segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O médico, o monstro e a vergonha feminina



“Existem os médicos e os monstros. Ele é um médico monstro.” Assim uma ex-paciente se referiu ao doutor Roger Abdelmassih, na TV Globo. Calvo, de cabelos e bigodes brancos, 65 anos, esse especialista em reprodução humana foi preso ao chegar a sua clínica de luxo em São Paulo. A acusação é de abuso sexual contra 39 mulheres desde os anos 70. Os depoimentos são de embrulhar o estômago. Constrangedoras também são as piadinhas masculinas.
Homens que se consideram inteligentes e sensíveis perguntam, rindo: “Que droga será essa que deixa as mulheres mais amorosas e submissas?”. Também há os que não entendem por que as mulheres não denunciaram o médico antes: “Elas deveriam sair da clínica e ir direto à delegacia. Por que ficaram caladas?”.
Talvez eles não possam mesmo compreender o alcance do sentimento feminino de vergonha, humilhação, revolta, nojo e culpa. Um sentimento pleno de ambiguidades invade a mulher em episódios que misturam abuso sexual a poder. Médicos podem ter mais poder que chefes ou maridos. Como desmascará-los? Especialmente o médico que promete dar a ela a capacidade de gerar um filho. É visto quase como um deus. Elas se tornam reféns dele e de um sonho.
Não sei se Abdelmassih é culpado ou inocente. Nem o advogado de defesa nem o filho dele compreendem o “motivo” das denúncias. O médico escreveu um artigo em que pergunta: “Qual a verdadeira motivação para esse movimento que mais se caracteriza como sanha de vendeta, que se expressa em denúncias esvaziadas de sentido, em acusações perversas, subjetivas, sem materialidade?”.
Pois é, doutor. Não parece haver nenhum motivo nos depoimentos das mulheres além de restabelecer uma verdade, restaurar a dignidade, devolver a humilhação e cassar o médico que, segundo elas, um dia as beijou na boca na cama ginecológica, encostou-as com seu corpanzil na parede, passou a mão em seus seios e corpo. E, segundo algumas, as penetrou levantando o lençol que as cobria quando saíam da sedação.

Talvez os homens não entendam o alcance do sentimento
feminino de humilhação, nojo e culpa

Entre as 39 mulheres que já relataram crimes sexuais na clínica de Abdelmassih, umas conseguiram ter filhos, outras não. O tratamento de fertilização na clínica pode custar R$ 200 mil, dependendo do tempo e da sofisticação. A primeira acusação de abuso, em abril de 2008, não foi de uma ex-paciente, mas de uma ex-funcionária. Natural.
As pacientes só ganharam coragem para se confessar vítimas quando houve uma denúncia séria do Ministério Público. Elas não estavam mais sozinhas. A cena sem testemunhas – “subjetiva e sem materialidade”, nas palavras do médico – poderia vir a público com menos danos morais. Já não seria a palavra de uma mulher anônima contra a palavra de um médico rico, poderoso e influente.
O advogado de defesa alega que o número é irrisório diante das 20 mil pacientes que o médico tratou na vida. Eu me pergunto se o número importa para a acusação de crime. Talvez importe para uma conclusão de distúrbio de personalidade. Um homicida é tratado de modo diferente de um serial killer. Mas um médico que trai a confiança e aproveita a vulnerabilidade de uma paciente, uma só que seja, para atacá-la sexualmente deveria rasgar seu diploma.
Uma ex-paciente de Abdelmassih me contou o que sentiu: “No dia da inoculação, eu estava deitada na cama ginecológica, o doutor Roger entrou. Pegou na minha mão e disse: ‘Não se preocupe, vou fazer meu máximo, vou te dar este presente’. Era o momento de maior ansiedade no tratamento. Ele se debruçou e pensei que fosse falar ao meu ouvido, mas me beijou na boca. Não foi um selinho. Ele colocou a língua. Não correspondi, mas fui pega de surpresa, e depois pensei: ‘Por que não falei: seu louco, para com isso!’. Ao sair, meu companheiro perguntou: ‘Tudo bem?’. Fiquei muda, com medo de ele fazer um escândalo na clínica. Se denunciasse, temia ser acusada de ter dado brecha para ele. Tive vergonha. E me culpei de não ter reagido. Mas entendi por que me sentia intimidada”.
No consultório, disse ela, Abdelmassih tem porta-retratos com a mulher, o filho e parece muito sério. Volta e meia anda com um padre pelos corredores, o que reforça sua aura de respeito.

RUTH DE AQUINO


Revista Época


Últimos comentários enviados por leitores do blog sobre o caso:
Anônimo disse...
Tomara que ele tenha o bom senso de manter esse monstro na prisão.A ele deve ser dado o mesmo tratamento dispensado ao médico pedófilo, que continua firme e forte na prisão e por lá deverá encerrar seus dias.

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "MAIS SOBRE O CASO ROGER ABDELMASSIH": Viram como funciona sim a justiça?Gente, Deus está no controle de tudo.Quem diz que a justiça funciona nos casos de pessoas pobres está enganado.É só esperar o tempo certo!Vcs ainda ñ viram nada, Deus fará uma limpeza nesta nação.Vai ser um escândalo atrás do outro, principalmente na classe médica.

Anônimo disse...
enfim um peixe grande atrás das grades.

Anônimo disse...
MARIA DO SOCORRO MELO CORDEIRO TENHO LIDO TODAS AS ACUSAÇÔES SOBRE ESTE MONSTRO CADEIA PRA ELA È O MINIMO QUE SEPODE FAZER POR ELE.

Anônimo disse...
Ele é um monstro. No laboratório pedia para trocar o material genético,caso a paciente vinha de outro colega com insucesso. Investiguem os geneticistas do laboratório desse despota. Façam DNA e verão a prova. É pior q Hitler. Paredão para ele. Essa é a única justiça. Todos q trabalham ou trabalharam no laboratório da clínica, sabem!!!

6 comentários:

  1. Uma mensagem de paz:

    Se vc foi paciente do Dr. Roger e, assim como eu, NÃO FOI LESADA
    Quer compartilhar sua história com pessoas que passaram pelo mesmo que você?
    Quer ter com quem conversar nesses tempos de confusão?
    Gostaria de integrar um Grupo de Ajuda Mútua?

    Eu pedi para Clínica disponibilizar meu e-mail pessoal para você, que foi paciente do Dr. Roger e está feliz com o resultado. Eu preciso falar com alguém que passou por tudo. Meu objetivo é formar um Grupo de Ajuda Mútua composto de pacientes que NÃO foram lesadas e gostariam de se apoiar mutuamente neste momento de tensão, sem desqualificar nem atacar nem processar ninguém.

    O importante seria a ajuda emocional mútua, e nossos depoimentos, nossas verdades, sem julgar o Dr. Roger nem às mulheres supostas vítimas, pois isso cabe à Justiça, e é lá que isso será resolvido.

    Mas e nós, que estamos assistindo a tudo isso? Conseguimos ficar impassíveis? O mais importante AGORA é que nós nos apoiemos mutuamente e protejamos NOSSOS amados FILHOS.

    Eu gostaria de poder participar de um grupo como este, que poderia ter características de um grupo de Anônimos. Ou seja, nós seríamos anônimas, mas o grupo não. E preciso expressar minha verdade.

    O meu depoimento é o seguinte: Fui tratada com respeito por todos, inclusive o próprio Dr. Roger. Fiz o tratamento consciente dos riscos. Não fui enganada. Assinei papéis após leitura e após ter sido avisada de tudo. Estava consciente de tudo o tempo. Durante a extração dos óvulos havia pelo menos 4 pessoas na sala. Nunca fiquei sozinha com o Dr. Roger e nunca me senti atacada nem assediada. Paguei o preço financeiro, emocional e físico. Caro sim; me endividei. Fiquei vulnerável. Tive medo. Mas tive esperança. E apoio. Precisei de financiamento para o tratamento. Eu escolhi pagar. Eu decidi que ter meu filho era mais importante. Valia mais. Eu queria meu filho e hoje eu tenho um filho. Estou feliz. Sou mãe. Meu filho É meu filho amado, em qualquer hipótese e circunstância. Mas preciso de pessoas que passaram pelo processo para podermos compartilhar nossas histórias. Nossas belas histórias de força e coragem.

    Eu gostaria de me unir a você neste momento. Precisamos nos unir. Precisamos que nosso amor por nossos filhos se transforme em ação que os ajude e os proteja.

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  2. eu tambem tive meu filho com dr.roger, fui tratada com respeito nunca fui molestada, e estou confusa com o que esta acontecendo, pois para mim é dificil acreditar que ele nao era a pessoa que achei que fosse, estou feliz com meu filho, e peco a Deus que proteja nossos filhos (nascidos da fertilizacao) dessa exposicao na imprensa

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  3. Cara mãe do comentário de 24 de agosto de 2009 20:04. Por favor, procure a Clínica e peça ao Dr. Paulo Tudech para que ele lhe forneça meu e-mail pessoal. Eu atorizei que ele fornecesse a quem quisesse contato com outra mãe preocupada com o filho. Meu nome é Priscilla e ontem mesmo, 24/08 falei com ele por telefone e também passei uma mensagem autorizando o fornecimento de meu endereço eletrônico.

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  4. Atenção pais que tiveram filho(s) na clínica do Dr Roger, façam o exame de DNA, pois esse(s) filho(s) pode(m) ser(em) de outras pessoas.

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  5. Eu tenho certeza que todos os que trataram com o Dr Roger e conseguiram ter os seus filhos, estão correndo em massa p/ fazer o exame de DNA... isso deve gerar uma angustia...

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  6. ACREDITEM SE QUISER, MAS É FATO, ESTE CASO É VERDADEIRO. TODAS AS PROVAS ESTÃO NOS ALTOS. VCS NAO QUEREM ACREDITAR PORQUE SENDO ASSIM É MAIS FACIL. A DOR DESTAS PESSOAS LEZADAS É IRREPARAVEL. SÓ TENDO UMA PROVA MUITO , MAS MUITO GRAVE PARA ELE AINDA ESTAR PRESO , VCS NAO ACHAM..............???????????????????

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