terça-feira, 25 de agosto de 2009

Roger Abdelmassih vai para o presídio de Tremembé


Roger Abdelmassih vai para o presídio de Tremembé, no interior de São Paulo

SÃO PAULO - O médico Roger Abdelmassih está sendo transferido para o presídio de Tremembé, no interior de São Paulo. No local, estão presos também Alexandre Nardoni, que é acusado de matar a filha Isabella Nardoni, e Lindemberg Alves, que matou a ex-namorada Eloá Pimentel, de 15 anos, após um sequestro que durou 100 horas. Abdelmassih, de 65 anos, estava preso, desde o dia 17 de agosto, no 40º Distrito Policial, em Vila Santa Maria, na zona norte da capital, onde ficam os presos com nível superior da cidade. Ele é acusado de estupro e atentado violento ao pudor contra 56 mulheres, a maioria ex-pacientes. Depois da denúncia, outras cinco pacientes procuraram a polícia para depor contra o médico.
Na noite desta segunda-feira, a ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou pedido de habeas corpus ao médico. No despacho, a ministra expõe argumentos técnicos para negar o pedido. Ela observou que o habeas corpus ainda não foi julgado no mérito pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e, por isso, o Supremo não poderia examinar o pedido neste momento. Agora, o médico dependerá do STJ que, no fim de semana, já negou o pedido em liminar (caráter provisório) para aguardar o julgamento em liberdade. Não há previsão de quando o pedido será julgado de forma definitiva pelo STJ.
O Ministério Público abriu um segundo inquérito para investigar Abdelmassih. A suspeita é de que o médico mantinha em sua clínica, nos Jardins, em São Paulo, um banco clandestino de óvulos e espermatozóides. Os promotores vão investigar se ele adotava práticas ilegais de fertilização. Neste domingo, o engenheiro químico Paulo Henrique Ferraz Bastos afirmou em entrevista ao "Fantástico" ter colaborado por mais de dois anos com Abdelmassih e fez acusações ao médico.
Segundo Ferraz Bastos, a empresa da qual era sócio fazia pesquisas genéticas com animais, mas passou a trabalhar também com fertilidade humana quando foi contratada pelo médico.
- Me incomodava bastante o fato de uma parte das pesquisas da minha empresa veterinária ter sido deslocada para uma clínica de humanos. Quer dizer, culturas de células animais sendo trabalhadas em uma clínica humana - diz.
O engenheiro diz que tinha acesso aos laboratórios da clínica, mas achava que muita coisa ali estava errada.
- Existem pesquisas na clínica do doutor Roger que são escandalosas. Por isso, eu fui contra e briguei com eles, por uma questão ética - diz.
De acordo com o depoimento de uma paciente à polícia, o doutor Roger chegou a propor embriões compatíveis com as suas características físicas da paciente e do marido, do mesmo tipo sanguíneo. A mulher perguntou de quem seria o embrião. E ele respondeu, já impaciente, que isso era com ele, já que era a "parte médica". Ele teria dito que todas as pessoas na clínica eram de "alto nível" e não seria nenhum embrião de nenhuma "neguinha de rua".
Outra prática polêmica é a transferência de citoplasma. Funciona assim: pega-se um óvulo fértil, geralmente de uma mulher mais jovem, e se retira o citoplasma, uma espécie de gel que fica dentro da célula e tem varias estruturas, que fazem o óvulo funcionar. O citoplasma é injetado no óvulo da paciente com dificuldade pra engravidar.
- Palavras dele: 'Você turbina o seu óvulo com parte do citoplasma do óvulo de uma mulher mais nova. A chance de nascer com DNA de outra mulher seria mínima" - denuncia uma paciente.
A técnica foi proibida nos Estados Unidos em 2001. No Brasil, a resolução do Conselho Federal de Medicina, de 1992, não menciona a transferência de citoplasma, pois ela só seria desenvolvida quatro anos depois. O texto estabelece que deve haver sigilo sobre a identidade dos doadores de óvulos, espermatozóides e pré-embriões e que é sempre necessária a aprovação do cônjuge ou companheiro para um tratamento de reprodução assistida. A defesa do médico nega qualquer tipo de prática ilícita ou feita sem o conhecimento dos pacientes.

Fonte: O Globo

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