domingo, 27 de setembro de 2009

Como será escolhido o júri do caso Nardoni


Por enquanto, só existem três certezas sobre as sete pessoas que vão decidir se o pai e a madrasta de Isabella Nardoni são culpados ou inocentes: elas têm mais de 18 anos, nenhum antecedente criminal e moram na mesma cidade onde ocorreu o crime. Estes são os requisitos básicos para integrar o júri.
“Esse é um caso que desperta muita curiosidade. Cada um tem a sua convicção. Mas o que manda é a convicção dos sete que vão estar naquele momento lá”, afirma o jurista Luiz Flávio Gomes.
Com a repercussão do caso, o fórum recebeu ligações de pessoas de todo o Brasil querendo participar especificamente deste julgamento. Mas para ocupar uma das cadeiras do conselho de sentença é preciso ser morador da cidade de São Paulo e se inscrever para o corpo de jurados do segundo Tribunal do Júri. A lista para 2009 foi fechada em novembro do ano passado. Ao todo, são dez volumes e seis mil nomes.
Um mês antes do julgamento do casal Nardoni, que ainda não tem data marcada, o juiz vai sortear, em uma urna, os 25 possíveis jurados. Eles terão de comparecer no dia do julgamento, quando ocorre um novo sorteio conforme o nome é divulgado. Defesa e acusação têm o direito de recusar qualquer nome. Advogado e promotor podem fazer isso três vezes, até que o júri esteja completo, com as sete pessoas.
Em casos como o de Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, os representantes da acusação costumam preferir mulheres mais velhas, casadas e com filhos. “É natural que uma mãe se coloque na posição da mãe biológica, em termos de sofrimento, e tem uma tendência favorável à Promotoria”, disse Luiz Gomes.
O promotor Francisco Cembranelli disse que vai decidir só na hora quem aceita ou recusa, seguindo a própria intuição.
Depois dos depoimentos, da apresentação das provas e dos debates, procedimento que deve levar pelo menos dois dias, chega a fase decisiva do julgamento. O voto do júri é dado em um lugar chamado de sala secreta. Neste local, os jurados dizem “sim” ou “não” para perguntas como: ‘Houve crime?’ ‘O réu é culpado?’
Quem já participou de um julgamento como esse sabe o tamanho da responsabilidade.
“Com o decorrer do julgamento, você vai tendo novidades, tendo fatos novos e você vai ter condições de julgar a pessoa, dizer de fato fez, ou não, não fez. A verdade ai realmente aparece mesmo”, disse a advogada e professora Cleide Clares.
“É super difícil, eu cheguei a ter pesadelo que eu estava condenando uma pessoa inocente”, contou a professora e programadora Mariana Silva.
“A sua cabeça fica parecendo um pingue-pongue. Você ouvindo o promotor: ‘Ó, ele matou’. Aí vem a defesa e diz ‘Olha, ele não matou, ele é inocente’”, relatou o consultor de RH José Carvalho Neto.
Vizinhas, Cleide Clares e a aposentada Iolanda Toledo participaram do julgamento de Suzane Richtofen e dos irmãos Cravinhos, em 2006. “As pessoas choram, sorriem e a gente não pode ter nenhuma destas reações”, disse Iolanda. “Eu pensava em qualquer outra coisa: será que está chovendo lá fora? Eu mudava o meu pensamento naquela situação”, revelou Cleide.
Depois de cinco dias de julgamento, Suzane, o namorado e o irmão dele foram considerados culpados pelo assassinato dos pais da jovem. Eles foram condenados a quase 40 anos de prisão.
“Podíamos conversar quando estávamos nos bastidores, menos assunto de crime. Nós éramos escoltadas e quando a gente passava em algum lugar que tinha um jornal, uma televisão, qualquer coisa, eles desligavam e guardavam o jornal”, contou Iolanda.
Mesmo com a confissão de Suzane Richtofen, três dos sete jurados a inocentaram do crime. “A defesa não negava a autoria. O que ele argumentou foi que ela estava sob pressão do noivo e do irmão do noivo e que ela, sob pressão, é que acabou fazendo tudo”, explicou Gomes.
Para o jurista, que já presidiu mais de 300 tribunais do júri, tudo pode acontecer no julgamento do casal Nardoni, que nega a autoria. “Os jurados que decidem uma vida. Vota de acordo com a consciência dele, de acordo com a convicção”, finalizou Gomes.

Fonte: G1

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