terça-feira, 28 de julho de 2009

Método auxilia na educação de crianças em situação de risco


A técnica será adotada, a partir de agosto, em 147 colégios municipais do Rio de Janeiro em zonas de risco, e estimula o cérebro dos alunos com muita conversa e alternância de atividades

O trauma da ameaça constante das crianças que vivem em zonas de risco se reflete nas salas de aula. Elas têm dificuldade de aprender, de memorizar, de se concentrar. São meninos e meninas com um grande histórico de perdas: de familiares, colegas, vizinhos. Aulas tradicionais não conseguem convencê-los de que é importante estudar, até para se defender melhor na vida. Prova disso é que o analfabetismo funcional, alunos que mal entendem o que está escrito e tampouco escrevem direito, é maior nessas áreas. Chega a 19,2%, enquanto a média da rede pública é de 14,6%. A boa nova é que métodos especiais conseguem vencer o trauma. A artista plástica carioca Yvonne Bezerra de Mello, conhecida por realizar trabalhos solidários com crianças e adolescentes em situação de rua, criou uma metodologia de ensino para quem ficou traumatizado por troca de tiros, agressões físicas, abandono e privações. A técnica será adotada, a partir de agosto, em 147 colégios municipais do Rio de Janeiro em zonas de risco. “Nosso objetivo é melhorar o aproveitamento das crianças”, diz a secretária municipal de Educação, Cláudia Costin. “Conheci o trabalho da Yvonne ao pesquisar métodos de ensino alternativos no Brasil e o sistema dela se mostrou o mais adequado”, declarou. O que será feito na rede municipal carioca foi testado no projeto Uerê, que Yvonne, doutora em políticas públicas e direitos humanos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Loyola Univesity, de Chicago, coordena desde 1998 e que atende estudantes com problemas de aprendizado na favela da Maré. “As experiências vão se acumulando na cabeça dessas crianças como se fosse uma lata de lixo, impedindo que o cérebro funcione normalmente”, afirma a pesquisadora. A metodologia já foi testada, inclusive, fora do Brasil, em zonas de conflito na África. Por conta dos resultados, Yvonne recebeu o Prêmio Paz no Mundo e Cidadania, da União Europeia, em 2007.

O método - Há casos de jovens que chegam ao Uerê tomando remédios para problemas neurológicos ou psiquiátricos. “Infelizmente, é comum que os professores façam esses diagnósticos”, diz a psicóloga escolar Vera Lúcia Trindade, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Falta de concentração, dificuldade de memorização, irritabilidade, agressividade, problemas de audição e dores pelo corpo são alguns dos sinais apresentados por crianças que vivem em áreas de risco. A nova metodologia estimula o cérebro dos alunos com muita conversa e alternância de atividades. A aula começa com um bate-papo. Os alunos falam sobre as coisas boas e ruins do dia anterior, afastando as más lembranças e liberando a cabeça para o aprendizado. O tema da violência aparece com frequência. O quadro-negro quase não é usado, e o conteúdo é transmitido oralmente, como se o educador estivesse contando uma história. Cada aula não dura mais do que 30 minutos. “É preferível abrir mão de detalhes, mas ter certeza de que as crianças vão absorver o conhecimento”, argumenta. Os alunos só escrevem na hora de resolver os exercícios em sala de aula. Não há dever de casa. A implementação do novo método será feita aos poucos. “Será a primeira aplicação da metodologia em larga escala e esperamos melhorar o aproveitamento dessas crianças”, conclui a secretária municipal Cláudia Costin.

Fonte:Revista Istoé, Adriana Prado
Retirado da ANDI
Foto: "Contraste da Educação" por Claiton Viana - Amazonas (Olhares.com)

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