Motoristas inventam desculpas mirabolantes para escapar do bafômetro, mas acabam desistindo das versões na hora de recorrer
Rio - Desculpa esfarrapada para tentar escapar das Operações Lei Seca é ressaca moral garantida. Talvez por estarem sob efeito da bebida, ou mesmo por puro desespero, alguns motoristas flagrados abusando do copo extrapolam também quando são reprovados pelo bafômetro. “Vou processar o bar, eu pedi cerveja sem álcool!”, ou “Não bebi nada, mas comi um bombom de licor...” são apenas algumas das histórias que, apesar de engraçadas, não evitam multas nem apreensões nas blitzes da Lei Seca no estado. Mas renderam boas risadas aos fiscais, que apresentam números para desanimar os bebuns criativos: Desde março, 17.810 multas já foram aplicadas e 7.357 carteiras, recolhidas.
O curioso é que a vontade de se insurgir contra a lei e o bafômetro passa junto com o porre. De acordo com o chefe da Coordenadoria de Julgamento de Condutores do Detran-RJ, Flávio Horta, quem fala mentira na hora da abordagem dificilmente a repete no papel na hora de recorrer das penalidades. “Depois que curam a bebedeira, orientados por advogados, eles acabam desistindo de recorrer”, diz Flávio, ressaltando que cerca de 60 motoristas entram todos os meses com processos para cancelar multas por alcoolemia. Desses, porém, apenas seis (10%) conseguem a suspensão das multas e dos pontos perdidos, mesmo assim, por causa de erros no preenchimento de documentos — não por comprovarem a tese de que o ‘universo conspirou’ contra eles na noite em que foram flagrados.
O engenheiro E., 37 anos, confessa que já tentou se dar bem com uma história mirabolante, mesmo estando ‘mamado’. “Tinha tomado uns chopinhos a mais com amigos depois do trabalho e seguia, literalmente, bem alegre para casa. Quando fiz a curva na Avenida Nelson Cardoso, no Tanque, me deparei com uma bola branca enorme no céu. Cheguei a pensar que fosse a lua. Rezei e taquei uma bala de hortelã na boca”, lembra E., que se negou a soprar o bafômetro. “O senhor ingeriu bebida alcoólica?”, perguntou o guarda. “Comi um bombom com licor numa festa de casamento e blá, blá, blá....”, respondeu o motorista, já sob o olhar de reprovação dos fiscais. “Não colou. Meu carro foi rebocado, tive que pagar uma multa de R$ 957,70 por infração gravíssima e minha carteira foi apreendida”, resume, hoje já recuperado do trauma e da vergonha de ter mentido na blitz.
“Infelizmente, há sempre alegações absurdas, mas muito engraçadas. Nenhuma delas, no entanto, justifica o perigo da mistura de álcool e direção. Os fiscais estão orientados a não engolir chororôs, alerta Flávio.
Delírios com o balão branco da blitz
Segundo Flávio Horta, a criatividade parece aflorar nos motoristas que mais abusaram do álcool. “Segundo os fiscais, certas alegações são hilárias, acompanhadas até de lágrimas”, comenta. Brigas conjugais são o principal motivo alegado pelos infratores que reconhecem a bebedeira. Em seguida, vêm a derrota do time do coração e a suposta perda de um ente querido.
O comerciante C., 32, teve a cara de pau de dizer que não sabia que havia ingerido cerveja normal, jurando que tinha pedido a bebida sem álcool. E foi além: ameaçou processar o dono do bar. Houve também, segundo Flávio, quem alegou estar ‘grogue’ por ter ingerido remédios de tarja preta. E outro que tentou despistar dizendo que era degustador de um restaurante.
O medo de ser pego em flagrante faz também muitos “pagarem micos”. É o caso de J., 35, morador de São João de Meriti. Ele saía da Via Show dirigindo, alcoolizado, na madrugada de um sábado, quando viu, na Via Dutra uma bola branca no céu. Achou que era a blitz. Estacionou diante de um hipermercado para “esperar a operação terminar” e dormiu. Às 7h30, um segurança o acordou. Depois de explicar que aguardava o fim da operação, ouviu do segurança, às gargalhadas: “Aquela bola branca é de uma marmoraria ali na frente, não teve blitz nenhuma aqui!”.
PARA NÃO DIZER QUE NÃO SABIA...
GRADUAÇÃO
Um copo de chope é o bastante para perder a carteira. Entre 0,1 mg de álcool por litro de ar expirado e 0,29 mg/l, multa de R$ 957,70, mais sete pontos na carteira e suspensão do direito de dirigir por um ano. De 0,3 mg/l em diante, a mesma punição, mais detenção, com pena que pode variar de seis meses a três anos. Até 0,09 mg/l, o motorista é liberado.
DURAÇÃO DO EFEITO DO ÁLCOOL
Quem toma uma lata de cerveja, um chope ou uma taça de vinho (150 ml) ou uma dose de bebida destilada (50 ml) deve esperar pelo menos duas horas para pegar o carro.
TARJA PRETA
Existe punição para quem dirige sob efeito de soníferos, relaxantes e antidepressivos.
REPROVAÇÃO NO DIA SEGUINTE
Se o motorista bebeu excessivamente numa noite, pode ser reprovado pelo bafômetro no dia seguinte. Foi o que alegou no dia 22 Priscila Pires, do Big Brother Brasil 9. Ela foi flagrada numa blitz na Gávea, dirigindo com 0,15 miligrama de álcool por litro de ar expelido, mas garantiu que havia bebido só na véspera. Ex- diretor do IML, Jefferson José de Oliveira afirma que a versão dela não é desculpa esfarrapada. Mas ela levou multa de R$ 957,70 e teve a carteira apreendida.
FRANCISCO EDSON ALVES
O DIA ONLINE
Rio - Desculpa esfarrapada para tentar escapar das Operações Lei Seca é ressaca moral garantida. Talvez por estarem sob efeito da bebida, ou mesmo por puro desespero, alguns motoristas flagrados abusando do copo extrapolam também quando são reprovados pelo bafômetro. “Vou processar o bar, eu pedi cerveja sem álcool!”, ou “Não bebi nada, mas comi um bombom de licor...” são apenas algumas das histórias que, apesar de engraçadas, não evitam multas nem apreensões nas blitzes da Lei Seca no estado. Mas renderam boas risadas aos fiscais, que apresentam números para desanimar os bebuns criativos: Desde março, 17.810 multas já foram aplicadas e 7.357 carteiras, recolhidas.
O curioso é que a vontade de se insurgir contra a lei e o bafômetro passa junto com o porre. De acordo com o chefe da Coordenadoria de Julgamento de Condutores do Detran-RJ, Flávio Horta, quem fala mentira na hora da abordagem dificilmente a repete no papel na hora de recorrer das penalidades. “Depois que curam a bebedeira, orientados por advogados, eles acabam desistindo de recorrer”, diz Flávio, ressaltando que cerca de 60 motoristas entram todos os meses com processos para cancelar multas por alcoolemia. Desses, porém, apenas seis (10%) conseguem a suspensão das multas e dos pontos perdidos, mesmo assim, por causa de erros no preenchimento de documentos — não por comprovarem a tese de que o ‘universo conspirou’ contra eles na noite em que foram flagrados.
O engenheiro E., 37 anos, confessa que já tentou se dar bem com uma história mirabolante, mesmo estando ‘mamado’. “Tinha tomado uns chopinhos a mais com amigos depois do trabalho e seguia, literalmente, bem alegre para casa. Quando fiz a curva na Avenida Nelson Cardoso, no Tanque, me deparei com uma bola branca enorme no céu. Cheguei a pensar que fosse a lua. Rezei e taquei uma bala de hortelã na boca”, lembra E., que se negou a soprar o bafômetro. “O senhor ingeriu bebida alcoólica?”, perguntou o guarda. “Comi um bombom com licor numa festa de casamento e blá, blá, blá....”, respondeu o motorista, já sob o olhar de reprovação dos fiscais. “Não colou. Meu carro foi rebocado, tive que pagar uma multa de R$ 957,70 por infração gravíssima e minha carteira foi apreendida”, resume, hoje já recuperado do trauma e da vergonha de ter mentido na blitz.
“Infelizmente, há sempre alegações absurdas, mas muito engraçadas. Nenhuma delas, no entanto, justifica o perigo da mistura de álcool e direção. Os fiscais estão orientados a não engolir chororôs, alerta Flávio.
Delírios com o balão branco da blitz
Segundo Flávio Horta, a criatividade parece aflorar nos motoristas que mais abusaram do álcool. “Segundo os fiscais, certas alegações são hilárias, acompanhadas até de lágrimas”, comenta. Brigas conjugais são o principal motivo alegado pelos infratores que reconhecem a bebedeira. Em seguida, vêm a derrota do time do coração e a suposta perda de um ente querido.
O comerciante C., 32, teve a cara de pau de dizer que não sabia que havia ingerido cerveja normal, jurando que tinha pedido a bebida sem álcool. E foi além: ameaçou processar o dono do bar. Houve também, segundo Flávio, quem alegou estar ‘grogue’ por ter ingerido remédios de tarja preta. E outro que tentou despistar dizendo que era degustador de um restaurante.
O medo de ser pego em flagrante faz também muitos “pagarem micos”. É o caso de J., 35, morador de São João de Meriti. Ele saía da Via Show dirigindo, alcoolizado, na madrugada de um sábado, quando viu, na Via Dutra uma bola branca no céu. Achou que era a blitz. Estacionou diante de um hipermercado para “esperar a operação terminar” e dormiu. Às 7h30, um segurança o acordou. Depois de explicar que aguardava o fim da operação, ouviu do segurança, às gargalhadas: “Aquela bola branca é de uma marmoraria ali na frente, não teve blitz nenhuma aqui!”.
PARA NÃO DIZER QUE NÃO SABIA...
GRADUAÇÃO
Um copo de chope é o bastante para perder a carteira. Entre 0,1 mg de álcool por litro de ar expirado e 0,29 mg/l, multa de R$ 957,70, mais sete pontos na carteira e suspensão do direito de dirigir por um ano. De 0,3 mg/l em diante, a mesma punição, mais detenção, com pena que pode variar de seis meses a três anos. Até 0,09 mg/l, o motorista é liberado.
DURAÇÃO DO EFEITO DO ÁLCOOL
Quem toma uma lata de cerveja, um chope ou uma taça de vinho (150 ml) ou uma dose de bebida destilada (50 ml) deve esperar pelo menos duas horas para pegar o carro.
TARJA PRETA
Existe punição para quem dirige sob efeito de soníferos, relaxantes e antidepressivos.
REPROVAÇÃO NO DIA SEGUINTE
Se o motorista bebeu excessivamente numa noite, pode ser reprovado pelo bafômetro no dia seguinte. Foi o que alegou no dia 22 Priscila Pires, do Big Brother Brasil 9. Ela foi flagrada numa blitz na Gávea, dirigindo com 0,15 miligrama de álcool por litro de ar expelido, mas garantiu que havia bebido só na véspera. Ex- diretor do IML, Jefferson José de Oliveira afirma que a versão dela não é desculpa esfarrapada. Mas ela levou multa de R$ 957,70 e teve a carteira apreendida.
FRANCISCO EDSON ALVES
O DIA ONLINE
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