quinta-feira, 23 de julho de 2009

Infância na pobreza, mais vulnerabilidade à violência sexual


A violência sexual não distingue idade, nem nível socioeconômico e, quando ocorre na infância e se conjuga com condições de vulnerabilidade como a pobreza, seus efeitos se acentuam porque meninas e meninos possuem menos elementos para fazer frente, apontou a acadêmica da Escola Nacional de Trabalho Social, (ENTS) da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Araceli Suárez Herrera.
A especialista indicou que, em países como o México, não existem instituições que realizem registros ou estudos de alcance nacional que permitam calcular a dimensão e as características dos maus tratos contra a criança, nem sequer do total de casos conhecidos pelas autoridades.
Tampouco, disse, conta-se com leis que estabeleçam a obrigação de reportar os fatos em que se presuma a presença de agravos contra um menor de idade. No entanto, em nações onde se estabeleceu esta exigência e o Estado assume o compromisso de investigar, os especialistas advertem que as estatísticas não refletem o nível real de violência.
O Sistema Nacional para o Desenvolvimento Integral da Família (DIF), um dos poucos organismos que realiza este tipo de estudo, calculou que, em 2004, foram atendidos 397 casos de abuso sexual em todo o país, apontou Suárez Herrera, e comentou que os estados com maior índice foram Chiapas, 222; Yucatán, 192; Sinaloa, 116; Quintana Roo, 99; Estado de México registro, 94; e Hidalgo 69; entre outros.
Nesse mesmo lapso, disse, 50,7% dos estupros denunciados na Procuradoria Geral de Justiça do Distrito Federal (PGJDF) corresponderam a menores entre 12 e 17 anos de idade. Também ocorreram casos de abuso de meninas de três e quatro anos, e informações de humilhação de meninas e meninos de três meses de idade.
Em 60% dos expedientes, os agressores eram conhecidos ou familiares da vítima, e desses, 85% eram do sexo masculino.
Suárez Herrera disse que, segundo dados da Faculdade de Psicologia (FP), o 55% dos casos atendidos na consulta clínica sofreram agressões sexuais na faixa dos seis anos de idade, e 86% das vítimas foram meninas.
Quanto aos agressores, 51% eram da família da vítima. Desse total, 39% eram irmãos mais velhos; 26%, tios; 13%, pais biológicos; 7%, padrastos; 9%, primos; 6%, avôs. Fora da esfera familiar, foram registrados 8% de professores agressores.
Em entrevista, a especialista disse que o abuso sexual de menores de idade ocorre porque os adultos responsáveis por seu cuidado não supervisionam adequadamente suas relações e atividades; além disso, os agressores, ao aperceber que as meninas e os meninos carecem de atenção e afeto, vêem a oportunidade de atacá-los.
“Nos aspecto psicoemocional, o assédio se manifesta contra os menores de idade como insegurança e baixa auto-estima; sentem temor em denunciar. Demonstraram medo ao contato físico e desconfiança; costumam apresentar uma atitude submissa, choro sem motivo aparente, problemas para se relacionar e dificuldade para aceitar elogios”, detalhou.
Em algumas ocasiões, apontou, os danos emocionais não se refletem em curto prazo, apenas na adolescência ou na idade adulta, quando se apresentam dificuldades para se relacionar com os demais, depressão aguda e, em casos mais graves, tentativas de suicídio.
Não existem sintomas vinculados exclusivamente ao estupro. Para detectar que uma menina ou menino foi abusado sexualmente, existe uma série de sinais de alerta, como a expressão explícita da violação, reiterou.
Por outro lado, especificou que se consideram os efeitos negativos desse ato segundo o grau de severidade com que se deram os fatos, ou seja, se a vítima foi mal-tratada durante o abuso, o número de repetições e a relação existente entre o agressor e a vítima.
A especialista recomendou falar com os menores de idade sobre sexo de forma clara e simples, assim como ensiná-los a respeitar seu corpo e exigir que os demais também o façam. Também estimulou a denúncia de casos de abuso, porque apenas assim poderá ser sancionado esse tipo de delitos.


Adital

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