sábado, 29 de agosto de 2009

UFF abre sindicância sobre trote que envolveria sexo oral


O reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Roberto Salles, anunciou segunda-feira que foi montada uma comissão da faculdade de Direito para apurar a denúncia de uma caloura que teria sido vítima de um trote violento aplicado por um grupo de oito veteranos. Na última quarta-feira, eles teriam tentado obrigar algumas alunas a fazerem sexo oral ou beijá-los na boca em troca de não irem às ruas arrecadar a quantia de R$ 250.
"A comissão irá convocar todos os alunos que participaram do trote para depor", disse o reitor da faculdade, que, no domingo, repudiou em nota atitudes agressivas dos estudantes. O caso teve grande repercussão entre estudantes e professores de universidades do Rio, que se perguntam em que momento a tradicional brincadeira de início de curso começa a ficar perigosa.
De acordo com Salles, os ritos de recepção aos calouros vêm sendo mudados e hoje em dia a maioria das faculdades optam pelo projeto Trote Cultural UFF, que leva o aluno a doar sangue, alimentos e fazer algumas atividades relacionadas ao meio ambiente. "Os alunos que insistem em dar esse tipo de trote são minoria aqui", acrescentou.

Etapa importante


Para o professor da faculdade de medicina da UFF, Armando Pires, a recepção aos calouros é importante para o aluno que chega à universidade. "Acreditamos que seja fundamental que o aluno assuma esse processo de apresentar a faculdade ao estudante que acabou de chegar. A gente questiona muito sobre a vinculação dos trotes à bebida alcoólica e tentamos trazê-lo para a área solidária", disse o professor, que não é a favor dos trotes.

Dignidade ignorada

O ministro Luiz Fux, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), classificou como inaceitável que estudantes de Direito desconheçam "os princípios mais elementares da Constituição". De acordo com Fux, este desconhecimento é mais grave que o atentado contra o princípio da igualdade que teria acontecido na realização do trote na UFF.
"A Constituição Federal veda essa prática, que atenta contra a isonomia e a dignidade da pessoa humana. Por que é mais grave? Entendo que não agiram com a consciência de que praticaram um crime, mas o pior é que não conhecem os primários princípios da Constituição, que são os da isonomia e da dignidade da pessoa humana".
Absurdo inconcebível é como o vice-presidente da OAB, Lauro Schuch, qualificou o trote realizado pelos estudantes. Para o advogado, é inaceitável que os alunos que tenham em seu processo de formação o respeito pela pessoa e pela dignidade humana, a luta pela garantia dos direitos individuais, possam praticar atos como o que foi noticiado.
"A prática deste tipo de ato demonstra que não estão moralmente vocacionados para uma atividade tão importante quanto a advocacia", avaliou Lauro Schuch. "Não podemos deixar de compreender a gravidade desta atitude e de dar uma resposta enérgica".

Dupla punição

Como punição para o trote, Lauro Schuch acredita que aqueles que o realizaram devem responder criminalmente e também no âmbito acadêmico. "São jovens, mas com consciência dos seus atos. Devem verificar se eles têm condições de continuar o curso", afirmou. "Praticar um ato desses é covardia. É tempo de os estudantes de Direito começarem a rever o conceito de trote, que não deve ter esse conteúdo de violência e humilhação. Há formas mais humanitárias de recepcionar calouros".

Nara Boechat e Carlos Braga
Portal Terra

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