terça-feira, 15 de setembro de 2009

Prisão de Caras tem menos de 400 detentos

Quando no dia 25 de agosto o dr. Roger Abdelmassih foi transferido da cadeia de uma delegacia de São Paulo para a detenção de Tremembé, a 138 km da capital paulista, o local já era conhecido como o Presídio de Caras, numa referência ao Castelo de Caras, da revista de celebridades.
Entre ilustres desconhecidos, em Tremembé estão pessoas que já eram famosas ou se tornaram por envolvimento (ou suposto) em crimes de repercussão na imprensa.
O médico especialista em reprodução humana assistida é o único que, no auge de sua fama, saiu diretamente das páginas de Caras para Tremembé, como um trapezista que cai e é surpreendido pelo sumiço da rede de proteção.
Os detentos dali são vips porque, em outra prisão, seriam rejeitados pela população carcerária. “Rejeitados” é um eufemismo, porque, na verdade, “eles poderiam ser linchados e até mortos”, nas palavras de Fabrício Quintanilha, um dos coordenadores de Execução Penal da Defensoria Pública do Estado, em entrevista à Band.
A Prisão de Caras tem apenas 366 presos – uma exceção no superlotado sistema penitenciário brasileiro. A maioria do detentos de lá possui ensino médio e curso universitário, o que torna a penitenciária única no país em nível de escolaridade. Trata-se de juízes, promotores, advogados, funcionários públicos graduados e agora pelo menos um médico.
Apesar do apelido de Caras, poucos dos presos de Tremembé despertariam a atenção da revista de celebridades. E o caso de Alexandre Nardoni, acusado de jogar por uma janela do sexto andar a sua filha, a Isabella, de 5 anos, e de Lindemberg Fernandes, o assassino confesso da adolescente Eloá Cristina. Há também os irmãos Cravinhos, o Cristian e o Daniel, que mataram a pauladas o casal Richthofen.
Há ali, com certeza, pelo menos uma pessoa que, além de Abelmassih, tinha currículo para ilustrar as páginas da revista. É Edemar Cid Ferreira, que foi um badalado banqueiro e amante das artes antes de se saber que desviava dinheiro de investidores para a sua conta. Não se pode citar, nesse caso, o ex-juiz João Carlos da Rocha Mattos, que só ficou famoso quando se descobriu que ele vendia sentenças.
Diferentemente do que os desinformados em celebridades podem achar, a revista não tem um Castelo. O Castelo de Caras é um evento: anualmente, a revista reserva por alguns dias um hotel instalado em um castelo e para lá leva ricos e famosos, principalmente artistas da Globo. A primeira Caras foi criada na Argentina.
O Castelo de Caras de 2008 – ano dos 15º aniversário da revista no Brasil – ocorreu em um hotel ao norte de Nova Iorque, no Village of Tarrytowm, em um castelo edificado em 1897 por irlandeses às margens do Hudson River.
O prédio da Penitenciária de Tremembé foi construído próximo do rio Una, no vale do Paraíba, na década de 40. Em 1948, instalou-se ali a Fazenda Modelo da Penitenciária do Estado.
A penitenciária deixou de ser uma fazenda, embora esteja em solo fértil, de terra roxa. Na Tremembé, ninguém pega na enxada.
Os detentos hoje têm outras ocupações. Podem cuidar da marcenaria, da cozinha, da manutenção do prédio. Um dia é descontado da condenação para cada três trabalhados, no caso dos condenados, obviamente. Mas ninguém é obrigado a trabalhar. Há quem prefira ficar na cela vendo tv.
O Castelo de Caras tem alguns rituais. Os convidados são recebidos com festa, champanhe. A Prisão de Caras também tem os seus. Ao fazer o check in, por assim dizer, Abdelmassih teve de cortar o cabelo e raspar o bigode, em um dos procedimentos da casa para manter a higiene e a disciplina.
Em um vídeo no site da revista, uma famosa afirma que no Castelo de Caras, versão Nova Iorque, “tudo parece um sonho
Talvez Abdelmassih um dia afirme que, na Prisão de Caras (foto), tudo parece um pesadelo, embora, para a maioria dos detentos brasileiros, aquilo lá não seja tão ruim.

Paulopes Weblog

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