segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Maridos de vítimas de Roger Abdelmassih procuram polícia para denunciar


SÃO PAULO - Desde o dia 17 de agosto, quando o médico Roger Abdelmassih, de 65 anos, teve a prisão preventiva decretada, acusado de violentar sexualmente 61 ex-pacientes, denúncias contra ele não param de chegar à 1ª Delegacia da Mulher da capital paulista. Porém, o que mais chama a atenção da delegada Celi Paulino Carlota, que investiga o caso, é a quantidade de telefonemas de maridos de vítimas que ela tem recebido.
- Eles dizem que suas companheiras foram vítimas do doutor Roger e querem saber como formalizar a queixa contra ele - diz a delegada.
A atitude dos maridos de vítimas deixa Celi satisfeita.
- Isso representa a quebra de um pensamento machista, de que a mulher que sofre abuso sexual poderia estar se insinuando para o agressor. Eles passam a acreditar nelas - afirma Celi.
- Ele não pode ficar impune depois do mal que causou a tantas famílias. Aproveitou-se de um momento delicado, da fragilidade de quem está em busca de uma vida para agir de forma sórdida - afirma o empresário Celso Sebranic.
Sebranic diz que sua mulher, Ivanilde, foi violentada duas vezes pelo médico, quando fazia tratamento para engravidar. Na primeira, ele teria tentado beijá-la à força. Na outra, ao voltar da sedação, ela teria visto o médico ao lado dela, com a calça arriada. O órgão sexual do médico estava nas mãos dela.
- Soube dos fatos algum tempo depois. Estávamos em nossa chácara, a mais de 150 quilômetros de São Paulo. Na hora, minha vontade era pegar o carro e invadir a clínica. Só não o denunciamos antes porque achávamos que, por ele ser famoso, ninguém acreditaria - diz o empresário.
Sebranic diz que em nenhum momento duvidou de sua mulher.
- Mas sei de muitos casais que se separaram ou hoje têm dúvidas em relação à paternidade de seus filhos - lamenta.
Ele e Ivanilde procuraram outra clínica e tiveram trigêmeos. Outro casal, morador de Teresina, no Piauí, diz que ficou traumatizado com a violência do médico e que por isso desistiu de ter filhos.
- Fomos atrás de um sonho e encontramos um pesadelo - diz o empresário Pedro (nome fictício), que, junto com a mulher, procurarou a clínica de Abdelmassih em 2004.
- No primeiro dia, o doutor Roger falou que a minha mulher, então com 24 anos, parecia miss - lembra.
O pior teria acontecido quando ela estava sedada.
- Ele a beijou no rosto, mesmo sabendo que eu a esperava no andar térreo - diz.
Pedro conta que sua mulher chegou à recepção cambaleando e assustada.
- Na hora, não acreditei no que ela dizia - conta Pedro.
Segundo ele, o casamento só não acabou porque o amor foi mais forte.
- Mas tivemos brigas violentas e até hoje fazemos terapia - afirma.
O médico divide a carceragem do 40º Distrito Policial, no bairro de Vila Santa Maria, na zona norte da capital, com outros cinco presos. Ele teve o pedido de liberdade negado na Justiça paulista e no Superior Tribunal de Justiça. Na próxima semana, a defesa do médico deve entrar com recurso no Supremo Tribunal Federal. Mesmo que ganhe a liberdade, o médico está proibido de exercer a profissão. Ele teve o registro médico suspenso pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo, que instaurou 51 processos éticos contra Abdelmassih. Colegas estão perplexos
Colegas da turma de 1963 da Faculdade de Medicina da Unicamp, formados com o médico Roger Abdelmassih, estão perplexos com as denúncias de abuso sexual.
- Estou chocado. Tenho vivido dias de muita tensão por causa disso. O Roger sempre foi um amigo querido e fica difícil acreditar. Se for realmente verdade, ele sofre de uma patologia - diz um ex-companheiro, que prefere não se identificar.
As denúncias também preocupam a Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, entidade à qual Abdelmassih é associado.
- Do ponto de vista científico, não há queixas contra ele. A questão é ética e, por isso, nos deixa perplexos. As denúncias trouxeram resultados muito ruins, porque respingam por toda classe médica e pela sociedade - diz o presidente da entidade, Waldemar Naves do Amaral.
Um levantamento do psicólogo forense Daniel Martins de Barros revela que apenas 4% dos estupradores têm transtornos psiquiátricos.
- O crime não é sintoma psicológico, mas fator social. A maldade existe. Porém, para as pessoas, é mais fácil buscar uma explicação na psicologia do que aceitar a realidade - diz.



O Globo

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