sábado, 25 de julho de 2009

Depois do drama, pais passam noite com Yasmin


Rio - Uma vida inteira de dificuldades levou a ambulante Adriana Pereira da Silva, 33 anos, a confiar em Valéria Teixeira Barros, 40, que sequestrou seu bebê recém nascido, no último dia 18. Valéria ofereceu ajuda, mostrou ser solidária e fingiu uma amizade até ter a oportunidade de raptar Yasmin, que tinha apenas 36 dias de vida. À polícia, a sequestradora disse que perdeu uma gestação de 9 meses, mas que manteve a farsa para o marido. Os dois foram presos por três policiais militares que estavam de folga, mas reconheceram a vizinha depois que sua imagem foi divulgada na televisão. A criminosa já se preparava para fugir.
Depois dos seis dias de sofrimento e desespero com o sequestro de Yasmin, os pais da menina passaram a noite em claro, contemplando o sono da neném. Foi o presente de aniversário que o pai dela, Jorge da Silva Pires Carlos, que fez ontem 34 anos, vai agradecer pelo resto da vida. “Ela sorria mesmo com os olhinhos fechados. Estava brincando com os anjos. Eu tive muito medo de não encontrar minha filha, mas entreguei para Deus. Estou radiante e minha alegria nem cabe em mim”. Adriana vive com o marido e a menina em um quarto de oito metros quadrados, sem banheiro, pagando aluguel de R$ 160 num prédio invadido por sem-teto, no Centro. Ela já morou em comunidades, foi vítima de bala perdida no Jacarezinho, queimada numa briga por um ponto de venda de doces numa favela do Catumbi e preferiu deixar três dos seus cinco filhos homens em um abrigo da Prefeitura em Vargem Grande, depois que eles viram bandidos em fuga morrendo em um confronto com a polícia no quintal de casa, na Cidade de Deus.
“Valéria conquistou minha confiança porque disse que queria me ajudar. Quem vive como eu uma vida tão difícil precisa acreditar nas pessoas. Disseram que eu tinha vendido minha neném, que eu tinha trocado Yasmin por um terreno em Araruama. Jamais poderia fazer isso porque ela é um pedaço de mim, assim como os outros.
Todo domingo passo o dia com meus filhos no abrigo. Os outros dois moram com o pai na Bahia. Meu sonho um dia é ter um lugar melhor para morar, para ficarmos todos juntos”, contou Adriana.
Uma toalha da Barbie, comprada por Jorge no dia em que Yasmin foi sequestrada, enfeitava o quartinho do casal ontem. Sob um armário empenado com roupinhas de bebê, um galão de água filtrada, usada para os cuidados com a recém nascida. A família é muito humilde e os esforços se concentram para dar o melhor — dentro do possível — à Yasmin.
“Não temos banheiro nem água no prédio. Consigo trazer da igreja em baldes para o banho e para cozinhar. Eu posso até andar descalço, mas ela é minha princesa. Sempre falta alguma coisinha, mas o que a gente precisa mesmo é de um lugar melhor para criar a Yasmin”, desabafou Jorge, emocionado.
Em função de uma doença da mãe, a menina não pode mamar e precisa tomar medicamentos. Ao ser encontrada pelos PMs, foi levada ao Hospital Getúlio Vargas, onde muitos se emocionaram com o reencontro da menina com Adriana. “Somos policiais 24 horas por dia, mas também somos pai e dessa vez o coração falou mais alto”, disse o terceiro sargento do 3º BPM (Méier), Robson Alves do Nascimento, 40.
Valéria Teixeira Barros e o marido Paulo Sérgio de Souza Junior, 34 anos, foram indiciados por sequestro e podem pegar de 2 a 5 anos de prisão. Valéria já tinha passagem pelo mesmo crime, em 2001, mas o processo foi suspenso.
“Eu só queria o bem da criança. Não valeu a pena. Devia ter falado com uma assistente social. Achei que podia oferecer um pouco mais a ela”, confessou Valéria.
No último sábado, depois de roubar Yasmin, a mulher se internou em um hospital em São Cristóvão, dizendo que se sentia mal, e ligou para o marido ir buscá-la. Segundo Sérgio, ela disse que o bebê havia nascido. Valéria também tem passagem por estelionato e lesão corporal. Paulo tem passagem por furto.
O DIA ONLINE

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Verbratec© Desktop.