terça-feira, 25 de agosto de 2009

Médico de fertilização humana é acusado de usar células de animais


Roger Abdelmassih, o especialista em reprodução humana assistida mais conhecido do país, manipulava em sua clínica culturas de células de animais cultivadas por uma empresa de pesquisas veterinárias. A denúncia é do engenheiro químico Paulo Henrique Ferraz Bastos (foto), sócio dessa empresa do interior paulista que prestou serviços à clínica de Abdelmassih por mais de dois anos.
O engenheiro disse que rompeu o contrato com o médico porque lhe incomodava ter as suas pesquisas feitas com animais sendo aproveitadas por uma clínica de fertilização de humanos.
Ao dar entrevistas ao Fantástico que foi apresentado ontem à noite, Bastos não entrou em detalhes sobre o serviço que prestou a Abdelmassih. Não revelou, por exemplo, os animais de suas pesquisas.
Uma ex-paciente do médico contou a este blog que ficou sabendo em março deste ano de Bastos que a clínica de Abdelmassih fazia experiências em mulheres com células de animais. “Ele [Bastos] me disse que coisas terríveis aconteciam lá”, afirmou essa ex-paciente, que é uma das que acusam Abdelmassih de abuso sexual.
O ginecologista Vicente, filho de Abdelmassih, era um dos contatos entre a clínica e a empresa veterinária.
Bastos falou ao Fantástico que teve de mudar de cidade porque, para não contar o que sabe, foi ameaçado de morte. “Me falaram que no Brasil é muito fácil ser assassinado.”
O MPE (Ministério Público Estadual) de São Paulo, que denunciou (acusou formalmente) Abdelmassih à Justiça por estupro e atentado violento ao pudor, agora investiga se a clínica faz manipulação genética indevida. Bastos será chamado para depor.
Recentemente, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) inspecionou os laboratórios da clínica, mas não se sabe se constatou alguma irregularidade. O órgão só decidiu suspender o registro profissional de Abdelmassih depois que a Justiça negou um pedido de habeas corpus – o médico está preso desde o dia 17 deste mês. Dias antes, a maioria dos conselheiros do órgão tinha rejeitado uma proposta de afastar temporariamente Abdelmassih de suas atividades.
Pelo depoimento de ex-pacientes, a clínica pode ter mantido um banco clandestino de óvulos e de espermas. Se essa informação for confirmada, o Ministério Público vai quer saber como a clínica obtinha tais células, se, no caso dos óvulos, das próprias pacientes, sem que elas soubessem, o que seria furto, ou se de jovens sob pagamento.
Há o caso de um empresário do Espírito Santo que descobriu com exame de DNA que os gêmeos que sua mulher teve por intermédio de tratamento com Abdelmassih foram fecundados com o esperma de um doador.
A Polícia Civil e o Ministério Público têm relatos de ex-pacientes segundo os quais, a mulheres de mais idade, o médico oferecia o uso de citoplasma (células que envolvem o núcleo do óvulo) de jovens, para aumentar a probabilidade de fertilização.
A uma paciente a quem propôs “turbinar o óvulo”, o médico disse que o marido dela não precisava saber do procedimento. A paciente perguntou de quem seria o citoplasma. Abdelmassih, irritado, teria respondido que não era de “nenhuma neguinha de rua”.
Filhos de óvulos turbinados podem ter o DNA da mulher cujo citoplasma foi usado na fertilização, além o dos pais.
Abdelmassih sempre se vangloriou de obter uma taxa de êxito em fertilizações maior do que a de seus concorrentes, os quais ele chama de “invejosos”.
Os advogados do médico ainda não apresentaram à Justiça a defesa que estão preparando para refutar cada uma das acusações. Eles estão solicitando de algumas ex-pacientes testemunho em favor do médico.
Sobre a quantidade de mulheres que acusam Abdelmassih de assédio sexual – o total agora é de 65 e pode subir mais nos próximos dias --, o principal argumento dos advogados do médico será de que ex-pacientes oportunistas estão querer montar “uma indústria de indenização”.


Paulopes Weblog

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