domingo, 1 de novembro de 2009

Apesar da Lei Seca, jovens morrem mais


RIO - O medo de perder o filho num acidente de trânsito tira o sono de muitos pais. Não é por menos: essa é uma das principais causas de morte de jovens no Brasil. O Rio de Janeiro, apesar de ter conseguido, com as operações da Lei Seca, reduzir em mais de 20% a quantidade de vítimas de acidentes nos últimos meses, não freou a mortalidade no trânsito de pessoas entre 15 e 29 anos. O número subiu 26% entre janeiro e agosto deste ano, em comparação com o mesmo período de 2008, de acordo com o Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde. Os perigos enfrentados pela juventude são o tema de uma série de reportagens que O GLOBO começa a publicar neste domingo.
O comportamento de risco dos jovens também se reflete nas estatísticas do Detran. O número total de multas aplicadas pelo órgão caiu 5%, passando de 1,8 milhão no primeiro semestre de 2008 para 1,7 milhão no mesmo período deste ano. Na contramão desses dados, estão os números de infrações cometidas apenas por motoristas com idades entre 18 e 30 anos, que cresceram 4%, passando de 156,6 mil para 163,3 mil. Segundo o Detran, o excesso de velocidade - que aumenta, de acordo com especialistas, os riscos de acidentes e agrava as suas consequências - é o tipo de infração mais cometida pelos jovens no trânsito.

Sem noção dos perigos
De tempos em tempos, acidentes com morte de jovens chocam a cidade. Há três anos, uma tragédia na orla da Lagoa tirou a vida de cinco moças e rapazes. O tempo não amenizou a dor de Gabriel Padilha, pai de uma das vítimas, uma adolescente de 17 anos.
- Os jovens são impetuosos por natureza, querem testar limites e ainda não têm formado em suas mentes o conceito da morte, que para eles é algo impensável e muito distante. Parecem não ter noção real de perigo. As tragédias têm acontecido em números alarmantes e tornou-se comum os jornais estamparem fotos de pais desesperados, diante dos corpos dos filhos cobertos com um plástico preto, ao lado de carros destroçados - diz Padilha.
Os jovens que ainda não entenderam as razões para não dirigir após terem bebido já criaram algumas formas para driblar a fiscalização. Eles se comunicam em rede por Twitter (microblog) e programas de mensagem instantânea. Mas essa brincadeira pode custar caro. Carlos Alberto Lopes, coordenador das operações da Lei Seca, realizadas pela Secretaria estadual de Governo, explica que quem divulga essas informações tem responsabilidade direta caso haja um acidente com a pessoa que recebeu a mensagem:
- Os twitteiros precisam ter cuidado ao dar informações, que nem sempre são verdadeiras, sobre os locais das operações. Ao pensar que estão ajudando, eles podem contribuir para que o amigo sofra um acidente e até, infelizmente, encontre a morte.

Jovem mantem porta-retratos com imagem do acidente
Um acidente cruzou o caminho de dois jovens no dia 12 de julho do ano passado. De um lado, Júlia de Aquino Vidal, então com 14 anos, atropelada quando atravessava a Avenida Afrânio de Melo Franco, em frente ao Shopping Leblon; do outro, o estudante José Setton, de 19 anos, que dirigia pela contramão. Hoje, depois de driblar a morte, com os cachos louros crescidos após ter a cabeça raspada devido às cirurgias, Júlia ainda tem sequelas do acidente, mas não guarda mágoas de José, a ponto de ela manter em seu porta-retratos uma foto dos dois feita após o acidente, numa lanchonete da Zona Sul.


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