domingo, 15 de novembro de 2009

Infartos crescem entre as mulheres e forçam uma mudança de vida

Recuperada do infarto, Lucia reviu hábitos e hoje não abre mão de passear com seus cães diariamente - Daniel Marenco

Estudos dizem que elas têm mais chances de sobreviver após a ocorrência da lesão no músculo cardíaco, em comparação com os homens

O coração de Lucia Zambelli não suportou a rotina exaustiva de 10 horas de trabalho, esticada por uma segunda faculdade à noite e uma pós-graduação no fim de semana.
Em junho de 2000, ela sofreu um infarto agudo do miocárdio enquanto trabalhava. O primeiro sinal foi uma pontada nas costas. Minutos depois, já no hospital, a dor intensa a levou à UTI. Foram 30 dias hospitalizada.
Geralmente associado a homens, o número de infartos aumentou entre as mulheres nas duas últimas décadas. No entanto, elas têm mais chances de sobreviver após a ocorrência da lesão no músculo cardíaco, em comparação com os homens. As conclusões são de dois estudos inéditos que começaram a circular no Archives of Internal Medicine, da Associação Médica Norte-Americana. Os trabalhos analisaram o risco e as taxas de mortalidade decorrentes de problemas coronarianos, levando em conta a idade e o sexo.
Autora principal do estudo Tendências de Riscos e Prevalência de Doenças Coronárias na Meia Idade entre Cada Sexo, a neurologista Amystis Towfighi conta que os infartos aumentaram entre as mulheres de meia idade, enquanto a taxa vem caindo entre os homens.
– Historicamente, mulheres nessa faixa etária apresentavam baixos riscos de desenvolverem problemas vasculares, comparado a homens da mesma idade – diz.
De acordo com o cardiologista Renault Ribeiro Jr., do Hospital Santa Lucia, o aumento da incidência de doenças coronarianas no sexo feminino não é um fenômeno exclusivo dos EUA, mas vem ocorrendo em todo o mundo. Ele explica que resultados como os da pesquisa são reflexo da mudança de comportamento feminino.
– As mulheres estão mais expostas a fatores de risco, como o colesterol alto, estresse, sobrepeso. Isso se acentua com a menopausa, quando elas perdem os hormônios de proteção e ficam mais vulneráveis – diz.

Mais lazer, menos trabalho
Lucia Zambelli nunca havia sentido nada anormal na sua saúde até sofrer o infarto. Exceto a rotina intensa de trabalho, não costumava beber nem fumar, dois fatores de risco conhecidos das doenças coronarianas. O susto a fez rever o modo de vida.
– Ainda no hospital, me veio a garra de viver. Eu sabia que ia voltar. Com mais vida e menos trabalho – relembra a carioca, que mora na zona sul de Porto Alegre há 24 anos.
Hoje, nove anos depois, completamente recuperada, considera a experiência transformadora.
– Foi uma imprudência. Eu comia correndo, dormia entre cinco e seis horas por dia. Quando tirava férias, não me desligava do trabalho. A vida era a mil – avalia Lucia.
Ao voltar para casa, depois da internação, mudou hábitos. Diminuiu as horas trabalhadas e passou a se exercitar uma hora por dia. Mãe de dois filhos adultos, ela descobriu um novo prazer nos últimos anos. No pátio de casa, cuida de quatro cães adotados, dois deles resgatados das ruas. É uma das formas de desacelerar.


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