domingo, 1 de novembro de 2009

O crack e 2016


Pelos últimos acontecimentos trágicos, neles incluído novo escândalo da Polícia Militar e a morte de uma jovem assassinada pelo namorado viciado em drogas, impõe-se lembrar que, além da beleza estonteante e das demais qualidades inegáveis do Rio de Janeiro, existem realidades que precisam ser encaradas com ações corretas, urgentes e sem omissões. É o caso das crianças dependentes de crack.
Enquanto a droga só fazia estragos na vizinha São Paulo, não se pensou em uma política de prevenção para ao menos amenizar a desgraça que inevitavelmente se abateria sobre a nossa cidade. E não foram poucos os alertas dos especialistas sobre a capacidade devastadora do crack – e disso o crime cometido por um músico, no Flamengo, é um triste exemplo.
Nada foi feito. Hoje são milhares de crianças, entre 4 e 12 anos, engrossando significativamente as estatísticas de viciados, perambulando pelas ruas ou caídas nas ruelas das comunidades, sem socorro, sem um trabalho realmente eficaz, sem uma política pública de saúde que acompanhe o trabalho de assistência social.
É visível a falta de investimento na formação de pessoal adequado para lidar com essas crianças, doentes do ponto de vista físico, emocional e social. Um público, abrangendo as respectivas famílias, que precisa ser cuidado 24 horas por assistentes sociais aliados a profissionais de saúde (física e mental). Desses, principalmente, devem partir rigorosas orientações sobre como lidar com essas crianças nos abrigos – quando elas conseguem driblar a abstinência e ficar um tempo maior por lá – ou sair às ruas em equipes de acolhimento.
Existem alguns (poucos) projetos bem-intencionados, mas quantos podem apresentar um resultado concreto e expressivo de recuperação e consequente encaminhamento dessa infeliz garotada?
E pode se iniciar com tão pouco a melhora desse quadro! No GLOBO, duas reportagens confirmam a tese. Uma constata que “na cidade-sede dos Jogos Olímpicos, 45% das escolas públicas não têm sequer uma quadra de esportes”, com professores improvisando espaços para ajudar os alunos a praticarem exercícios. Outra mostra que “presos em Nova Iguaçu praticam tai chi chuan e tênis de mesa, além de participar de sessões antiestresse”, com mudança radical no comportamento dos detentos, que também têm acesso a um projeto de alfabetização.
A receita, tão apregoada quanto lamentavelmente desprezada, é simples e não tem contraindicação. Esporte e alfabetização são potentes antídotos à ociosidade que deteriora corações e mentes nos presídios e na maioria dos abrigos. Mas, quando ainda existem tantas escolas sem direito ao esporte, bate uma imensa curiosidade: que milagre será feito em sete anos – ou cinco, levando em consideração a Copa?
Nas mãos das autoridades ligadas a saúde, educação, esporte e assistência social pode estar a redução – muito mais atrelada à vontade política do que a cifrões – de grande parte da violência nossa de cada dia. Deixemos nas mãos da polícia o controle das fronteiras por onde entram as armas que fortalecem o tráfico.
Assim sendo, não é demais frisar que somente um trabalho conjunto e competente de prevenção e de adequação aos métodos hoje empregados de combate às drogas, como o crack, vai de fato assegurar mais tranquilidade à cidade e impedir que o exército do tráfico cresça até 2016 e, quiçá, para sempre!

Lidia Pena - jornalista e faz trabalhos voluntários com crianças dependentes de crack.


O Globo


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