Razão Social, 1992.
Birman, Joel - Mal-estar na atualidade. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2000.
Zizek, Slavoj - A fuga para o real. Caderno Mais, in FSP, 8/4/01.
Revista Infância na Mídia - 12º edição - março 2002.
FANI HISGAIL - Psicanalista e Dra em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. hisgail@uol.com.br
Isto significa que a tendência infantil da condição humana é freqüentemente convocada na pedofilia virtual, na medida em que a mensagem preconizada aponta para a idéia de que as crianças estão ao alcance das mãos (através dos olhos). A criança como objeto da libido corresponde a uma fantasia retroativa, que exprime "a pulsão sexual em seu estado nascente" (Anatrella 2001:199). Neste sentido, a imagem do pequeno corpo se assemelha com um brinquedo erótico apreciado pelos adultos que sentem atração sexual por crianças.
Além de registrar o abuso de crianças e bebês, a pornografia eletrônica é também uma forma rentável de exploração de meninas e meninos. Ela incentiva a prostituição infantil com fotos, DVDs e vídeos mostrando nus de adolescentes em poses eróticas. A atitude criminosa das pessoas que trabalham para as redes internacionais de pornografia infantil consiste, entre outras, em enganar e seduzir famílias que deixam os filhos posarem para fotos pseudo-artísticas.
É verdade que muitos internautas desavisados, quando se deparam com este material, ficam perplexos e horrorizados com as imagens de sexo explícito com a criança e procuram os canais competentes de denúncia. Entretanto, os que recorrem às imagens obscenas encontram um tipo de sensação e satisfação apenas auto-erótica, enquanto outros acreditam que podem - de fato - manter relações carnais com a criança. Ainda se sabe muito pouco sobre a influência da pornografia infantil no adulto; mesmo que possa reascender processos recalcados e mal resolvidos no indivíduo, dificilmente ficamos indiferente ao inusitado das cenas da pedofilia virtual, em particular porque elas registram o sofrimento real dos sobreviventes destas experiências.
Em razão disso, entidades sociais se mobilizaram e a produção de matérias nos jornais e TVs aumenta cada vez mais, oferecendo maior esclarecimento à opinião pública. Segundo uma pesquisa feita pela ANDI/IAS (2002), concernentes aos temas que envolvem a violência infantil, o noticiário nacional tem dado maior cobertura às modalidades da exploração e abuso sexual, com reportagens que se prendem mais à denúncias do que à busca de soluções. Quanto à pornografia infantil eletrônica, na avaliação da mídia e das entidades de defesa da infância, ela mereceu destaque porque expôs abertamente o traço sádico do adulto frente à criança.
Apesar do seu conteúdo ser bastante chocante para alguns, o que dizer das imagens de crianças sofrendo violências físicas que em geral, os jornais publicam na tentativa de denunciar as inúmeras modalidades de agressão.
Exemplo disso é a foto publicada na sessão Panorâmica do jornal Folha de S.Paulo (1/6/02), de uma criança de cinco ou seis anos de idade ameaçada por um homem com um furador de gelo. Ela chorava e demonstrava medo e desespero, enquanto ele, por sua vez, dominava a situação. A legenda da foto dizia: "criança tomada como refém chora após um homem ferir com um furador de gelo, em Manila (Filipinas); a criança morreu dos ferimentos e o seqüestrador foi morto pela polícia".
Do ponto de vista do olhar do leitor, ela é tão terrível quanto aquelas que registram cenas de bebês e crianças acorrentadas na cama, atestando o ato pedófilo.
Estes fenômenos, descontextualizados nos canais de comunicação, demonstram a confusão e a ambigüidade no modo como a "cultura das mídias" concebe o tema da infância (Santaella 1992). Quando o caráter sexual não comparece na fotografia, privilegia-se a mera exibição do horror pelo horror, deixando à margem a reflexão crítica do problema. Em síntese, a censura e a retirada de circulação da pornografia infantil é justificada em razão de haver não só o testemunho real da vítima, mas porque escancara uma versão do desejo perverso do pedófilo. Mas a aversão do olhar daquele que vê uma situação montada de sacanagem seria a mesma quando se trata da violência explícita.
Desta forma, cria-se uma atitude social de revolta diante da violência perpetrada à infância, onde a mobilização da opinião pública é baseada sob o ponto de vista da vingança desmedida e irracional. Com efeito, quanto à pedofilia virtual, a cidadania permanece desinformada no que tange às vicissitudes do desejo do pedófilo, seja pelo tabu do incesto e a vergonha social que inibem a investigação do tema, como pela dificuldade dos pais e educadores ao lidarem com as manifestações da sexualidade infantil.
É fato que a pornografia precoce deve ser combatida, porém, isto não resolve o problema, visto que a moral sexual civilizada tem a função de reprimir o caráter obsceno da fantasia sexual do pedófilo, deixando todos nós sem saber das causas das suas ações. O imaginário da pedofilia desvela, nua e cruamente, as vias perversas do desejo, exibindo um espetáculo infame, onde a criança é identificada como um objeto deflagrador do desejo do adulto.
A pedofilia ressurge na calada da vida cotidiana como uma perversão sexual, a ponto de interferir drasticamente no desenvolvimento infantil, provocando nas crianças traumas irreversíveis. A infância é convocada pelo adulto a assumir uma identidade sexual, visivelmente indicada nas imagens eletrônicas pornográficas. Este fenômeno, que é fruto da cultura moderna, se destaca como um sintoma do mal-estar da atualidade, ao mesmo tempo que é indicativo de uma patologia psíquica contemporânea.
Sua presença pretende legitimar a sexualidade perversa recriando na outra cena virtual a hegemonia da imagem com o intuito de produzir, no receptor, a fascinação e o supra-sumo do gozo. O que se vê é uma situação artificial encarregada de liberar a libido do cativeiro psíquico, "a fim de escapar da vida real, morna e impotente" do voyeur (Zizek: 2001). O "universo das delícias eróticas" (Birman: 2000) da pedofilia virtual desafia, pelo menos em tese, a ordem geracional da infância, da adolescência e da vida adulta. Conforme se pode ver, nas inúmeras reproduções de imagens de crianças bem pequenas aproximadas do órgão genital masculino, aquilo que jamais se havia visto deste jeito.
Para alguns, elas se tornam desejáveis porque - por definição - na estrutura edipiana o filho esta fora da cena do sexo dos pais, e justamente por isso as fantasias inconscientes da primeira infância servem para animar o imaginário da pedofilia virtual. Mas esta explicação psicanalítica não torna menos execrável tal prática, na medida em que não são as próprias crianças as que querem isso, e sim o adulto que ficou congelado na cena fantasiosa da relação sexual dos pais.
Bibliografia
Anatrella, Tony - A diferença interditada - sexualidade, educação, violência. São Paulo. Ed. Loyola, 2001.
Santaella, Lúcia - Cultura das Mídias. São Paulo. Ed. Razão Social, 1992.
Birman, Joel - Mal-estar na atualidade. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2000.
Zizek, Slavoj - A fuga para o real. Caderno Mais, in FSP, 8/4/01.
Revista Infância na Mídia - 12º edição - março 2002.
FANI HISGAIL - Psicanalista e Dra em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. hisgail@uol.com.br
"visto que a moral sexual civilizada tem a função de reprimir o caráter obsceno da fantasia sexual do pedófilo, deixando todos nós sem saber das causas das suas ações."
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Isso é um fato, aproveitando a deixa da anônimidade, vim falar sobre o tema, já que eu sou um dos que tem essa parafilia.
Pra mim isso é um passa tempo que gosto muito. E em contra-senso com as expectativas não sou apreciador de violência, sado-masoquismo, nem humiliações.
Eu penso que o que me atraí nesse tipo de pornografia é algo que eu perdi na minha infância. Uma espécie de compensação aos "amores" não correspondidos de quando eu era novo e extremamente confuso sobre os outros (tenho DDA - Distúrbio de Déficit de Atenção). Ou seja, o meu referencial para beleza, e pureza ficou parcialmente travado no meu "eu" de quando eu tinha entre 10 e 14 anos.
Hoje sou um homem normal. A distância das salas de aula (após 3° ano) me permitiu encontrar paz pra organizar minha cabeça. Não me sinto mais incomodado se cercado por pessoas que não conheço, e interajo bem com o sexo oposto.
Também aprendi a lidar com o meu DDA. E hoje sou mais organizado que a maioria das pessoas, como forma de compensação ao distúrbio.
Sou perfeitamente capaz de me excitar sexualmente por mulheres completamente maduras, me apaixonar e deseja-las. Não creio que enfrentarei qualquer embargo na minha vida devido a esse distúrbio sexual.
Paralelamente não pretendo largar meu vício. Gosto muito de pornografia, e é um passa tempo querido meu que pretendo manter mesmo sob o risco de ser marginalizado pela minha coleção de pornografia infântil.
Não estou defendendo nada, nem oferecendo nem uma solução para o problema. Mas este é um problema social e deve ser mostrado de maneira tão ampla quanto possivel.
deve ficar na cadeia
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