Garantir a fluência das crianças em um segundo idioma “sem sofrimento”. Prepará-las para eventuais temporadas no exterior ou garantir um passo à frente de outros no mercado de trabalho. Há muitos argumentos para inúmeras famílias optarem por colocar filhos em escolas bilíngues. Mas será o melhor?
A ideia é sedutora. O aprendizado de uma segunda língua nos primeiros sete anos de vida gera uma significativa elasticidade mental para a criança. Curiosa e aberta às novidades, ela se torna fluente em pouco tempo, adquire destreza com idiomas em geral, constrói um repertório linguístico diferenciado e ainda adquire a possibilidade de vivenciar a diversidade cultural. Mais que isso, há diversos estudos, como um recentemente desenvolvido com 200 jovens, pelo Grupo de Investigação em Neurociências da Universidade de Barcelona (Espanha), que aponta uma maior capacidade de concentração entre pessoas que falam dois ou mais idiomas. “Além de ter competências e habilidades em duas línguas, a pessoa precisa saber em que momentos e situações usar cada uma delas e discernir o termo a ser empregado. Isso requer atenção e treino que, como indicam esses estudiosos, acabam sendo transportados para outras situações da vida”, diz Esperanza Tremosa Ruiz, chefe de estudos da educação infantil e professora de língua espanhola do Miguel de Cervantes, colégio bilíngue em espanhol de São Paulo.
Para quem se interessa pela ideia, é preciso primeiramente entender que há vários tipos de propostas entre essas escolas. Dentro do que chamamos corriqueiramente de escolas bilíngues, existem as que se propõem a ensinar um outro idioma tendo desde o início o português como foco principal e ainda algumas que oferecem às crianças pequenas uma imersão exclusiva no segundo idioma, para só começar a usar o português na fase da preparação para a alfabetização. Na Escola Cidade Jardim/Play Pen (SP), por exemplo, crianças entre 1 e 4 anos têm uma vivência escolar estritamente em inglês e, a partir dos 5, começam a usar também o português. A proporção da nossa língua aumenta a partir daí, até que ela passe a usar o português durante 55% do período escolar, contra 45% de inglês. Além das bilíngues, existem também as internacionais, nas quais o português é tratado como segunda língua e o idioma estrangeiro é utilizado na maior parte do tempo. Entre elas, algumas escolas são reconhecidas por uma organização mundial denominada IB (International Baccalaureate) e seguem currículo e condutas estipuladas por ela. São essas as mais visadas para filhos de diplomatas e de executivos de multinacionais, pessoas que procuram dar andamento à linha de estudos aos filhos, mesmo mudando de país com frequência. Em todas as escolas internacionais e em algumas bilíngues, vale dizer, existe a possibilidade de a criança sair com diploma reconhecido em universidades estrangeiras e, no mundo todo, 2.700 escolas seguem esses parâmetros em 138 países.
Na escola internacional Saint Nicholas, por exemplo, o currículo é britânico e crianças de 18 meses a 18 anos têm o inglês como língua oficial. Somente os brasileiros precisam cursar também matérias do currículo nacional. Entre os 541 alunos atualmente matriculados na escola, cerca de 40% são estrangeiros, de 33 diferentes nacionalidades (há argentinos, japoneses, coreanos, indianos, israelenses, árabes etc.). A brasileira Priscilla Oyola, atual diretora de marketing da escola, elegeu o estabelecimento para matricular sua filha, Fernanda, bem antes de trabalhar lá. A menina, que hoje está com 13 anos, tinha na época 5 anos e, como não falavam inglês em casa, frequentou por seis meses uma escola que preparava crianças para estudarem em escolas internacionais – e foi admitida. “Eu queria oferecer o mundo para minha filha e essa foi a maneira que eu encontrei. No ambiente em que aprende e obtém conhecimento, ela também tem contato com uma série de costumes, línguas, culturas e hábitos, coisa que eu não conseguiria, a menos que vivesse um pouco em cada lugar do mundo”, diz Priscilla.
É inegável que as trocas multiculturais possíveis nessas escolas deixam a criança mais aberta, com uma visão mais crítica do mundo. Ainda assim, para Francisco Baptista Assumpção Junior, psiquiatra infantil e professor do Instituto de Psicologia da USP, esse multiculturalismo tem suas desvantagens. Ele acredita que essas vivências muitas vezes são acompanhadas de um distanciamento da própria cultura, que pode acabar tornando a criança uma estrangeira dentro da própria escola, do próprio país. “As raízes são um importante suporte, uma sustentação para a sanidade mental de uma pessoa. Uma criança que se afasta da cultura de seu país, de sua família e dela própria corre o risco de sofrer um desenraizamento, perder sua identidade, envergonhar-se do que é e passar a querer ser algo que não é, ter o que não tem. É compreensível uma família colocar o filho numa escola nesses moldes quando tem a ver com sua cultura, seu idioma e suas raízes, mas quando não há nenhum vínculo nesse sentido, eu realmente não concordo”, diz o professor
Ainda sobre a matéria:
Página 2 : Bilíngue or not?
Página 3 : Bilíngue or not?
A ideia é sedutora. O aprendizado de uma segunda língua nos primeiros sete anos de vida gera uma significativa elasticidade mental para a criança. Curiosa e aberta às novidades, ela se torna fluente em pouco tempo, adquire destreza com idiomas em geral, constrói um repertório linguístico diferenciado e ainda adquire a possibilidade de vivenciar a diversidade cultural. Mais que isso, há diversos estudos, como um recentemente desenvolvido com 200 jovens, pelo Grupo de Investigação em Neurociências da Universidade de Barcelona (Espanha), que aponta uma maior capacidade de concentração entre pessoas que falam dois ou mais idiomas. “Além de ter competências e habilidades em duas línguas, a pessoa precisa saber em que momentos e situações usar cada uma delas e discernir o termo a ser empregado. Isso requer atenção e treino que, como indicam esses estudiosos, acabam sendo transportados para outras situações da vida”, diz Esperanza Tremosa Ruiz, chefe de estudos da educação infantil e professora de língua espanhola do Miguel de Cervantes, colégio bilíngue em espanhol de São Paulo.
Para quem se interessa pela ideia, é preciso primeiramente entender que há vários tipos de propostas entre essas escolas. Dentro do que chamamos corriqueiramente de escolas bilíngues, existem as que se propõem a ensinar um outro idioma tendo desde o início o português como foco principal e ainda algumas que oferecem às crianças pequenas uma imersão exclusiva no segundo idioma, para só começar a usar o português na fase da preparação para a alfabetização. Na Escola Cidade Jardim/Play Pen (SP), por exemplo, crianças entre 1 e 4 anos têm uma vivência escolar estritamente em inglês e, a partir dos 5, começam a usar também o português. A proporção da nossa língua aumenta a partir daí, até que ela passe a usar o português durante 55% do período escolar, contra 45% de inglês. Além das bilíngues, existem também as internacionais, nas quais o português é tratado como segunda língua e o idioma estrangeiro é utilizado na maior parte do tempo. Entre elas, algumas escolas são reconhecidas por uma organização mundial denominada IB (International Baccalaureate) e seguem currículo e condutas estipuladas por ela. São essas as mais visadas para filhos de diplomatas e de executivos de multinacionais, pessoas que procuram dar andamento à linha de estudos aos filhos, mesmo mudando de país com frequência. Em todas as escolas internacionais e em algumas bilíngues, vale dizer, existe a possibilidade de a criança sair com diploma reconhecido em universidades estrangeiras e, no mundo todo, 2.700 escolas seguem esses parâmetros em 138 países.
Na escola internacional Saint Nicholas, por exemplo, o currículo é britânico e crianças de 18 meses a 18 anos têm o inglês como língua oficial. Somente os brasileiros precisam cursar também matérias do currículo nacional. Entre os 541 alunos atualmente matriculados na escola, cerca de 40% são estrangeiros, de 33 diferentes nacionalidades (há argentinos, japoneses, coreanos, indianos, israelenses, árabes etc.). A brasileira Priscilla Oyola, atual diretora de marketing da escola, elegeu o estabelecimento para matricular sua filha, Fernanda, bem antes de trabalhar lá. A menina, que hoje está com 13 anos, tinha na época 5 anos e, como não falavam inglês em casa, frequentou por seis meses uma escola que preparava crianças para estudarem em escolas internacionais – e foi admitida. “Eu queria oferecer o mundo para minha filha e essa foi a maneira que eu encontrei. No ambiente em que aprende e obtém conhecimento, ela também tem contato com uma série de costumes, línguas, culturas e hábitos, coisa que eu não conseguiria, a menos que vivesse um pouco em cada lugar do mundo”, diz Priscilla.
É inegável que as trocas multiculturais possíveis nessas escolas deixam a criança mais aberta, com uma visão mais crítica do mundo. Ainda assim, para Francisco Baptista Assumpção Junior, psiquiatra infantil e professor do Instituto de Psicologia da USP, esse multiculturalismo tem suas desvantagens. Ele acredita que essas vivências muitas vezes são acompanhadas de um distanciamento da própria cultura, que pode acabar tornando a criança uma estrangeira dentro da própria escola, do próprio país. “As raízes são um importante suporte, uma sustentação para a sanidade mental de uma pessoa. Uma criança que se afasta da cultura de seu país, de sua família e dela própria corre o risco de sofrer um desenraizamento, perder sua identidade, envergonhar-se do que é e passar a querer ser algo que não é, ter o que não tem. É compreensível uma família colocar o filho numa escola nesses moldes quando tem a ver com sua cultura, seu idioma e suas raízes, mas quando não há nenhum vínculo nesse sentido, eu realmente não concordo”, diz o professor
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