sexta-feira, 31 de julho de 2009

De onde vem?

Recentemente, um desses muitos e-mails que circulam diariamente pela internet me chamou a atenção. A mensagem eletrônica trazia uma menina, por volta dos cinco anos, ajoelhada aos pés da cama e rezando. Na oração, ela pedia, de olhinhos fechados, para que o “Papai do Céu” providenciasse roupas para as mulheres nuas do computador do papai. Engraçado? Seria, se não fosse trágico.
Tornaram-se rotina as notícias de pedofilia no País. A sociedade, alarmada, questiona a natureza de ato tão promíscuo e vergonhoso para um povo que acredita ser civilizado, em pleno século 21. De onde vem tal comportamento doentio ou criminoso? O que leva um adulto, próximo da família ou não, a violentar a integridade física e moral de uma criança, tão dependente, em todos os aspectos, de formação e sobrevivência, daqueles considerados aptos para a autonomia da vida em sociedade?
Para cada caso em particular, buscamos o fio condutor da explicação, se é que essa existe. No entanto, existem fatores no tecido social que, de uma forma geral, formam a consciência coletiva e modelam comportamentos. Um desses fatores são aquelas atitudes ocultas, nem sempre consideradas ou percebidas como construtoras da personalidade de cada sujeito.
Instituiu-se, nas relações humanas, um círculo vicioso de erotismo precoce ou não tão precoce assim. Cenas dessa qualidade são corriqueiras, mas altamente estimuladoras para um ambiente propício para a pedofilia.
Quantas vezes o adulto, na categoria de pai, tio, avô, padrasto ou outro, segurando a criança pela mão, para em frente a uma banca de revista e admira, boquiaberto, a capa da “Playboy” do mês? Quantas vezes, o adulto – mulher ou homem –, em poder do controle remoto da televisão, viaja entre os canais e para naquele que exibe cenas pornográficas?
É comum, também, o pai ou outro adulto próximo admirar com entusiasmo as belas dançarinas que esbanjam “saúde” em pleno horário nobre da televisão. A menininha olha de soslaio e, para associar admiração com amor, é um passo. “Se meu pai acha essa moça linda, quero ser assim também. Logo, meu pai também me amará”.
O que está acontecendo no atual momento histórico é grave e merece uma postura ética e coerente com os valores de cada família, desde que sejam íntegros e contribuam para o bem comum. Invadir a mente e o físico de uma criança é retroceder na escala da evolução humana. Quando é feito por meio da violência sexual, o caso é pior. Dizemos que os tempos são outros, mas parece que caminhamos em direção às cavernas. Quem casava com 14, 13 ou 12 anos eram nossas avós, numa época em que a única possibilidade de vida existente era cuidar da casa e ter filhos, muitos filhos. Numa época em que a média de vida era bem mais baixa que a que temos agora.
Hoje, temos a palavra pedofilia presente em nosso vocabulário, em nossas vidas. É um mal do nosso século. Se antes existia, era na surdina ou não recebia a conotação de violência, até porque casar era uma bênção, antes que as mocinhas ficassem velhas demais.
Ainda bem que nossas avós fizeram isso por nós. Hoje, podemos nos desenvolver física e intelectualmente, de forma mais completa, antes de iniciar a vida sexual, mas parece que isso não está muito claro.
O primeiro namorado, aos 13, 14, 15 anos, já dorme em casa, com consentimento da família, tendo como validação para o fato a violência que ronda as ruas. Meninas, antes dos dez anos, fazem as unhas, usam maquiagem e tamanquinhos. Tudo para ficar bonita, igual àquela moça da televisão que rebola e é admirada.
Meninas de 11 anos dão à luz outras crianças. Corpos de mãe e feto competem em nutrientes, pois ambos estão em formação. A questão dos nutrientes até que se resolve. A de sonhos, relação familiar e social, é bem mais complicada.
Pobres crianças! Vítimas de uma cultura vulgar e hipócrita, na qual o povo que a possui condena a quem, delinquentemente, estraçalha com sonhos. Enquanto condena, esquece de perceber sua própria contribuição, mesmo que sutil, a um ato que corrói nossa história e evolução humana.

Elizete Feliponi
Professora e estudante de neuropsicopedagogia



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