domingo, 15 de novembro de 2009

Quem será o próximo?

Seis testemunhas de crimes atribuídos a ex-deputado já foram assassinadas no Amazonas

De tão incrível, audacioso e violento, o esquema criminoso atribuído ao deputado estadual cassado Wallace Souza (PP), do Amazonas, e a seu filho Raphael parece saído de um livro ou filme. Eles são acusados de participar de uma organização criminosa com mais de 40 pessoas, que usava a estrutura da Polícia Militar para vender drogas, extorquir e matar. O Ministério Público e a Polícia Civil ainda acusam Wallace de aproveitar as informações privilegiadas sobre quem ia ser morto para exibir os crimes consumados no programa policial televisivo do deputado, o Canal livre, e elevar a audiência. Nas últimas semanas, no entanto, essa história ficou ainda pior. Desde que Wallace foi preso, há um mês, e à medida que as investigações do Ministério Público e da Polícia Civil avançam, seis testemunhas dos crimes da quadrilha foram assassinadas.
As seis vítimas eram supostos traficantes e pistoleiros ligados ao grupo de Wallace. Delas, cinco foram assassinadas após prestar depoimento. A sexta, Marcos Paulo Barroso, é a única que nem estava na lista das pessoas a ser ouvidas. A polícia suspeita que Wallace e o filho tenham ordenado os assassinatos de dentro do 1o Batalhão de Polícia de Choque, em Manaus, onde estavam presos.
Até o dia 2 de novembro, Wallace e o filho Raphael, recém-condenado a 11 anos de prisão, estavam juntos no Batalhão, apesar de a permanência de pai e filho no mesmo lugar ser considerada “absurda” pelos representantes do Ministério Público. Como o local não tem celas, Wallace e Raphael podiam circular livremente pelas dependências do Batalhão e receber visitas constantes de parentes e amigos. Há dez dias, Wallace foi transferido para um hospital por causa de problemas de saúde. Um pedido de transferência para um presídio de segurança máxima ainda não foi atendido.
A Justiça descobriu a existência da quadrilha há pouco mais de um ano, quando Moacir Jorge da Costa, ex-policial militar e ex-segurança de Wallace, foi preso por tráfico. A forma de atuação do grupo despertou interesse internacional. Desde julho, equipes de TV da Alemanha, da Argentina, do Chile e da França estiveram em Manaus para fazer reportagens sobre o assunto.
Wallace dividia a apresentação do programa Canal livre com o vice-prefeito de Manaus, Carlos Souza, e seu irmão Fausto Souza, vereador. Com o uso de bordões como “bandido bom é bandido morto”, Wallace ganhou a fama de político que combatia o crime. Os resultados eleitorais são inegáveis. Deputado estadual por três mandatos consecutivos, Wallace foi o mais votado em 2006, com 48.965 votos. No mesmo ano, Carlos Souza foi eleito deputado federal com 147.212 votos e Fausto foi eleito vereador com pouco mais de 6 mil votos. No dia 1o de outubro, a Assembleia Legislativa cassou o mandato de Wallace. Os recentes assassinatos mostram que, mesmo com Wallace preso e sem mandato, a quadrilha ainda pode ser perigosa.

Sintia Maciel, de Manaus (AM)


Época

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