Estudo brasileiro mapeou as principais áreas para conservação desse grupo de animais no mundo, levando em conta questões econômicas
Pesquisadores brasileiros mapearam as áreas prioritárias para conservação de animais carnívoros no planeta, levando em conta questões não só ambientais, mas econômicas, como o custo da terra para demarcação de áreas protegidas.
No Brasil, os melhores negócios estão no cerrado, bioma que concentra grande número de espécies vulneráveis e onde a terra é relativamente barata, comparada a outros lugares do mundo.
"Muitas decisões sobre conservação dependem de fatores econômicos. Por isso nossa análise considera o gasto com aquisição de terras para identificar áreas onde é possível proteger o maior número de espécies pelo menor custo", disse ao Estado o pesquisador Rafael Loyola, coordenador do Laboratório de Ecologia Aplicada e Conservação da Universidade Federal de Goiás, que liderou o estudo, publicado hoje na revista científica PLoS One.
O mapa final, que sintetiza o trabalho, identifica 41 ecorregiões como áreas prioritárias para a conservação de carnívoros terrestres. Entre elas, o sul da China, onde vive o tigre-de-bengala, e várias florestas e savanas africanas, onde moram espécies emblemáticas como o leão, a hiena e o guepardo. O cerrado brasileiro aparece como uma grande mancha vermelha habitada por onças-pintadas, lobos-guarás, ariranhas, jaguatiricas, cachorros-vinagres e outros carnívoros da biodiversidade brasileira. Muitos desses animais existem também nos outros biomas, como a Amazônia e a Mata Atlântica, mas os pesquisadores consideraram, com base no custo da terra e na concentração de espécies, que o cerrado era o melhor investimento para esse grupo. "O cerrado tem melhor relação custo-benefício do que a Mata Atlântica", afirma Loyola.
O pesquisador destaca que as comparações de custo foram feitas em escala global, sem considerar disparidades regionais dentro de cada país. O intuito, diz, é orientar os investimentos de organizações internacionais com atuação global, como as grandes ONGs e o Fundo Mundial para o Meio Ambiente.
HOTSPOTS
O estudo segue uma lógica semelhante à dos "hotspot", um conceito criado no fim da década de 1980 para definir áreas prioritárias de conservação da biodiversidade, com base no números de espécies endêmicas e do grau de destruição de cada bioma. Porém, tenta ser mais pragmático ao incorporar questões econômicas na balança. "É uma avaliação que se aproxima mais da formulação de políticas realistas", diz o ecólogo Thomas Lewinsohn, da Universidade Estadual de Campinas, que também assina o estudo.
Outra diferença com relação aos hotspots é que o estudo não leva em conta o nível de pressão antrópica (humana) sobre as regiões. Em vez disso, calcula a vulnerabilidade dos bicho com base nas características biológicas de cada espécie.
Apesar da aparência feroz, os carnívoros são considerados animais muito vulneráveis porque são grandes, têm um tempo de reprodução longo, geram ninhadas pequenas e precisam de grandes áreas para sobreviver. "São bichos biologicamente predispostos à extinção", sentencia Loyola.
Estadão
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