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segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Drogas, o real inimigo na fronteira
Folha de São Paulo - CLÓVIS ROSSI
Ameaça não são as bases dos EUA, mas as do narcotráfico; problema não é diplomático ou militar, mas delinquência.
SE O BRASIL quer mesmo ajudar Colômbia e Venezuela a se entenderem para o monitoramento conjunto da fronteira entre eles, como disse Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático do presidente Lula, a Cláudia Antunes, desta Folha, tem que começar por entender claramente o que acontece na fronteira.
As autoridades brasileiras poderiam, para começar, ler reportagem publicada na quinta-feira pelo jornal espanhol "El País" sobre San Antonio del Táchira, o passo mais transitado da fronteira.
O relato é assustador não apenas pelo que descreve em si mas também pelo fato de que há impressionantes pontos de contato com o que sucede em favelas do Rio de Janeiro e em outros pontos do Brasil em que o Estado perdeu o controle para o crime organizado.
Em San Antonio Táchira, como em certas favelas do Rio, chegaram as milícias para acabar com a pequena delinquência. Em cinco anos, tomaram conta dos negócios mais lucrativos como o contrabando de combustível e de alimentos e o tráfico de drogas em larga escala.
Cobram um pedágio, chamado "vacuna", de comerciantes e até de taxistas e mototaxistas, numa faixa entre 40 e 400 por mês (para comerciantes) e de mais de 360 para empresas de táxi.
O problema da fronteira colombiana-venezuelana não é, portanto, de cunho militar ou diplomático. É de delinquência, como, de resto, o é a ação dos narcoterroristas das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Demorou, mas Marco Aurélio finalmente reconheceu que "a Colômbia tem hoje problema que não é de fronteira, é interno, um problema que se estendeu e assumiu dimensão maior, dada a vinculação da guerrilha com o narcotráfico".
O único erro nessa avaliação é o de considerar "interno" o problema da Colômbia. Não é. Narcotráfico só é menos globalizado do que as transações financeiras. Não se vai resolver sem que haja uma ação coordenada pelo menos no âmbito regional, o único em que o Brasil pode ter um papel de liderança.
É tanto um problema também brasileiro, que Luiz Eduardo Soares, que foi secretário nacional de Segurança, no início do primeiro governo Lula, em artigo recente para a revista "Nueva Sociedad", informa que cerca de 65% dos mais de 6.000 crimes letais que ocorrem todos os anos no Rio de Janeiro "têm relação direta ou indireta com o tráfico de drogas" . Dá, portanto, 4.000 mortes/ano pela violência associada ao narcotráfico.
Detalhe relevante: os mortos por consumo excessivo são menos de cem ao ano, sempre no Rio.
Não estou dizendo que consumir é saudável, mas é óbvio que o problema principal é a violência inevitavelmente ligada ao narcotráfico.
Também na Venezuela, como no Brasil e na Colômbia, há um grave problema de segurança que dez anos de governo Hugo Chávez só fizeram agravar.
A ameaça de guerra à Colômbia, feita por Chávez há dias, é portanto, escolher o alvo errado (além da habitual bufonaria chavista). O inimigo não são as bases dos Estados Unidos na Colômbia, mas as incontáveis bases -e soldados- do narcotráfico em todos os países da América Latina.
Fonte: UNIAD
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