CLÁUDIA, 45 ANOS
Foto feita em São Paulo. Ela é casada há 20 anos e trai o marido há dez, “sem peso na consciência”
Uma jornalista americana pesquisa oito países para descobrir como e por que as pessoas traem – e como seus parceiros reagem. No Brasil...
Durante os 20 anos de seu casamento, ela foi infiel ao marido uma única vez. Envolveu-se com um colega de trabalho com o qual trocava e-mails e passou a manter encontros clandestinos em estacionamentos. O caso durou um ano. Quando seu marido descobriu, já tinha acabado há tempos. Mas seu casamento gira em torno dessa aventura até hoje. O marido não pediu divórcio, mas tampouco conseguiu superar. Quando o casal está junto – a maior parte do tempo, pois ele só permite que ela saia sozinha para trabalhar –, o assunto é a traição. O marido costuma pedir detalhes de todos os encontros clandestinos com seu amante, enquanto os dois caem em prantos. Ele aprendeu nos livros de autoajuda e nos grupos de terapia que essa é a melhor maneira de se recuperar do trauma. É a chamada cura pela confissão, um método popular de tratamento para esse tipo de drama nos Estados Unidos – o país ocidental onde as pessoas dizem sentir mais culpa e sofrer mais com as traições.
Esse pequeno relato do inferno faz parte do livro Na ponta da língua, da jornalista americana Pamela Druckerman, que será lançado no Brasil em agosto. Ela visitou oito países para pesquisar como diferentes culturas lidam com as “viradas furtivas à esquerda”, com os “maravilhosos intervalos” ou com a “saída da estrada”, como os russos, indonésios e japoneses se referem, respectivamente, àquilo que, em bom português, chamamos de pular a cerca. Pamela não fez uma obra científica, fez um relato jornalístico em que as expressões idiomáticas variam e as reações sociais também, mas a traição aparece como uma constante universal. A ideia de pesquisar o adultério veio depois que Pamela viveu um tempo na Argentina e no Brasil, trabalhando como correspondente do Wall Street Journal. Ela ficou intrigada com a quantidade de propostas indecorosas que recebeu de homens casados e resolveu entender melhor como funcionam (ou não) as regras de fidelidade.
O resultado é esclarecedor. Numa visão panorâmica, saltam aos olhos os diferentes comportamentos de países pobres e ricos. Nos pobres, os homens traem mais e as mulheres menos. Nos países ricos, ambos traem menos. “O que fica claro não é a moral de cada um, mas a dependência econômica das mulheres”, disse Pamela a ÉPOCA. Quando se volta para cada um dos países que estudou, fica clara a existência de várias culturas sexuais, que se refletem na linguagem. Na França, ao entrevistar um pesquisador do que seria o Ministério da Saúde, ela foi interrompida no meio de uma frase ao usar a expressão “infidelidade”. Agitado, o estudioso explicou que não admitia o uso dessa palavra porque ela tinha conotação religiosa. “Nós chamamos de multirrelacionamentos simultâneos”, disse o francês. Na Nigéria, ela descobriu que homens e mulheres dizem estar “trabalhando na rede do sexo” quando estão enganando o cônjuge. Eles não acham que estejam fazendo nada errado ou passível de punição.
Para além das diferenças das palavras, Pamela descobriu em suas viagens um universo sexual e conjugal que varia enormemente. O exemplo mais espetacular é o Japão. Lá as lojas não vendem colchões de casal. Mesmo casadas, as pessoas dormem separadas. Quando nasce o bebê, a mãe se muda para um quarto com ele, e ali fica por cinco ou seis anos. Em seu lugar, no quarto do casal, o marido costuma pôr um sistema de som e uma TV de muitas polegadas. Intimidade como nós a conhecemos não existe. Nesse cenário, claro, a traição é uma rotina. As mulheres mais jovens procuram amantes e os homens vão aos clubes de cortesãs, onde pagam para conversar. A cultura de discrição facilita a prática do adultério.
Época
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