sábado, 25 de julho de 2009

"Espiões" atuam na cracolândia há quatro meses


Há pelo menos quatro meses, a gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM) pôs nas ruas da cracolândia e de outras regiões do centro de São Paulo equipes à paisana munidas de máquinas fotográficas com o objetivo de acompanhar a movimentação de usuários de drogas.São 16 "espiões da prefeitura", que contam o número de pessoas concentradas em determinado local e registram a cena, sem flash, para não chamar a atenção. Fazem, em média, três contagens por dia, inclusive durante a madrugada.
Trata-se de uma unidade reservada da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, que usa as imagens para monitorar eventual aumento ou diminuição de pessoas na rua, identificar traficantes e traçar um perfil dos usuários de drogas. O trabalho dos "espiões" começou pouco depois que a prefeitura enviou equipes de agentes de saúde para a região da cracolândia, no início do ano.
Na quarta-feira, a prefeitura, em parceria com o governo do Estado, desencadeou uma nova operação na área, que une ação policial com ajuda médica a dependentes químicos.
O secretário municipal de Segurança Urbana, Edsom Ortega, confirma a existência das equipes à paisana. "Precisamos saber qual é o tamanho do problema", afirma Ortega. "Já notamos a diminuição do número de crianças nas ruas", diz ele. A revitalização da área é uma das principais promessas de Kassab e do governador José Serra (PSDB).
Ontem, não houve balanço da nova operação. Prefeitura e Estado dizem que os dados serão atualizados às quartas.
Programas sociais
Abordagens diárias. É essa a receita de Kassab para aumentar a adesão dos moradores de rua e viciados em drogas aos programas sociais e atendimentos de saúde da prefeitura. Segundo dados oficiais, 80% dos abordados recusam o atendimento. "É a abordagem que precisa acontecer de uma maneira permanente e intensa", afirmou Kassab.
O morador não é obrigado a acompanhar os agentes de saúde e assistentes sociais. Só é possível obrigá-los a fazer tratamento de saúde se houver laudo médico --internação involuntária-- ou decisão judicial -internação compulsória. Até anteontem haviam sido feitas 12 internações de pessoas abordadas na cracolândia. Segundo o secretário da Saúde, Januário Montone, foram todas internações voluntárias.
A secretária de Assistência e Desenvolvimento Social e vice-prefeita de São Paulo, Alda Marco Antonio, disse que doentes e viciados não podem ir para albergues.
"Não posso permitir a entrada de um doente num albergue porque ele pode contaminar os outros. Eu não posso permitir a entrada de um dependente químico num albergue porque ele pode atrapalhar a rotina", disse ela.

EVANDRO SPINELLI

Folha de S.Paulo




Folha Online

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