sexta-feira, 24 de julho de 2009

Grávidas expostas à poluição têm filhos com QI mais baixo


Pesquisadores da Universidade de Columbia relacionam o desenvolvimento do cérebro em fetos e a poluição a que são expostos durante a gestação

Pesquisadores da Universidade de Columbia concluíram que a poluição afeta o desenvolvimento do cérebro de fetos. O estudo foi realizado em Nova York com 249 crianças e suas mães. As mulheres usaram uma bolsa com medidor da qualidade do ar durante 48 horas, no período final da gravidez. Para um poluente contaminar o feto, ele deve atravessar a placenta. Aqueles que conseguem atravessá-la são, em sua maioria, de emissões de fábricas e veículos. A fumaça do cigarro é outra fonte, mas as mães que participaram do estudo não eram fumantes.
Depois de cinco anos, as crianças do experimento fizeram testes de QI para medir o nível de inteligência, antes de começar a frequentar a escola. Os filhos cujas mães viviam em ambientes mais poluídos tiveram desempenho, em média, de 4 a 5 pontos menor do que aqueles que passaram a gestação em locais com ar mais limpo. A pesquisadora responsável, Frederica Perera, afirmou que a diferença é relevante, e pode afetar o desempenho das crianças na escola.
Os pesquisadores ainda levaram em conta outros fatores que poderiam influenciar o QI das crianças, como o papel do ambiente familiar no aprendizado e a exposição à poluição depois do nascimento, mas a exposição pré-natal continuou com forte influência, afirmou Perera. Sua equipe pretende continuar monitorando e testando as crianças para analisar o desempenho escolar e se há algum efeito de longo prazo.

Poluição, pesquisas e política ambiental no Brasil
“[Essas pesquisas] São armas que temos para sensibilizar o governo a fazer políticas ambientais para diminuir a poluição”, afirmou Ana Cláudia Zanchi, membro de grupos de pesquisa sobre os efeitos da poluição na saúde, e aluna de doutorado orientada pela Profa. Dra. Claudia Ramos Rhoden (Professora Adjunta do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre) e pelo Prof. Dr. Paulo Hilário do Nascimento Saldiva (Professor Titular da disciplina de Patologia - FMUSP - USP).
Sua tese de doutorado, em desenvolvimento, traz experiências com ratos expostos à poluição atmosférica a nível ambiental em Porto Alegre, RS, e os resultados ajudam a entender o quanto os poluentes na atmosfera influenciam o desenvolvimento dos seres vivos.
Ratos expostos a poluição quando eram fetos foram colocados diante de dois objetos iguais durante três minutos. Nesse tempo, os animais interagiam com os objetos (cheiravam-nos, tocavam-nos). Depois de quase uma hora, os mesmos animais foram colocados em contato com um objeto novo e um dos anteriores. Como os ratos têm o hábito de sempre investigar novidades, era esperado que interagissem com o objeto novo. Mas as cobaias expostas a poluição 'se esqueciam' da experiência de antes, e cheiravam o objeto que já haviam visto. “Os animais que nasceram em ambiente poluído, e continuaram a viver nele, apresentaram problemas na memória discriminativa de curta duração”, concluiu Ana Cláudia.
Ela cita outra pesquisadora, a mexicana Lílian Calderón-Garcidueñas, que também estuda os efeitos da poluição na saúde. Lílian aplicou testes de cognição em crianças e constatou menor capacidade de aprendizado naquelas que foram expostas à poluição. Em outra pesquisa, ela analisou crianças que tiveram morte súbita na Cidade do México – considerada uma das cidades com pior qualidade do ar no mundo; elas tinham um menor volume de córtex cerebral, e em algumas foram encontradas partículas sólidas de poluentes no tecido neuronal, no cérebro.
O conjunto de estudos sobre os efeitos da poluição na saúde, afirma Ana Cláudia, contribui para conscientizar o governo e orientar políticas ambientais. “A poluição é um problema de saúde pública. Com o aumento da concentração de poluentes no ar, há aumento na mortalidade e no gasto do governo para tratar doenças decorrentes da maior poluição, como asma e pressão alta”, diz ela. Ana Cláudia afirma que as políticas públicas para reduzir a poluição atmosférica deveriam ser ainda mais rígidas. “Temos casos como ônibus a diesel, que é altamente poluente, e pessoas sozinhas em carros, com muito espaço livre. O que deve mudar é a consciência e o comportamento das pessoas”, afirma ela.



Época

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