sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O sentido depoimento da advogada abusada pelo médico



Amigo de famosos, respeitado na medicina, Roger Abdelmassih, o mais conhecido especialista em reprodução assistida do país, teve o registro suspenso e foi parar na cadeia sob a acusação de abusar de pacientes.
Sua rotina agora mudou. Desde que foi recluso e teve três habeas corpus negados, Roger Abdelmassih levanta-se, faz a barba, passa perfume e, depois, uma vassoura na cela.
Na edição desta semana da revista Veja, um excelente texto das jornalistas Bel Moherdaui, Laura Diniz e Suzana Villaverde revela detalhes novos e traz quatro depoimentos comoventes, entre os quais o de uma advogada carioca.
Nenhum homem e poucas mulheres sabem o que é o impulso consumidor da maternidade frustrada – mas todos conseguem entender de alguma forma que o desejo de ser mãe "chega a queimar por dentro, de tão intenso".
As ex-pacientes ouvidas por Veja, fazem relatos parecidos. São mulheres de classe média, com bom nível de instrução, capacidade plena de distinguir o certo do errado e, hoje, de expor com lucidez o que aconteceu. Mas queriam desesperadamente engravidar e pagaram um bom preço, em dinheiro – 30 000 reais era o valor médio cobrado pela clínica Abdelmassih por três tentativas – e principalmente em investimento emocional.
"Você saía de lá se sentindo grávida. Ele te olhava nos olhos e dizia que ia dar o seu filho", conta I.V.S. Sindicalista, ela narra ter acordado da anestesia sentindo o corpo do médico "em cima de mim, com a calça arriada e o pênis na minha mão, suja de esperma". Ela engravidou de trigêmeos em outra clínica e até hoje teme que "meus filhos achem que precisei passar por isso para tê-los".
Por motivos parecidos, na maioria dos casos, as ex-pacientes não interromperam o tratamento mesmo diante das investidas que denunciam. Até os maridos a quem contavam os avanços se sentiam intimidados, tanto pelos filhos que almejavam ter com o tratamento quanto pela importância profissional e social de Abdelmassih, cuja clínica fica num casarão imponente num dos lugares mais caros de São Paulo, hoje com trinta funcionários – já chegou a ter 45 antes das denúncias – e pesquisadores brasileiros e estrangeiros.
O caso contra Abdelmassih foi iniciado por uma ex-funcionária da clínica, que procurou o Ministério Público de São Paulo querendo prestar depoimento contra ele. O testemunho dela estava comprometido – a certa altura, tentara chantagear o médico. Mas as pacientes cujo nome ela deu foram confirmando o que se configurou como uma cadeia de abusos.
Com a divulgação das denúncias, mais mulheres se apresentaram espontaneamente com histórias semelhantes: achavam que haviam sido as únicas e carregavam sentimentos de culpa, ressentimento e impotência. Algumas acabaram o casamento; outras, que conseguiram engravidar, temiam que fossem lançadas sombras terríveis sobre a geração de seus filhos. Mas, ao perceberem que havia mulheres em situação parecida, sentiram-se encorajadas a vir a público.

Depoimento

"Enquanto meu marido assinava um cheque, o doutor Roger me puxou para dentro de uma sala. Tentou me beijar e enfiou a mão dentro da minha blusa. Saí correndo".
"No dia da aspiração dos óvulos, acordei da sedação e o doutor Roger estava me abraçando e me dando parabéns. Depois, começou a me lamber. Dizia ‘você é linda, é muito especial, vem cá’, enquanto colocava a mão no meu peito por dentro do avental.
Também pôs o pênis para fora e levou minha mão até lá. Colocou um dedo dentro da minha vagina. Eu estava confusa e fraca, me joguei no banheiro e tranquei a porta.
Ele batia e dizia: ‘Sai, carioca, vai ser muito bom pra você’. Pensei em fazer escândalo, mas também pensava que meus filhos já estavam ali dentro da clínica. Enquanto meu marido assinava um cheque, o doutor Roger me puxou para dentro de uma sala. Tentou me beijar e enfiou a mão dentro da minha blusa. Saí correndo.
Passei a noite tomando banho e fingindo estar com dor. Engravidei, mas perdi pouco depois. Na segunda tentativa, ao encontrar o doutor Roger no corredor, saí correndo e não quis voltar nunca mais. Não procurei outro tratamento e não fui mais a médico homem.
Quando li as primeiras denúncias na imprensa, comecei a chorar e decidi contar para o meu marido, apesar do medo de que ele fosse ter nojo de mim. Ele disse que estava ao meu lado.
Antes de denunciar, não me sentia digna porque não estava fazendo a minha parte, que era falar, para impedir que outras mulheres sofressem. Só no dia do meu depoimento consegui fazer uma oração de novo."

C., 37 anos, advogada - Rio de Janeiro (RJ).

Fonte: Espaço Vital

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